Esquema usava moradas falsas para emitir pedidos de manifestação de interesse. Funcionário da junta de freguesia terá cooperado com o crime.
Um número estranhamente alto de moradores estrangeiros estava a ser registado em certos adereços da zona da Penha da França, em Lisboa, em novembro de 2022, situação que chamou a atenção da própria presidente da junta de freguesia.
A autarca decidiu, então, alertar a Polícia Judiciária, que deu início a uma investigação sobre o caso. Por trás do assunto estava, afinal, uma rede criminosa que, em poucos meses, lucrou com o esquema pelo menos 260 mil euros (só para o cabecilha, um homem asiático de 49 anos residente em Lisboa), conta o Expresso.
O objetivo era atestar que os imigrantes vivam em território nacional, o que lhes garantiria a legalização no país. Para isso, a rede dava dinheiro —algumas dezenas de euros — a moradores da Penha da França em troca do registo das suas moradas. Há testemunhas com mias de 1400 assinaturas.
E o esquema utilizava mesmo intermediários. De origem indostânica, esses intermediários sentavam-se no café à procura de habitantes que se disponibilizassem a fornecer a sua morada. Estes “recrutados” eram essencialmente famílias portuguesas com baixos rendimentos.
Depois, com a residência definida, era fácil arrancar com o pedido de manifestação de interesse dos “clientes” da rede criminosa, indivíduos originários do Paquistão e do Bangladesh. A rede operava desde janeiro de 2020.
O resultado? Em dois andares de um prédio na rua Penha de França “viviam”, de acordo com os registos, 4349 pessoas. Só este exemplo terá rendido 200 mil euros aos moradores “verdadeiros” destas habitações.
Agora, arranja o julgamento, esta terça feira, de 30 arguidos no processo. São acusados de falsificação de documentos e auxílio à imigração ilegal.
Entre estes arguidos, encontra-se inclusivamente um funcionário da junta de freguesia, que terá compactuado com o esquema, funcionando como facilitador. Terá emitido aos imigrantes ilegais atestados mesmo sem ter os documentos essenciais.
Em 2023, um dos intermediário ainda não tinha abandonado o negócio, mesmo coma. investigação já em curso. Apenas mudou o local onde operava para o Arreiro — foi novamente apanhado.