Uma cientista do Southwest Research Institute, nos Estados Unidos, está a usar grandes quantidades de dados para ajudar a comunidade científica a caracterizar exoplanetas, particularmente mundos alienígenas que orbitam estrelas próximas. De particular interesse são os exoplanetas que podem abrigar vida.
“No início, os cientistas focaram-se nas temperaturas, procurando exoplanetas na zona habitável – nem muito perto, nem muito longe da estrela, onde a água líquida pode existir,” comenta Natalie Hinkel, astrofísica planetária do SwRI. “Mas a definição de habitabilidade está a evoluir para lá da água líquida e de uma temperatura agradável.”
Os planetas também precisam de blocos de construção para a vida, como hidrogénio, carbono, azoto, oxigénio e fósforo, bem como uma composição rochosa, incluindo elementos como ferro, silício e magnésio, para que sejam habitáveis.
Além disso, são necessários ciclos geoquímicos ativos para distribuir esses elementos por todo o planeta. Tal como visto na Terra, uma atmosfera protetora é também um requisito para a vida. “Com a tecnologia atual, não podemos medir a composição da superfície de um exoplaneta, muito menos o seu interior“, diz Hinkel.
“Mas podemos medir espectroscopicamente a abundância de elementos numa estrela, estudando como a luz interage com os elementos nas camadas superiores de uma estrela. Usando estes dados, os cientistas podem deduzir a composição dos planetas em órbita, usando a composição estelar como um proxy para os seus planetas”, explica.
Hinkel construiu uma massiva base de dados, disponível publicamente, de nome Catálogo Hipácia, para ajudar os investigadores a explorar milhares de estrelas, bem como potenciais sistemas de estrela-exoplaneta, observados nos últimos 35 anos.
Esta é a maior base de dados de estrelas e dos seus elementos para a população até 500 anos-luz do nosso Sol. Na última contagem, Hipácia tinha dados da abundância química estelar de 6156 estrelas, 365 das quais conhecidas por abrigar planetas. A base de dados também cataloga 72 elementos estelares, desde o hidrogénio até ao chumbo.
“O Catálogo Hipácia e outras grandes bases de dados de abundâncias químicas estelares abrem uma nova era de exploração exoplanetária,” realça Hinkel. A astrofísica faz parte de uma equipa de cientistas que recentemente modelou a água nos planetas em órbita da estrela vizinha TRAPPIST-1.
“Descobrimos que alguns dos planetas, incluindo um na zona habitável, são provavelmente ‘mundos de água’, composto por 5 a 25% de água, o que afetaria fortemente a sua habitabilidade. Em comparação, a Terra tem 0,02% de água.”
Hinkel trabalha agora com uma variedade de algoritmos de machine learning para explorar as formas inéditas como a presença de um planeta pode influenciar a química da estrela.