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Marques Mendes considera que “juntar PSD e Chega é naufrágio anunciado”

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Carlos Barroso / Lusa

Luís Marques Mendes

Apesar de considerar que o Governo está “em queda imparável”, Luís Marques Mendes vê um risco de “ingovernabilidade política” quer à esquerda, quer à direita.

Num artigo de opinião publicado no Diário de Notícias, Luís Marques Mendes assume que “juntar PSD e Chega numa qualquer plataforma governativa é, no plano da coerência, naufrágio anunciado”. Em termos políticos, o comentador não vê um futuro risonho, e chega mesmo a falar em “ingovernabilidade política”.

“Temo que, a somar à pandemia e à crise económica e social, possamos cair na tempestade perfeita. Acrescentando a estas duas crises o risco da ingovernabilidade política”, lê-se no artigo, intitulado Novo ciclo político – um desafio e um impasse.

Em relação ao atual Governo, o conselheiro de Estado refere que “está sem força, sem autoridade e sem norte”, uma “degradação irreversível, que já nem uma remodelação conseguirá inverter”.

Nem as eleições legislativas oferecem a Marques Mendes um vislumbre de esperança, uma vez que “a situação só tende a piorar, gerando graves bloqueios” e a “ameaça de ingovernabilidade, à esquerda e à direita, espreita com grande crueldade”.

À esquerda, mesmo que haja uma maioria de votos e deputados, “não haverá um mínimo de coerência para governar”. “É tudo tático, tudo avulso, tudo pontual, tudo conjuntural. (…) Não se garante um governo forte, uma ação reformadora e a transformação do país”, e serão a economia e a sociedade a “pagar a fatura”.

Ainda que à direita o problema seja “diferente”, não é “menos grave”. “Provavelmente nem governo alternativo, muito menos governo forte”, escreve Luís Marques Mendes, salientando que a pulverização partidária pode “dificultar e muito a construção de uma alternativa maioritária, estável e coerente”.

“Ainda vamos ver muito boa gente a invocar soluções miríficas ou ideias sebastiânicas – tipo governos presidenciais – que simplesmente não existem. São pura ficção cientifica”, aponta. Neste momento, o país precisa de “um novo modelo de desenvolvimento, um programa ambicioso de crescimento e de competitividade, uma estratégia de mobilização coletiva”.

Sobre Marcelo Rebelo de Sousa, recém-eleito Presidente da República, diz que vai ser, ao mesmo tempo, “igual e diferente“: “igual nos princípios, diferente face às circunstâncias”. “Por mais talentoso que seja, um Presidente não faz milagres. E não se substitui aos partidos”, sublinha.

“PSD deve respeito ao Chega”

O histórico militante e fundador do PPD/PSD Ângelo Correia pede ao seu partido respeito pelo Chega e respetivo eleitorado e a adoção de medidas políticas dirigidas às pessoas para combater o crescimento daquele recém-formado partido da extrema-direita parlamentar.

Em entrevista à Lusa, o gestor de empresas de 75 anos “culpou” a esquerda, a comunicação social em geral, mas também o PSD – como um todo e não a atual direção de Rui Rio -, pelo fenómeno de ascensão eleitoral do líder populista, André Ventura, rejeitando, para já, qualquer entendimento entre os partidos.

“O PSD teria, teoricamente, três opções: preparar um acordo futuro com o Chega, que rejeito; ignorar o Chega, que rejeito; ou encarar claramente a questão e optar por um tipo de política diferente. O PSD deve, como todos os partidos e cidadãos, reconhecer o Chega como partido legítimo. Se meio milhão de votos não são legítimos, então é o povo que tem de se demitir”, ironizou.

Segundo Ângelo Correia, “o erro do PSD – que o comete há dois anos -, é não ter percebido a emergência de realidades destas e, quando não se faz isso a tempo e horas, deixa-se crescer um fenómeno no espaço político que é diferente e hostil”.

“Para combater o Chega – o que é vital em Portugal -, é combater as causas que o legitimam. É ter medidas de política claras que se dirigem às pessoas para resolver os problemas. É o único caminho”, defendeu o membro da Assembleia Constituinte (1975) e da Assembleia da República (1976-1995).

O atual coordenador do Conselho Estratégico Nacional do PSD para a Defesa Nacional e antigo governante da Aliança Democrática (PPD/CDS/PPM) defende que “não se combate o Chega da forma como o PS, PCP e BE têm feito, que é exautorando-o e fazer a sua vitimização”.

“O Chega teve esta força porque a esquerda portuguesa lha deu. A única maneira é combater as causas, se ainda for possível”, vincou.

Ângelo Correia elegeu a comunicação social como “a maior responsável de todas porque propala todos os dias uma realidade que é aquela que ela quer ver e não aquela que existe”.

O candidato presidencial do Chega foi o segundo mais votado em toda a faixa interior do país, de Bragança a Beja, mas também em Faro, Leiria e na Madeira.

“Têm de pôr, uma vez na vida, a mão na consciência, naquilo que dizem e repetem à exaustão sem ler nem perceber o país”, desejou, acrescentando que “já esperava” o resultado obtido por Ventura, pois, “há muitos anos que a sociedade portuguesa se orienta por valores dados pela comunicação social e não pelos valores e realidades que o país tem”.

O ministro da Administração Interna do VIII Governo Constitucional, liderado por Pinto Balsemão (1981-83), considerou haver “uma ignorância completa, deliberada em ler a realidade”, designadamente O “desempenho do poder político”, o “cuidado e atenção à representação política”, a “cada vez maior dificuldade”, o “atraso”, a “marginalização”, o “desemprego”, a “falta de dignidade”, o “papel do interior cada vez mais subalterno”.

Tudo “fatores que empobrecem e legitimam grande parte dos comportamentos de extremo”, daí a votação no Chega”, uma força política que representa “angústias, dificuldades, frustrações desencantos, um certo espírito de redenção dado da pior maneira”, continuou.

André Ventura alcançou 12% dos votos no sufrágio de domingo, ficando na terceira posição da corrida eleitoral ao Palácio de Belém, atrás do destacadamente reeleito Marcelo Rebelo de Sousa e a cerca de 45 mil votos da ex-eurodeputada do PS Ana Gomes.

Liliana Malainho, ZAP // Lusa

4 Comments

  1. Quanto à opinião do Sr. Marques Mendes, considero que ele está equivocado, haverá sempre governo, seja de direita ou seja de esquerda. Se existir um naufrágio é o do PSD. O Sr. Rui Rio deveria saber que quem ocupa o lugar do SPD é o PS! O partido ao qual o Sr Marques Mendes pertence, é PPD/PSD!! Logo nunca ocupará o lugar do PS! O Centro é apenas uma linha da qual ou se vai para a direita ou se vai para a esquerda. O PPD/PSD vai para a direita e o PS vai para a esquerda, logo o Sr. Rui Rio está no lugar errado, ele não pode estar no lugar do PS?
    Quanto ao Sr. Ângelo Correia, confesso que não percebi onde quer chegar quando refere que a “sociedade se orienta por valores dados pela comunicação social”… Depois diz que o Chega é uma força política que representa “as angústias, as frustrações, o desemprego”… etc. Mas então são estes os valores da comunicação social?? Não percebi…
    O que eu percebo é que ainda continuam a chamar extremistas a meio milhão de eleitores e a outros tantos que não votaram.. Isso só se explica porque alguns intelectuais ficaram tão perplexos com o despertar do povo que o cérebro parou! Entraram em curto circuito e começaram a deitar fumo pelas orelhas! Eu acabei por desligar a televisão assim que o programa de ontem, O Outro Lado, da RTP 3 começou. Mas pelo pouco que vi estavam lá dois indivíduos com tamanha azia… Vergonha!

  2. Identificar problemas é uma coisa, propor soluções é outra. As soluções do Chega não são razoáveis nem sérias, são preconceituosas e, se fossem aplicadas romperiam com a coesão social. Divide, não congrega. Mas é filho do PSD de Passos Coelho que levou o partido demasiado para a Direita, tão à direita que chegou a parecer algumas vezes que o CDS estava à sua esquerda, com um discurso mais moderado. Tão para a Direita derivou que, ao que parece, deixou lá uma parte do partido. Enfim, discursos radicais não fazem bem às democracias liberais. Espero que o Chega vá esvaziando e que as pessoas ganhem espírito crítico e percebam que a solução não passa por aí. Sobram os problemas. Mas para estes há soluções mais moderadas e sobretudo mais inteligentes e pacificadoras. Dividir, como o povo sabe, só serve para alguém reinar.

  3. 2019 vai ser um ano de má memória para todos.
    Distanciamento social é fundamental para o combate contra a covid19 e Chega19.

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