A colisão de um meteorito com a Terra serviu como “fertilizante” às bactérias, fazendo com que se desenvolvessem mais facilmente com a ajuda de ferro e fósforo.
Durante a era do Paleoarqueano, colidiu com a Terra um meteorito até 200 vezes maior do que a já conhecida rocha espacial que embateu na Terra há 66 milhões de anos, no final do período Cretáceo, em Chicxulub (na Península de Yucatan, no México), responsável pela extinção dos dinossauros.
Este meteorito, agora descoberto por um grupo de geólogos, tinha cerca de 37 a 58 km e era do tipo condrito carbonáceo, que é rico em carbono, mas também contém fósforo.
“Nessa altura, a Terra era uma espécie de mundo aquático, com um aparecimento limitado de vulcões e rochas continentais. Não havia essencialmente gás oxigénio na atmosfera e nos oceanos, nem células com núcleo”, explicou à Reuters Andrew Knoll, investigador da Universidade de Harvard e coautor do estudo publicado a 21 de outubro na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
A geóloga da Universidade de Harvard Nadja Drabon, autora principal, acrescentou ainda: “Os efeitos do impacto terão sido rápidos e ferozes. (…) Esta nuvem de vapor de rocha e poeira ejetada da cratera teria dado a volta ao globo e tornado o céu negro em poucas horas”.
O meteorito, que terá embatido no oceano, foi também responsável por um tsunami que “rasgou” o fundo do mar e inundou as costas, explicou a autora.
Como “muita da energia do impacto terá sido transferida para o calor”, lê-se no artigo da Reuters, é provável que a camada superior dos oceanos tenha começado a ferver e a passar para o estado gasoso, fenómeno que só terá sido suprimido anos ou décadas depois.
Os micróbios que dependem da luz solar e os que se encontram em águas pouco profundas teriam, portanto, sido extintos. Mas houve um fator invulgar.
O meteorito trouxe para a terra uma grande quantidade de fósforo, um dos nutrientes essenciais para as moléculas dos micróbios que armazenam e transmitem a informação genética.
Para além disso, o tsunami terá trazido ao de cima águas mais profundas, onde se encontravam grandes quantidades de ferro, igualmente uma grande fonte de energia para os micróbios.
“Pensamos nos impactos de meteoritos como sendo desastrosos e prejudiciais para a vida – o melhor exemplo é o impacto de Chicxulub que levou à extinção não só dos dinossauros mas também de 60-80% das espécies animais da Terra”, contou Drabon à Reuters.
“Mas há 3,2 mil milhões de anos, a vida era muito mais simples“, e por isso resistiu ao gigante impacto, detalha investigadora.
Prova dessa recuperação e desenvolvimento são os fósseis de tapetes de bactérias marinhas encontrados pelos geólogos envolvidos no estudo, bem como as assinaturas químicas deixadas pelo meteorito. Os efeitos do impacto foram avaliados com recurso a provas de rochas antigas em Barberton, na África do Sul.
“A vida não só recuperou rapidamente quando as condições voltaram ao normal, no espaço de alguns anos ou décadas, como também prosperou“, explica a cientista. O recente estudo traz uma nova proposta para cima da mesa: afinal, nem todos os meteoritos são maus.