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“Assassino” à solta está a aniquilar os anfíbios (e isso pode ter efeitos dramáticos)

Em 2013, uma patologia misteriosa varreu a costa ocidental da América do Norte, causando a aniquilação da estrela do mar.

Dois anos depois, a vítima foi o antílope asiático de nariz grande que perdeu dois terços dos seus 200 mil indivíduos, por causa do que parecia ser uma infeção bacteriana.

Mas nenhum destes casos se aproxima do poder destrutivo de Bd, um fungo extraordinariamente potente e inigualável na capacidade de matar não só uma ou outra colónia de animais, mas espécies inteiras.

Bd, abreviatura de Batrachochytrium dendrobatidis, é um fungo da classe Chytridiomycota que ameaça a população mundial de anfíbios, comendo-lhes a pele e provocando-lhes ataques cardíacos fatais.

Acreditava-se que era o responsável pelo desaparecimento de 200 espécies, mas esse é um número ultrapassado. Os novos dados, compilados pela equipa de Ben Scheele, da Universidade Nacional da Austrália, mostram uma realidade bem mais assustadora.

Segundo Scheele, o fungo causou o declínio de mais de 500 espécies, cerca de 6,5% do total conhecido. Destas, 90 foram totalmente eliminadas, outras 124 perderam quase 90% da sua população e as hipóteses de recuperação são pequenas.

“Nunca a história registou uma única doença com tal capacidade de destruição. “Este fungo representa uma visão completamente nova do que uma doença pode fazer à vida selvagem”, sublinhou Scheele, citado pela Visão.

Nem todos têm imediatamente noção do que estas perdas significam em grande escala – mas sabemos que os anfíbios sobrevivem no planeta há 370 milhões de anos e, em apenas cinco décadas, uma doença quase os dizimou. Se uma nova doença fizesse o mesmo e aniquilasse 6,5% de todas as espécies de mamíferos, o planeta não ia aguentar.

“E apesar da atenção que se está agora a dar a este assunto, acho que não se tem bem noção do que perdemos”, acrescenta Karen Lips, da Universidade de Maryland, que também participou no novo estudo.

Foi nos anos 1970 e 1980 que os especialistas em anfíbios começaram a partilhar histórias sinistras sobre populações outrora abundantes que desapareceram misteriosamente – sem ninguém saber explicar o que acontecera. “Foi mais do que tentar encontrar uma agulha no palheiro; ainda estávamos a tentar avaliar a existência do palheiro”, escreveu Lips recentemente.

Já a análise de Scheele mostra que, a partir do momento em que o fungo foi finalmente identificado, em 1998, já tinha feito boa parte do seu trabalho: pelo menos 60 espécies já estavam extintas e centenas de outros iam pelo mesmo caminho.

O Bd é o perfeito assassino de sapos. Enquanto algumas doenças afetam apenas hospedeiros específicos, o Bd cobiça nutrientes encontrados em peles de anfíbios e atinge todo o grupo indiscriminadamente. Além disso, espalha-se facilmente pela água e resiste fora dos seus hospedeiros.

Agora, há quem defenda que este fungo não agiu sozinho e que teve no ser humano um cúmplice involuntário. É o que sugere um estudo genético conduzido por Matthew Fisher, do Imperial College London.

Segundo explica esta análise, o Bd desenvolveu-se em algum lugar da Ásia. A partir daí, uma linhagem especialmente virulenta e transmissível espalhou-se pelo mundo no início do século XX – época em que o comércio internacional estava em alta. Os animais infetados poderiam ter sido arrumados a bordo de navios ou transportados como alimento ou animais de estimação.

No novo estudo, a equipa de Scheele compara ainda o mundo moderno à Pangeia, o supercontinente que existia no alvorecer dos dinossauros. Há muito que desapareceu, mas o ser humano praticamente recriou esse cenário já que, para as doenças da vida selvagem, o globo inteiro apresenta-se de novo como uma única massa facilmente atravessada. Não restam outras opções a não ser limitar os movimento e isso significa reduzir o comércio de vida selvagem.

“A sua movimentação à volta do mundo pode ter consequências devastadoras”, salienta Jodi Rowley, do Museu da Austrália. “Hoje, já mais consciência do impacto de espécies invasoras, mas o que compreendemos, entretanto, é que são os que vão à boleia, inadvertidamente – como estes parasitas – que representam a maior perda para a biodiversidade.”

ZAP //

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