Ruairidh Duncan / Museums Victoria

Baleia préhistórica Janjucetus dullardi com a sua cria, conceito artístico
Das margens sudeste da Austrália, surgiu um fóssil que revelou uma nova espécie de baleia-de-barbas pré-histórica, nunca antes vista.
Há cerca de 26 milhões de anos, uma baleia do género mammalodontidae, de que fazem parte as baleias-de-barbas, nadava nas águas em torno do continente austral, usando os seus grandes olhos e dentes afiados como lâminas para dominar o seu pequeno território oceânico.
Mas há um detalhe inesperado nesta história: ao contrário das baleias que hoje reinam nos mares — entre as quais se contam alguns dos maiores animais que o mundo já conheceu — a recém-descoberta Janjucetus dullardi era minúscula, com um tamanho semelhante ao de um ser humano ou de um pinguim pré-histórico.
Na verdade, trata-se apenas de uma entre uma grande diversidade de pequenas baleias que habitavam as águas da Austrália, antes de as baleias terem começado a aumentar drasticamente de tamanho, há cerca de 5,3 milhões de anos.
A descoberta foi apresentada num artigo publicado na semana passada no Zoological Journal of the Linnean Society.
“É basicamente uma pequena baleia com olhos grandes e uma boca cheia de dentes afiados, próprios para cortar”, explica o paleontólogo Ruairidh Duncan, do Museums Victoria Research Institute e da Monash University, na Austrália, ao Science Alert.
“Imaginem uma versão de baleia de barbas em forma de tubarão — pequena e aparentemente inofensiva, mas longe de o ser”, acrescenta o investigador.
O fóssil descoberto é um achado raro: um crânio parcial, incluindo ossos do ouvido e dentes. Esse material permitiu a Duncan e à sua equipa classificar a espécie com segurança como pertencente aos mammalodontidae — um género extinto de baleias-de-barbas antigas.
A J. dullardi é apenas o quarto mammalodontidae descoberto em todo o mundo, e o terceiro identificado na formação fóssil de Jan Juc, em Victoria, Austrália. Além disso, os seus restos fósseis são os primeiros a preservar, com detalhe, tanto a dentição como a estrutura do ouvido interno.
Os investigadores acreditam que os ossos fossilizados pertenciam a uma baleia jovem, que teria cerca de 2 metros de comprimento. Em adulto, poderia ter crescido um pouco mais, mas nunca atingiria as dimensões das baleias modernas: pensa-se que os mammalodontidae atingiam no máximo 4 metros.
Esses preciosos ossos do ouvido, sublinham os cientistas, oferecem pistas fundamentais sobre a forma como a J. dullardi percebia e navegava no seu ambiente.
As baleias evoluíram de forma dramática ao longo dos milhões de anos que se seguiram ao tempo em que a J. dullardi viveu.
Por exemplo, embora os <em”>mammalodontidae sejam tecnicamente classificados como baleias de barbas, tinham dentes em vez das estruturas de barbas que as baleias modernas usam para a alimentação por filtração — o que sugere que o grupo terá divergido da linhagem principal que deu origem às baleias de barbas atuais.
Estruturas como o ouvido interno e os dentes da J. dullardi podem ajudar os cientistas a identificar outras diferenças e mudanças evolutivas. Por sua vez, isso poderá contribuir para explicar porque é que os mammalodontidae se extinguiram, enquanto outras baleias prosperaram.
“Este fóssil abre uma janela para compreender como as baleias antigas cresceram e mudaram, e de que forma a evolução moldou os seus corpos à medida que se adaptavam à vida marinha”, afirma o paleontólogo Erich Fitzgerald, do Museums Victoria Research Institute e da Monash University.
“Esta região foi, em tempos, um berço para algumas das baleias mais invulgares da história, e estamos apenas a começar a desvendar as suas histórias”.