A estrela brilhante que há 833 anos brilhou intensamente no céu durante 180 dias foi o resultado de um acontecimento raro e dramático.
Imagine o Japão no ano de 1181, quando a Guerra de Genpei, que decorreu de 1180 a 1185, estava ainda a ganhar força. Enquanto o poder político estava a ser redefinido, uma convidada inesperada apareceu no céu.
Como é que o sabemos?
O Azuma Kagami, um antigo diário da chamada Guerra dos Shoguns, relatava os pormenores da vida quotidiana dos humanos e os principais acontecimentos da época — incluindo avistamentos celestes, como o desta estrela.
Depois de ter estado a brilhar intensamente nos céus durante algum tempo, a estrela “desapareceu”, sem ter dado a conhecer a sua origem.
Até agora. Takatoshi Ko, estudante de doutoramento do Departamento de Astronomia da Universidade de Tóquio, e a sua equipa de investigadores, desvendaram o mistério, que dura há séculos.
Segundo o novo estudo, publicado a semana passada na revista científica The Astrophysical Journal, a misteriosa estrela que há 833 anos iluminou os céus era uma supernova, de nome SN 1181.
“Há muitos relatos sobre esta estrela convidada temporária em registos históricos do Japão, China e Coreia”, explicou Ko, citado pelo Earth.com. “No seu auge, o brilho da estrela era comparável ao de Saturno“.
A estrela permaneceu visível a olho nu durante cerca de 180 dias, até se apagar gradualmente da vista. “O remanescente da explosão da SN 1181 é agora muito antigo, por isso é escuro e difícil de encontrar“, explica Ko.
Duas estrelas anãs criaram a SN 1181
A SN 1181 desapareceu de vista há quase 840 anos, mas está agora a deixar os astrónomos excitados: é o resultado de um acontecimento raro e dramático — duas estrelas anãs brancas colidiram, dando origem a uma supernova.
O remanescente desta supernova foi então deixado para trás como uma única anã branca, brilhante e em rotação rápida, uma maravilha cósmica que despertou o interesse dos astrofísicos modernos.
O remanescente da SN 1181 apresentava um puzzle desconcertante. O seu remanescente tem duas regiões de choque, mas como é que elas se formaram?
Com ajuda de técnicas de modelação computacional análise observacional, a equipa de investigadores da Universidade de Tóquio conseguiu recriar a estrutura do remanescente e resolver este enigma cósmico.
Conto de estrelas e supernovas
A sabedoria tradicional levou-os a acreditar que, quando duas anãs brancas chocam uma contra a outra, devem explodir e desaparecer.
Mas esta colisão deixou uma anã branca a girar no espaço. Haveria um vento estelar envolvido e, se sim, quando é que começou?
O estudo da equipa de Ko levou a descobertas fascinantes. De acordo com os seus cálculos, o vento pode ter começado a soprar nos últimos 20-30 anos.
“Se o vento tivesse começado a soprar imediatamente após a formação da SN 1181, não poderíamos reproduzir o tamanho observado da região de choque interior”, disse Ko.
“No entanto, ao tratar o tempo de início do vento como variável, conseguimos explicar com exatidão todas as características observadas da SN 1181 e desvendar as propriedades misteriosas deste vento de alta velocidade.
A história da SN 1181 é mais do que uma simples descoberta científica. Representa uma mistura fascinante de registos históricos e técnicas astronómicas modernas.
Mas como é que isto funciona?
Para começar, o Azuma Kagami forneceu dados de observação inestimáveis. Ao analisar estes registos históricos, os astrónomos conseguiram reunir informações cruciais sobre o aparecimento e o momento da supernova SN 1181.
Os investigadores utilizaram estes dados históricos em conjunto com ferramentas e métodos astronómicos avançados para cruzar as observações antigas com dados astronómicos atuais.
Como resultado, conseguiram identificar a localização exacta da supernova remanescente na constelação Cassiopeia.
Esta fusão de história e ciência moderna mostra a importância de preservar e estudar textos históricos. Através destes esforços de colaboração, podemos obter uma compreensão mais abrangente do universo e da sua história.
Mas a história da estrela convidada, agora conhecida como supernova, ainda não acabou. A equipa está agora a preparar-se para mais observações utilizando o radiotelescópio Very Large Array e o Telescópio Subaru.
Haverá mais alguma coisa para contar na história da SN 1181? O tempo o dirá.