Os maias e os astecas tinham uma bebida sagrada (que também era moeda)

Justin Kerr / BBC

O cacau transformou-se num elemento fundamental das sociedades mesoamericanas. Foi moeda e teve utilizações cosméticas e medicinais.

O cacau, que segundo a mitologia asteca era um presente divino do deus Quetzalcoátl à humanidade, é originário da bacia amazónica e encontrou o seu apogeu cultural e espiritual na Mesoamérica.

Segundo o mito, Quetzalcoátl, ao desposar uma princesa terrena, criou um paraíso terrestre onde brotavam cacaus coloridos e outras maravilhas naturais.

Tragicamente, os deuses, irritados com sua generosidade para com os humanos, mataram a sua esposa, e as suas lágrimas deram origem à árvore do cacau, cujos frutos carregam o amargor do seu sofrimento e a cor do sangue da princesa.

Na Mesoamérica, especificamente nas regiões de Chiapas e Tabasco no México e na Guatemala, o cacau era um símbolo de luxo, dada a sua exigência por condições climáticas específicas e o complexo processo de colheita.

A revista National Geographic acrescenta que a civilização olmeca pode ter sido a primeira a utilizar o cacau, embora não se saiba ao certo se consumiam os grãos ou apenas a polpa para produção de bebidas alcoólicas.

No entanto, foram os maias que elevaram o cacau a um estatuto sagrado, representando-o em variadas formas artísticas e associando-o a rituais de grande importância.

Além de ser parte essencial nos rituais religiosos e cerimónias sociais como casamentos, desempenhava um papel crucial na economia mesoamericana, especialmente entre os astecas, onde era usado como moeda.

A procura por cacau era tão significativa que era um tributo exigido às províncias produtoras; e eram comuns as adulterações para inflacionar os lucros.

Além do seu uso económico, o cacau tinha várias aplicações medicinais e cosméticas, sendo usado para tratar condições de pele e outros males. Os seus grãos eram valorizados, tanto pelas suas propriedades energéticas e afrodisíacas, quanto pela bebida deliciosa e refrescante que produziam.

Este “alimento dos deuses”, que iniciou a sua jornada nas sombras das florestas tropicais, tornou-se um símbolo de conexão divina, luxo e vitalidade através dos tempos, mantendo-se relevante até à era moderna em diversas culturas espalhadas pelo planeta, inclusive servindo como alimento aos mortos em rituais como o Dia dos Mortos no México.

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