Para a maioria de nós, os soluços são bastante incómodos, mas de curta duração. Em casos graves, podem persistir alguns dias. Mas há um caso que durou 68 anos.
Charles Osborne debateu-se com uma sinfonia de suspiros involuntários durante mais de seis décadas, ao ponto de fazê-lo entrar para o Guinness Book.
Tudo começou no dia 13 de junho de 1922, quando Osborne tinha 28 anos e trabalhava numa quinta no Nebraska, nos EUA.
Começou a soluçar quando caiu a pendurar um porco de 160 quilos para abate e não mais parou… até 1990.
Apesar das visitas a vários médicos, não foi encontrada uma cura para os seus soluços.
De acordo com o Science Alert, um médico tentou pará-los com monóxido de carbono e oxigénio, mas Osborne não conseguia respirar em segurança.
Osborne descobriu que a sua queda havia danificado um pequeno vaso sanguíneo no cérebro, responsável por inibir a resposta ao soluço.
Nos primeiros anos, a frequência dos espasmos era de 40 vezes por minuto, aproximadamente. Com o passar do tempo foi diminuindo até chegar aos 20 espasmos a cada 60 segundos, ou seja, um soluço a cada três segundos.
Osborne viveu a sua vida com bom humor e aprendeu uma técnica de respiração para minimizar o som do ‘hic’. Casou-se duas vezes, teve oito filhos e conquistou uma carreira bem sucedida.
A dada altura, porém, já não conseguia engolir pedaços de comida e passou a ingerir apenas alimentos pastosos ou líquidos.
Em fevereiro de 1990, os soluços de Osborne pararam abruptamente por uma razão desconhecida. Morreu aos 97 anos, em maio de 1991, depois do que deve ter sido um ano maravilhoso, livre de soluços.
Estima-se que tenha tido 430 milhões de soluços durante toda a sua vida.
Por que é que temos soluços? Há forma de os parar?
Pensa-se que os soluços começam com uma via neural chamada Arco Reflexo. A experiência física envolve a contração involuntária dos músculos respiratórios e a abertura entre as cordas vocais fecha-se abruptamente, o que produz o reconhecido som “hic”.
Os fatores que desencadeiam as contrações podem causar soluços, tais como beber demasiado álcool, comer demasiado ou inspirar ar enquanto mastiga, alguns medicamentos, ou mesmo excitação e riso.
Os soluços podem ocorrer isoladamente ou em grupos com um ritmo bastante regular, produzindo de quatro a 60 por minuto.
Não se sabe muito sobre a razão pela qual ocorrem, mas até ainda no útero temos soluços, o que sugere que isto pode preparar os nossos músculos para a respiração.
Algumas soluções comuns são beber água fria, respirar para um saco de papel, suster a respiração e até mesmo hipnose ou acupuntura. Não há provas de que qualquer uma delas seja eficaz ou segura.
Muito possivelmente, o único remédio que se mostrou promissor é uma palhinha especial — chamada HiccAway — desenvolvida por um neurologista nos últimos anos.
Nas primeiras avaliações, 90% das pessoas consideraram o HiccAway mais eficaz do que qualquer outro remédio caseiro, mas são necessários estudos mais aprofundados e robustos.
Os casos normais de soluços resolvem-se normalmente sem intervenção, apenas com paciência, mas os soluços mais prolongados devem ser levados mais a sério.
Os soluços crónicos (mais de 48 horas) ou intratáveis (mais de um mês) não só podem ser angustiantes, causar exaustão e perda de peso, como também podem indicar uma causa subjacente grave.
Pode tratar-se de perturbações do sistema nervoso central, diabetes, cirurgia, refluxo, acidente vascular cerebral ou cancro, por exemplo.
Um pequeno estudo revelou que 80% dos pacientes com soluços crónicos tinham anomalias no esófago ou no estômago e 2/3 desses casos eram tratáveis.
É importante consultar um médico em caso de soluços crónicos, pois uma investigação adequada pode revelar mais sobre a causa.