A neurociência explica porque muitas vítimas de violação ficam paralisadas e não se defendem

JSM / APAV

Paralisada durante violação, acontece em 70% dos casos. A falta de resistência não tem de ser sinónimo de consentimento.

Quem não passou pelo trauma, não percebe.

Quem passou pelo trauma, muitas vezes também não percebe.

Não percebem porque, durante uma violação, a vítima não reage. Fica paralisada, nem tenta defender-se ou fugir. Acontece em cerca de 70% dos casos.

Há uma explicação científica: a ameaça bloqueia os circuitos neurais.

Um estudo da University College London, publicado na revista Nature Human Behavior, reforça que há uma base neurocientífica para essa ausência de reacção.

A falta de reacção pode ser totalmente involuntária, começa por explicar a agência EFE.

Fazendo uma comparação com o reino animal, há animais que ficam paralisados por uns instantes ​​devido a uma ameaça pouco grave – mas ficam mais bem preparados para uma rápida reacção de luta ou fuga.

Quando a ameaça é grave e imediata, aí a paralisação pode ser prolongada. O corpo fica completamente “congelado” ou flácido.

Há uma explicação neurocientífica: quando o cérebro reage a uma ameaça,  os circuitos neurais que controlam voluntariamente o movimento do corpo podem ficar bloqueados.

E pode acontecer o mesmo em humanos. Estudos anteriores mostraram que as vítimas de agressão sexual admitiram que não conseguiram mexer-se, ou mesmo gritar, durante o ataque. Mesmo que não estejam fisicamente imobilizadas, não conseguem reagir.

E isso deve ser levado em conta quando o caso segue para a Justiça – porque, em muitos processos, em tribunal alega-se que a vítima não evitou a agressão, não fugiu, não lutou.

É uma explicação provável para os casos em que, em tribunal, se alega que a falta de resistência da vítima é sinónimo de consentimento. Ideia errada, avisam os autores deste estudo.

São acções realizadas sem controlo voluntário e isso deve ser registado, nos processos judiciais.

Por isso, e olhando para estas evidências neurocientíficas, deve-se parar de culpar as vítimas de forma inadequada, dizem os autores do estudo.

“É fundamental chamar a atenção da sociedade para a importância crucial do ‘consentimento activo’”, completam.

ZAP //

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