No final dos anos 1990, a Alemanha foi apelidada de “o doente da Europa” pela revista britânica The Economist. Após anos de reformas que a ajudaram a recuperar, a economia alemã parece estar novamente numa encruzilhada.
Em dois trimestres consecutivos, o Produto Interno Bruto da Alemanha diminuiu, e os indicadores económicos mostram um cenário preocupante — que leva a Deutsche Welle a questionar se o país voltou a ser “o doente da Europa” .
A Alemanha é singular entre as nações industrializadas: segundo o Fundo Monetário Internacional, será o único país a registar uma queda no PIB este ano.
O seu setor industrial, que contribui com cerca de 24% do valor agregado bruto, encontra-se particularmente afetado pela conjuntura económica.
O declínio das encomendas de clientes estrangeiros, especialmente da China, o maior parceiro comercial da Alemanha, agravou a situação. Além disso, a subida das taxas de juros afetou globalmente a economia, aumentando os custos do crédito para empresas e consumidores.
Mas os problemas estruturais da economia alemã vão além da conjuntura económica global. O modelo económico da Alemanha, anteriormente baseado na importação de energia barata e produtos semiacabados, revelou-se insustentável.
O país enfrenta agora desafios significativos, como a escassez de mão de obra qualificada, infraestruturas obsoletas e uma burocracia crescente.
Além disso, a política monetária dos bancos centrais, focada no controlo da inflação através do aumento recorrente das taxas de juros, penalizou a Alemanha mais severamente do que outros países da zona do euro, como França e Espanha.
A situação é agravada por uma coligação governamental instável, que tem falhado na implementação de políticas económicas eficazes.
Divergências sobre temas como impostos e subsídios à energia geraram falta de consenso, dificultando as reformas necessárias — em contraste com as medidas decisivas tomadas nos anos 1990 e início dos anos 2000, que ajudaram então à recuperação da economia alemã.
Moritz Schularick, presidente do Instituto Kiel para a Economia Mundial, defende que, para evitar tornar-se novamente o “doente da Europa”, a Alemanha deve dar prioridade aos setores com crescimento no futuro, em vez de tentar preservar indústrias obsoletas.
Esse ajuste nas prioridades deveriam incluir, diz Schularick, a aposta na economia digital, o investimento em infraestruturas e uma estratégia clara para abordar o problema do envelhecimento da força de trabalho.
A Alemanha enfrenta assim uma tempestade perfeita de desafios económicos e estruturais, que ameaçam torná-la de novo a “doente da Europa”.
E quando a economia da Alemanha espirra, a da Europa tosse — e a dos países menos desenvolvidos, como Portugal, fica com febres altas.