Macron está a fazer-se de difícil perante a aproximação de Starmer à UE (e tem duas exigências)

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Teresa Suarez / EPA

Macron está a aproveitar a tentativa de reaproximação dos britânicos à UE para fazer exigências no ramo das pescas e da defesa e resolver velhos conflitos herdados do Brexit.

Com a guerra comercial de Trump a impor um travão aos planos britânicos para uma aproximação aos Estados Unidos no pós-Brexit, Keir Starmer viu-se obrigado a voltar-se outra vez para a Europa e procurar reacender os laços com a União Europeia.

No entanto, o primeiro-ministro britânico está a dar de caras com uma voz assertiva que lhe está a dificultar as negociações: Emmanuel Macron. Com uma importante cimeira entre o Reino Unido e a UE marcada para 19 de maio, em Londres, Paris está a assumir uma postura dura, exigindo concessões em matéria de defesa e pesca antes de se comprometer com uma cooperação mais profunda.

Fontes diplomáticas ouvidas pelo Politico revelam que a França, ecoando o seu papel combativo durante as negociações de saída do Brexit, insiste agora que o Reino Unido não receba quaisquer vantagens pós-Brexit. Isto inclui opor-se ao acesso britânico ao SAFE, o fundo de rearmamento de defesa da UE no valor de 150 mil milhões de euros. As autoridades francesas temem que permitir a entrada de empresas de defesa britânicas no programa possa prejudicar a sua indústria nacional e levar à perda de postos de trabalho.

Embora a França tenha se mostrado aberta a uma aliança de segurança, está a usar as negociações para revisitar tensões não resolvidas do Brexit. Em particular, quer garantias de que as frotas pesqueiras da UE manterão o acesso às águas britânicas após 2026, quando expiram as quotas atuais do Acordo de Comércio e Cooperação.

A França, juntamente com a Dinamarca e os Países Baixos, exige uma prorrogação, considerando-a uma condição essencial para uma cooperação mais ampla. Um diplomata francês resumiu o dilema de forma direta: “Não se pode negociar segurança e defesa num ano e, no ano seguinte, estar a discutir quotas de cavala”.

 

Entretanto, o Reino Unido procura um acordo tripartido com a UE ─ uma declaração política, um pacto de defesa e uma cooperação mais ampla em várias frentes. O ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, David Lammy, participou recentemente numa reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE na Polónia, onde aproveitou para ecoar a mensagem de Starmer de renovação da parceria. “Estamos a trabalhar em conjunto com os nossos aliados europeus para construir uma Europa mais segura e próspera”, afirmou.

Mas Starmer enfrenta uma pressão crescente no seu país, especialmente depois de o partido Reform UK, de Nigel Farage, ter obtido ganhos nas eleições locais. Farage, uma das principais vozes a favor do Brexit, está a fazer soar os alarmes contra a reaproximação do Reino Unido à UE — uma mensagem que pode complicar os esforços de Starmer e acender contestação interna.

Apesar da linha dura da França, alguns países da UE estão a ficar frustrados com a sua inflexibilidade. Países como a Alemanha e os Estados da Europa Oriental, que consideram a cooperação do Reino Unido vital num contexto de crescentes ameaças russas e no meio de uma guerra comercial, estão a pressionar Macron para ter  uma abordagem pragmática. Um possível compromisso pode envolver a adesão do Reino Unido à SAFE como membro pagante.

A divisão reflete divisões psicológicas mais profundas pós-Brexit: o Reino Unido vê a Europa como um parceiro, apesar de ter saído da UE, enquanto a França continua cautelosa e desconfiada, questionando a lealdade a longo prazo dos britânicos.

No entanto, os analistas dizem que a cooperação é inevitável. “Se a França e o Reino Unido não trabalharem juntos, nada acontecerá”, disse François-Joseph Schichan, ex-diplomata francês.

Adriana Peixoto, ZAP //

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