Uma espécie de jangada formada por uma das espécies mais invasoras do mundo permite-lhe não só sobreviver às recentes cheias australianas como propagar-se pelo país, que já pediu “alerta máximo” a duas comunidades.
As formigas-de-fogo formam autênticas balsas flutuantes para viajar nas águas das inundações que afetam a Austrália.
O país foi recentemente devastado por tempestades, o que facilitou a disseminação de uma das espécies mais invasoras do mundo, a super praga das formigas-de-fogo-vermelhas (Solenopsis invicta).
Balsas flutuantes de formigas foram documentadas em plantações de cana-de-açúcar ao sul de Brisbane — onde as formigas-de-fogo já infestaram cerca de 700 mil hectares de terra.
O Conselho de Espécies Invasoras da Austrália afirma que o comportamento invulgar na formação da balsa flutuante é uma prova de que “a densidade (da população) de formigas-de-fogo está a aumentar” no país.
Estas formigas podem provocar grandes alterações no ecossistema e estragos em culturas ao alimentarem-se de plantas e animais nativos.
As suas picadas podem ser fatais para pessoas. Casos de morte são raros, mas tendem a tornar-se mais comuns à medida que a espécie se espalha por diferentes partes do mundo, indica um artigo da Universidade do Sudoeste do Texas, nos EUA.
Em setembro, a presença da formiga agressiva foi confirmada na Europa após a descoberta de 88 ninhos numa zona urbana de Siracusa na região de Sicília, em Itália.
A possível disseminação do “ardente” animal por todo o continente representa sérias ameaças ambientais, de saúde e económicas.
Reconhecida pela sua cor vermelha brilhante e pela picada dolorosa que inflige a humanos e animais, dão origem a pústulas no local da picada que levam a graves infeções se não forem tratadas. Para além do impacto na saúde humana, causam danos a infraestruturas, como sistemas elétricos, devido à sua tendência para construir ninhos em áreas perturbadas.
Praga chegou ao seu “lar perfeito”
O governo australiano pede às comunidades dos Estados de Queensland e Nova Gales do Sul — que têm enfrentado condições climatéricas adversas — que estejam em alerta máximo contra estas formigas, à medida que elas se deslocam e estabelecem “pontos de apoio em novas áreas”.
Nativas da América do Sul, as formigas-de-fogo-vermelhas foram detetadas pela primeira vez em Queensland em 2001 e estavam concentradas dentro das fronteiras do Estado desde então. Ainda é um mistério como entraram na Austrália, mas especula-se que provavelmente vieram dos EUA em contentores.
Em novembro, as autoridades locais relataram que vários novos ninhos de formigas-de-fogo se espalharam pela primeira vez em Nova Gales do Sul a partir da fronteira de Queensland — o que levou a um aumento dos investimentos governamentais para controlar a praga.
As formigas-de-fogo costumam espalhar-se através do solo contaminado e de materiais transportados por pessoas para novas áreas. Algumas delas têm asas e são capazes de voar vários quilómetros — e também podem viajar muito mais longe se forem levadas pelas correntes de vento.
O clima único da Austrália e a falta de predadores naturais tornam o local “o lar perfeito para as formigas-de-fogo”, que poderiam habitar “todo o continente, exceto os locais mais frios” se não fossem contidas, de acordo com as autoridades de biosegurança.
Um dos maiores receios dos especialistas é que um dia estas formigas entrem pelos rios Murray e Darling — e, a partir daí, avancem rapidamente para novos Estados e territórios.
Uma colónia de três anos pode conter até 100 mil formigas desta espécie. Uma rainha madura pode pôr até 5 mil ovos por dia.
Nas últimas décadas, as formigas-de-fogo espalharam-se pelos EUA, China, Taiwan, Japão e Filipinas, informa o governo australiano.
ZAP // BBC