Não precisa de palavras para acalmar uma criança rabugenta. Basta a magia de um piojito

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Num mundo onde os conselhos sobre parentalidade frequentemente se centram na comunicação verbal, surge uma abordagem alternativa e universal: a magia do toque.

Quando se trata de acalmar uma criança rabugenta que decidiu fazer uma birra, a maior parte dos pais preocupa-se em saber o que dizer.

Mas, um pouco por todo o Mundo, cada vez mais pais estão a optar por manter o silêncio e simplesmente… usar um toque mágico.

Após anos de pesquisa, os neurocientistas descobriram recentemente a eficácia esta técnica empírica: um toque gentil e específico pode acalmar significativamente as crianças pequenas, ultrapassando barreiras culturais e linguísticas.

Este toque especial, caracterizado por uma velocidade e pressão específicas, ativa na pele certos nervos cuja função é detetar uma carícia suave e reconfortante.

Esta sensação desencadeia áreas no cérebro responsáveis pela regulação emocional, induzindo sentimentos de calor, calma e segurança.

Mundo fora, esta técnica tem vários nomes: yakson na Coreia do Sul, xiù xiù em Taiwan e malish na Índia.

Mas talvez a designação mais peculiar deste toque mágico seja a que lhe foi dada na América do Sul, onde  é carinhosamente chamado de ‘piojito‘, que significa “piolhinho” —  uma referência ao leve e confortante arranhar do couro cabeludo que a técnica envolve.

A palavra piojito está mesmo definida no Dicionário de Americanismos como “acariciar o couro cabeludo a alguém“. No Perú, segundo o mesmo dicionário, significa “afagar suavemente o couro cabeludo de uma criança, como se a estivéssemos a aliviar da comichão de piolhos imaginários”.

Numa reportagem da NPR, Joe Grajeda, proprietário de uma cafetaria  e pai de três filhos em Alpine, no Texas, recorda com carinho as memórias dos piojitos da sua infância no norte do México.

Grajeda, que mantém esta tradição com os filhos, realça a importância da velocidade e pressão corretas para evocar uma sensação agradável, semelhante à ‘pele de galinha’ ou arrepios.

Esta técnica de toque é sustentada pela ciência.

Neurobiólogos como Ishmail Abdus-Saboor, investigador da Universidade de Columbia, explicam que as fibras tácteis C, presentes em partes peludas da pele, estão ajustadas a uma velocidade específica de carícias.

Movimentos demasiado rápidos podem ser percebidos como desagradáveis, enquanto o toque certo ativa esses nervos, promovendo vínculos sociais e efeitos calmantes.

Este tipo de toque pode ter efeitos diversos em indivíduos diferentes. Para algumas pessoas com transtorno do espectro do autismo, por exemplo pode ser desconfortável devido à sensibilidade sensorial aumentada.

Mas, para a maior parte das pessoas, o efeito de um piojito é agradável. Segundo pesquisas recentes  incluindo um estudo publicado em 2018 na revista Cell — a ativação das fibras tácteis C estimula a produção de dopamina , neurotransmissor associado à recompensa, bem estar e e motivação, no cérebro.

Esta ativação não só cria uma sensação agradável, mas também reduz a perceção da dor, diminui a frequência cardíaca e potencialmente desencadeia a libertação de endorfinas, promovendo uma sensação de paz e confiança.

Assim, a ciência explica a magia de um piojitoquase tão bem como a poesia. Razão pela qual lhe deixamos abaixo um singelo poema — uma cortesia do Bard que o ZAP aprimorou.

O toque gentil

O toque gentil dos dedos
Na cabeça de uma criança
É como uma brisa suave
Que a alma descansa

A comichão desaparece
E a criança sorri
Com a sensação de paz
Que o afeto traz

Este toque gentil
É um gesto de amor
Que conforta o coração
E deixa a criança feliz

ZAP //

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1 Comment

  1. Temos palavras para esse carinho. Cafuné, chamotim, quitute. Cafuné é mais conhecido dos portugueses via telenovelas brasileiras. Parabéns ao Bard, um verdadeiro bardo! 🙂

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