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Nota artística: “É preciso o guarda-redes estar morto?”

Dérbi. Segundo dérbi nesta sequência de musicais. O primeiro foi entre vizinhos que moram na mesma cidade; agora temos vizinhos que moram na mesma região.

O Minho aquece, mesmo no outono, quando estes dois conjuntos se encontram. O encontro, desta vez, foi em Guimarães, no Estádio D. Afonso Henriques, aquele que colocava como capitão de equipa o homem que estivesse na sua formação há mais anos (pelo menos é o que diz o filho de Deus).

Sem público. Não é surpresa. Alguns jogos já tiveram cabeças humanas nas bancadas mas este dérbi não iria ser palco de um desses testes, de certeza: porque é o tal dérbi e por causa dos números recentes do corona em Guimarães. E quando, em jogos como este, olhamos para as bancadas e só vemos cadeiras vazias, é aí que confirmamos: algumas coisas não voltarão a ser como antes. Pelo menos, nos próximos tempos.

Outras coisas estão como antes. E vão continuar como antes: não houve adeptos dentro do recinto do nosso primeiro rei mas, no exterior, abundaram os seguidores da turma da casa. E houve confusão. Muito fumo, gente a mais, bastonadas policiais, cenas de violência e uns a pedir clemência “não fiques tão perto de mim!”. A culpa é da polícia, defende o clube. Não é surpresa.

São 19h59. Vamos ver quando isto começa… Ui, já começou. Já começou? Uma partida de futebol, em Portugal, começou antes da hora marcada! Isto é uma surpresa!

Já que começou, vamos analisar a primeira parte. Com a turma visitante a ser superior. Claramente superior. Mais coesa, mais coerente, talvez até mais fluída. A bola circulou com outra tranquilidade entre os pés bracarenses. E foi com tranquilidade que o Ricardo meteu a bola lá dentro perto da meia hora, num sector em que não foi surpresa – porque o Vitória defendia só com nove jogadores: é que lutar para defender não é um hábito de Quaresma e de Edwards.

Decorria uma boa exibição forasteira embalada por uma exibição de gala do Galeno. Mas no segundo tempo era preciso os homens da casa mudarem algo. Foi precisamente Quaresma a tentar mudar algo, com duas tentativas perigosas, mas frustradas. Mas pouco mais. Nem me lembro de ter visto uma defesa de Matheus.

Lembro-me de ver o Matheus no chão, alegadamente lesionado. E foi aí que entrou em ação…o Quaresma. Não queria o jogo parado, queixava-se de teatro do guarda-redes. Protestou, protestou. O árbitro Fábio Veríssimo cansou-se e perguntou ao internacional português: “Estás a brincar ou o quê? É preciso o guarda-redes estar morto?”.

Quem dera ao árbitro que aquele tivesse sido o momento mais agitado da noite, em termos de confronto direto com os futebolistas.

Não foi.

Num dérbi globalmente tranquilo, eis que aos 81 minutos David Carmo, talvez irritado por ter realizado um mau passe dois segundos antes, lembrou-se de aparecer com o pé no ar para atingir Edwards… E começou a festa. Um verdadeiro vira do Minho. Vira-te tu para aqui, viro-me para ali. O árbitro vira-se para expulsar alguém (e nem se percebeu quem, nos primeiros instantes). Vira um cartão vermelho, vira dois, vira três.

O jogo virou-se, aí. Mas sabem quem ficou longe desta festa? O Quaresma. Distanciado uns metros, na única vez em que se aproximou foi para tentar acalmar os colegas de profissão. Ele e o Sílvio, sobretudo. Sem muito sucesso, coitados.

Quem também esteve a assistir a este vira, ao longe, foi Gaitán. O argentino ia estrear-se pelo Sporting de Braga – aliás, já estava a vestir a camisola quando David Carmo endoideceu – mas, como a sua equipa ficou com nove jogadores em campo, as prioridades alteraram-se. E Gaitán ficou à margem de um jogo. Outra vez.

E um jogo que quase acabou ali. Triunfo bracarense. Outra vez. Começa a ser o padrão nas últimas épocas.

Mas o panorama há-de mudar porque, numa formação comandada por D. Afonso Henriques, todos lutam.

NMT, ZAP //

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