Direcção do i quer verificar se o modelo de linguagem de inteligência artificial é mesmo uma ameaça ao jornalismo.
O ChatGPT não é uma pessoa mas vai retirar o emprego a muitas pessoas, acreditam diversos especialistas.
O modelo de linguagem de inteligência artificial mais conhecido e mais comentado nos últimos tempos ameaça a carreira de diversos profissionais – entre os quais os que criam os artigos do ZAP.
O ChatGPT pode criar, sozinho, a edição completa de um jornal? É o que vai ser testado no i.
A próxima edição impressa do i, que vai ser publicada na terça-feira, dia 11, vai ser criada pelo ChatGPT. Na íntegra.
A direcção do i quer verificar se o modelo de linguagem de inteligência artificial é mesmo uma ameaça ao jornalismo.
“É um desafio”, começou por comentar Mário Ramires, director do jornal, que lembrou que já há diversos jornais online que utilizam computadores e algoritmos no seu dia-a-dia: recebem as notícias colocadas na internet e divulgam as que consideram válidas.
O próximo passo, explicou no portal Eco, é não haver qualquer intervenção dos jornalistas.
“Ver se é possível um editor fazer um jornal sem jornalistas, com as notícias do dia, as notícias do mundo, do país, das várias áreas – economia, desporto, sociedade, política, cultura. Vamos ver se é possível, vamos ver o que é que sai. Acho que vai ser curioso“, comentou Mário Ramires.
O director do I admitiu que o ChatGPT já escolhe “tudo”: fotografias, títulos e capa.
Mário Ramires defende o “jornalismo de autor” e explica os motivos: “Chega-nos informação de todo o lado, por vários meios, quase em tempo real – as coisas estão a acontecer e as notícias a sair – e cada vez mais eu acredito que a qualidade e o valor da informação está em quem a selecciona, na credibilidade de quem a selecciona e na capacidade também de análise e crítica“.
“O jornalismo hoje – e sempre foi – é um contrapoder de escrutínio aos poderes, ao serviço da sociedade e dos leitores. Por isso mesmo é muito importante que esse crivo se faça com pessoas que tenham bom senso, que se decidam e cumpram com as regras e os deveres deontológicos”.
“Eu costumo dizer que falta sangue nos computadores, falta essa dose de emoção que também faz as notícias, falta essa dose de convicção que também faz a informação. E isenção. Se não, temos jornalismo anónimo sem mais valia para os leitores e para o público em geral”, acrescentou o responsável pelo i.
Mas não se deve temer o progresso: “O progresso traz-nos sempre mais oportunidades. Se tivermos um sentido crítico, as coisas são sempre para contribuir para uma melhor sociedade. É isso que se pretende”.
Dos testes realizados até agora, com o ChatGPT, saíram “coisas engraçadas”.