Um momento que parecia de râguebi, que até podia ser engraçado – mas foi de tensão e que ilustra um problema sério no país.
Já vimos muitas formas de se interromper uma sessão num Parlamento. Mas esta é particular.
Nesta quinta-feira estava a decorrer um plenário no Parlamento da Nova Zelândia quando algo inesperado aconteceu.
A deputada maori Hana-Rawhiti Maipi-Clarke estava a falar quando rasgou uma cópia de um projecto-de-lei. Em simultâneo, começou…o haka.
A famosa dança típica do povo Maori tomou conta do Parlamento: dezenas de deputados levantaram-se e ainda houve apoio por parte de muitas pessoas que assistiam à sessão nas galerias.
A sessão foi suspensa durante praticamente 30 minutos. O comportamento da deputada que iniciou o protesto foi considerado um momento de desordem, desrespeitoso e premeditado. A deputada foi suspensa, mas durante apenas 24 horas.
Foi um momento de tensão que ilustra as divergências raciais no país.
O projecto-de-lei que a deputada rasgou é controverso: ameaça reduzir muito a influência Maori no país, querendo alterar um tratado entre Reino Unido e indígenas, que existe há quase 200 anos.
Em causa está o Tratado de Waitangi, (1840) que na altura foi assinado pelos chefes Maori e pelos colonizadores britânicos.
Hoje, os defensores da proposta consideram que o povo Maori goza de privilégios que outros neozelandeses não têm, precisamente por causa desse documento.
O tratado só tem três artigos: o primeiro mantém a soberania da Rainha de Inglaterra sobre a Nova Zelândia, o segundo assegura que os chefes tribais têm direito a uma posse “exclusiva e ininterrupta” das suas terras e tesouros, o terceiro artigo assegura que todos os Maori têm os direitos que os colonos britânicos.
Reverter esse tratado é, para os maori, uma forma de limitar os direitos dos povos indígenas do país.
Mas, para já, o novo projecto-de-lei há foi aprovado numa primeira leitura. Até que a votação foi suspensa.