O edifício em Arroios, Lisboa, começou a ser emparedado durante a noite, depois dos protestos que, esta segunda-feira, fizeram vários feridos.
O Seara – Centro de Apoio Mútuo de Santa Bárbara foi criado por um grupo de pessoas que ocupou um antigo infantário abandonado e o transformou num centro de apoio de ajuda a pessoas carenciadas, incluindo sem-abrigo.
Quando ocuparam o espaço, os voluntários não sabiam quem eram os proprietários do imóvel, mas, mais tarde, descobriram que foi vendido a uma empresa de imobiliário e depois em parcelas a três pessoas que vivem no estrangeiro.
Os voluntários enviaram email a várias entidades, entre as quais a Câmara Municipal de Lisboa e a PSP, a informar de que iriam ocupar o espaço e os motivos.
Esta segunda-feira, pelas 05h00, cerca de uma dezena de seguranças privados entraram no edifício para tentar despejar as pessoas que ali se encontravam e, entretanto, os proprietários do edifício mandaran cortar a água e a luz.
Os responsáveis pelo centro chamaram a PSP, que se dirigiu ao local e montou um cordão policial. Ao final da tarde, várias pessoas ficaram feridas, incluindo três agentes, na sequência de uma tentativa de entrada de alguns voluntários no imóvel.
Já durante a noite, o edifício começou a ser emparedado, contou à agência Lusa Bernardo Valares, um dos voluntários do Seara – Centro de Apoio Mútuo de Santa Bárbara, tendo acrescentado que nenhuma pessoa ficou a pernoitar no local.
Isto porque as três pessoas que tinham permissão para pernoitar no edifício, na sequência de um entendimento alcançado com os proprietários, apenas poderiam dormir no interior do prédio sob supervisão “de oito seguranças” e que, portanto, optaram por não o fazer porque se “sentiram intimidadas”, explicou o voluntário.
Bernardo Alvares sublinhou ainda que “todas as instituições [de apoio a pessoas em situação de sem-abrigo] falharam”.
Em declarações ao jornal online Observador, Manuel Grilo, vereador da Ação Social da Câmara de Lisboa, afirmou que a tentativa de despejo foi ilegal, tendo lembrado que “todos os despejos estão suspensos” devido à pandemia de covid-19.
“A ocupação do edifício será provavelmente ilegal, mas a forma como entraram será tudo menos legal”, declarou o vereador do Bloco de Esquerda, acrescentando que pelo que se apercebeu “não havia nenhuma ordem do tribunal”.
“Estamos em tempo de pandemia, de crise, não consigo compreender como é que alguém que está a dar apoio social a pessoas carenciadas é posta fora para dar lugar à especulação imobiliária”, lamentou ainda.
ZAP // Lusa