Dois séculos depois de o Megalosaurus ter sido identificado pela primeira vez, os cientistas continuam a tentar desvendar os mistérios em torno do primeiro dinossauro cientificamente reconhecido.
Inicialmente descoberto na pedreira de Stonesfield, em Inglaterra, e categorizado por William Buckland em 1824, o conhecimento deste gigantesco réptil evoluiu significativamente desde a sua descrição inicial.
Na época, Buckland, sem saber que estava a descrever um dinossauro (termo que só seria introduzido 18 anos mais tarde), usou uma análise de anatomia comparativa para classificar o Megalosaurus, baseando-se nos fragmentos de esqueletos de vários espécimes de diferentes idades e tamanhos.
É como “um gigantesco réptil, talvez semelhante a um crocodilo“, classificou-o então o teólogo, paleontólogo e geólogo britânico.
Duzentos anos depois, no entanto, os paleontólogos ainda andam a tentar deslindar os mistérios do primeiro dinossauro, conta a Smithsonian Magazine.
Ao longo dos anos, os paleontólogos foram remodelando a nossa compreensão do Megalosaurus, agora conhecido como Megalosaurus bucklandii e retratado como um predador bípede que vageuava pelo que é agora a Inglaterra, há cerca de 166 milhões de anos.
Este dinossauro carnívoro, com um comprimento de mais de 6 metros na idade adulta, caminhava sobre duas pernas, tinha um longo crânio repleto de dentes curvos e provavelmente tinha braços curtos e robustos com grandes garras, com algumas semelhanças com o seu parente posterior, Torvosaurus.
No entanto, reconstruir a imagem completa do Megalosaurus é ainda um desafio para os paleontólogos, devido à falta de um esqueleto completo.
Os ossos originais, juntamente com outros fósseis atribuídos ao Megalosaurus, contribuíram para um complexo quebra-cabeças em que o dinossauro se tornou, com peças de diferentes conjuntos, mas sem uma imagem clara do todo.
Essa falta de dados levou a que fossem sendo avançadas interpretações variadas acerca das características do Megalosaurus ao longo dos primeiros anos, tornando-o o que alguns especialistas chamam de “caixote do lixo taxonómico” — categoria para onde são atirados os espécimes de que quase nada se sabe.
No início do séculoXX foram feitos esforços significativos para desmistificar o Megalosaurus, e investigadores como Roger Benson realizaram um extenso trabalho para desembaraçar o registo histórico e os fósseis atribuídos a este dinossauro.
Destrinçados finalmente os ossos do Megalosaurus dos de outros dinossauros, como o Cruxicheiros e o Duriavenator, identificados por Benson a partir de fósseis anteriormente mal rotulados como Megalosaurus, emergiu uma imagem mais clara, embora ainda incompleta, do esqueleto do Megalosaurus.
Estes esforços oferecem atualmente uma base para entender o seu lugar na árvore genealógica dos dinossauros e sugerem detalhes sobre o seu estilo de vida e hábitos.
Apesar dos avanços, muito do conhecimento aceite acerca do Megalosaurus permanece especulativo, impulsionado por comparações com dinossauros relacionados.
Questões sobre o seu movimento, tamanho e comportamentos reprodutivos continuam a ser alvo de pesquisas. É o caso da paleontóloga Emma Nicholls, que quer “descobrir tudo sobre esta enigmática criatura”.
A teoria prevalecente sugere agora que o Megalosaurus provavelmente vivia perto de vias aquáticas jurássicas, alimentando-se potencialmente de peixes, tal como os seus parentes espinossaurídeos — sugerindo que teria um estilo de vida diferente do anteriormente imaginado.
À medida que a imagem do Megalosaurus continua a evoluir, de um réptil anfíbio para um potencial ictiófago que vivia ao longo de costas ancestrais, o dinossauro mantém-se como um testemunho da natureza dinâmica da pesquisa paleontológica.
Mas, dois séculos após a sua descoberta, o Megalosaurus é ainda objeto de fascínio — e um mistério por deslindar.