UE já recebeu em 12 dias tantos refugiados quanto em 2015 e 2016. ONU aponta para 400 civis mortos

Sergey Kozlov / EPA

Os dados da ONU revelam que 38 crianças já perderam a vida devido à guerra na Ucrânia. Já mais de um milhão de ucranianos fugiram para a Polónia.

Pelo menos 406 civis foram mortos e outros 1.207 ficaram feridos até segunda-feira na invasão da Rússia à Ucrânia, segundo dados das Nações Unidas, números semelhantes aos contabilizados por Kiev, que indica 38 crianças entre as vítimas mortais.

O Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) advertiu hoje que os números podem ser bastante superiores, já que todos os dias se verificam mortes de civis.

O ministro da Defesa da Ucrânia também divulgou hoje novas estimativas, em que indica mais de 400 mortes, incluindo 38 crianças, resultantes dos ataques das forças russas, e pelo menos 800 feridos, incluindo 70 crianças.

O relatório elaborado diariamente pela OCHA Ucrânia em colaboração com parceiros humanitários detalha que 528 mortes de civis foram registadas em Donetsk e Lugansk (70 mortos e 324 feridos em áreas controladas pelo Governo e 23 mortos e 111 feridos em áreas não controladas pelo executivo) e 679 noutras regiões da Ucrânia.

A agência da ONU alerta que “os movimentos populacionais continuam internamente e além-fronteiras” e o afluxo maciço de pessoas que se dirigem para o oeste do país “irá provavelmente sobrecarregar as capacidades de resposta e afetando desproporcionadamente os grupos mais vulneráveis”.

Com cada vez mais zonas geográficas atingidas pelos combates, a OCHA prevê “cada vez mais baixas civis e necessidades humanitárias” e também o receio de que as pessoas tenham que se deslocar, fugindo mais do que uma vez.

O Ministério da Energia ucraniano informou também hoje que cerca de 650.000 pessoas ficaram sem eletricidade e pelo menos 130.000 permanecem sem abastecimento de gás natural devido às hostilidades.

“A rápida deterioração da situação de segurança impede as equipas de reparação de restaurar o abastecimento de serviços críticos, incluindo eletricidade, gás e água”, refere o ministério.

Onda de refugiados na Europa

A União Europeia (UE) já acolheu nos últimos 12 dias cerca de dois milhões de refugiados que fogem da ofensiva militar russa na Ucrânia, tantos quanto no conjunto de 2015 e 2016, disse hoje a comissária dos Assuntos Internos.

A comissária especificou que “mais de um milhão de refugiados entraram na Polónia, quase meio milhão na Roménia, 170 mil na Hungria e 130 mil na Eslováquia”, sendo que “muitos dos que chegam vão rapidamente ter com familiares e amigos residentes em Estados-membros com maiores comunidades ucranianas”.

Ylva Johansson observou a propósito que, na semana passada, apenas “uma fração” dos que chegaram, designadamente 80 mil, pediram asilo, precisamente porque muitos têm familiares e amigos na UE, mas alertou que “esta situação pode mudar rapidamente, à medida que mais e mais pessoas fogem” da guerra.

“Os Estados-membros fizeram e estão a fazer um trabalho notável, a estabelecer e a implementar planos de contingência, a abrir novos pontos fronteiriços de travessia, e as autoridades locais estão a asseguram a receção dos refugiados e a prestar-lhes assistência médica, trabalhando lado a lado com voluntários e ONG” (organizações não-governamentais), realçou.

No entanto, alertou, é preciso fazer ainda mais, sobretudo para proteger as crianças, que poderão representar já nesta fase metade dos refugiados.

Admitindo que não se sabe ao certo quantas crianças já se refugiaram na União Europeia, a comissária estimou que perto de metade dos 2 milhões de refugiados sejam crianças, sendo que há muitas desacompanhadas, o que as torna muito vulneráveis e de alto risco de serem vítimas de redes criminosas, designadamente para tráfico de seres humanos.

Anders Henrikson / Wikimedia

Ylva Johansson, comissária dos Assuntos Internos

“É nosso dever proteger estas crianças. Temos de fazer ainda mais. Elas precisam do nosso apoio porque isto não vai acabar em breve. [Vladimir] Putin está a conduzir guerra sem contenção, sem remorsos, sem piedade. O pior está para vir. Milhões mais vão fugir e nós temos de os receber. É um grande teste, mas poderemos superá-lo se mantivermos a mesma solidariedade a que temos assistido até agora”, concluiu.

O número de pessoas que têm fugido da Ucrânia desde que a Rússia invadiu o território, em 24 de fevereiro, já ultrapassou todas as perspetivas mais pessimistas, afirmou hoje mesmo o diretor-geral da Organização Internacional de Migrações (OIM), António Vitorino.

“Podemos dizer que estes primeiros 12 dias ultrapassaram as perspetivas mais pessimistas que nós tínhamos”, admitiu, em entrevista à agência Lusa.

Segundo o responsável da agência das Nações Unidas, o fluxo de refugiados – que, de acordo com a ONU, já contabiliza mais de dois milhões de pessoas – “é a mais significativa vaga de refugiados, superior àquela que se verificou em 2015 com a chegada dos sírios, através da Grécia, aos países da Europa Central e superior, decerto àquela que se verificou no final dos anos 90 do século passado, com a guerra nos Balcãs e a desagregação da ex-Jugoslávia”.

Também hoje, a ministra da Justiça e da Administração Interna garantiu que Portugal poderá receber dezenas de milhares de refugiados ucranianos com segurança e “sem risco de turbulência”.

“Temos uma comunidade ucraniana grande em Portugal, que está perfeitamente instalada, integrada e estabilizada, muitas das pessoas que vêm para Portugal têm familiares ou amigos que já cá estão e que lhes darão apoio na primeira fase”, afirmou Francisca Van Dunem.

Questionada sobre o número máximo que Portugal pode acolher, a ministra disse não ter ainda um número, frisando que o país está a trabalhar com a União Europeia na repartição de quotas por países.

Lusa //

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