Itália, Espanha e Alemanha: Os líderes europeus em mortes por calor em 2023

Massimo Percossi / EPA

Onda de calor atinge a cidade de Roma, em Itália

O ano passado foi o ano mais quente de que há registo e o segundo mais quente na Europa, uma vez que os gases com efeito de estufa continuam a aumentar.

Segundo o Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), o calor matou 47.000 pessoas na Europa o ano passado. No entanto, este registo é inferior ao de 2022, quando mais de 61.000 morreram.

Num novo estudo, publicado esta segunda-feira na Nature Medicine, Portugal encontra-se em 6º lugar nos quadros de mortalidade associada ao calor, com o registo de 1432 mortes em 2023, traduzindo o número de vítimas para 136 por milhão de habitantes.

Os investigadores utilizaram registos de temperatura e mortalidade de 823 regiões em 35 países europeus do período de 2015 a 2019 de modo a ajustar modelos epidemiológicos e, assim, estimar a mortalidade relacionada com o calor em cada região europeia durante todo o ano de 2023.

Os resultados mostram um total de 47.690 mortes estimadas no conjunto dos 35 países, das quais 47.312 no período mais quente do ano — entre 29 de maio e 1 de outubro.

As taxas de maior mortalidade relacionadas ao calor situam-se no sul da Europa, nomeadamente a Grécia (393 mortes por milhão); a Bulgária (229 mortes por milhão); a Itália (209 mortes por milhão); a Espanha (175 mortes por milhão); Chipre (167 mortes por milhão) e Portugal (136 mortes por milhão).

 

“Os nossos resultados mostram como houve processos de adaptação da sociedade às altas temperaturas durante o presente século, que reduziram drasticamente a vulnerabilidade relacionada com o calor e a carga de mortalidade dos verões recentes, especialmente entre os idosos”, afirma a primeira autora do estudo, Elisa Gallo.

“Desde 2000, a temperatura com o menor risco de mortalidade tem vindo a aumentar gradualmente em média no continente, de 15ºC durante 2000 a 2004 para 17,7ºC de 2015 a 2019. Isto indica que somos menos vulneráveis ao calor do que no início do século, provavelmente em resultado do progresso socioeconómico, de melhorias no comportamento individual e de medidas de saúde pública”, acrescenta a investigadora.

Mulheres e idosos são os mais afetados

Em conformidade com estudos anteriores, as mulheres e os idosos apresentaram maior vulnerabilidade. As mulheres tiveram uma taxa de mortalidade 55% mais elevada que os homens e 768% nas pessoas com mais de 80 anos do que nas pessoas com idades compreendidas entre os 65 e 79 anos.

Apesar deste resultado, os cientistas alertam para o facto de estes dados poderem subestimar a carga real de mortalidade relacionada com o calor. A falta de registos diários e homogéneos de mortalidade durante o ano de 2023 levou a equipa a recorrer às contagens de mortes do Eurostat.

Assim, os investigadores estimam que o número provável de mortes relacionadas com o calor em 2023 poderia ter sido da ordem das 58.000 mortes nos 35 países estudados, embora uma estimativa mais exata só pudesse ser obtida se fossem disponibilizadas à comunidade científica bases de dados de mortalidade melhoradas.

“É urgente implementar medidas destinadas a reduzir ainda mais o peso da mortalidade nos períodos mais quentes, juntamente com uma monitorização maior dos impactos das alterações climáticas nas populações vulneráveis”, conclui autor o principal do estudo, Joan Ballester.

Estas medidas devem ser combinadas com esforços de atenuação por parte dos governos e da população em geral para evitar que se atinjam pontos de inflexão e limiares críticos nas projeções de temperatura.

Soraia Ferreira, ZAP //

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