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Polícia encerra escritório do canal de televisão Al-Jazeera na Tunísia

Kate Nevens / Flickr

Estúdios do canal Al-Jazeera

A polícia encerrou esta segunda-feira o escritório em Tunes do Catar Al-Jazeera, depois de expulsar todos os jornalistas das suas instalações, disse o diretor do canal televisivo, Lotfi Hajji, à agência de notícias France-Presse (AFP).

“Cerca de quinze polícias, alguns com fardas e outros à paisana, entraram no nosso escritório e pediram-nos para o abandonar”, disse Hajji, referindo que nenhuma explicação ou decisão judicial foi fornecida.

De acordo com os jornalistas, que tiveram de abandonar a sede da Al-Jazeera, as autoridades argumentaram que estavam “a aplicar as instruções” recebidas.

“O que está a acontecer é muito perigoso, é a prova de que a liberdade de imprensa está ameaçada. Hoje é a Al-Jazeera, noutro dia outro meio de comunicação!”, alertou o diretor do canal de televisão, explicando que as chaves do escritório foram confiscadas.

Segundo a mesma fonte, vários polícias terão permanecido no corredor do escritório da Al-Jazeera, enquanto outros controlavam os arredores do prédio.

O encerramento do canal de televisão ocorreu um dia após Kaïs Saïed anunciar a suspensão das atividades do Parlamento por 30 dias e a demissão de Hichem Mechichi.

Ministros da Defesa e da Justiça são exonerados

Entretanto, horas após destituir o primeiro-ministro Hichem Mechichi e suspender o parlamento por um período de 30 dias, o Presidente tunisino, Kais Said, decretou a exoneração dos ministros interinos da Defesa e Justiça, Ibrahim Bartaji e Hasna Ben Slimane.

Após esta decisão — que se seguiu ao encerramento do parlamento justificado pela necessidade “de recuperar a paz social e salvar o Estado e a sociedade” –, as duas pastas serão dirigidas por secretários-gerais ou por responsáveis de assuntos administrativos e financeiros dos respetivos departamentos até à designação de um novo primeiro-ministro e a formação de um novo executivo, revelou a Presidência em comunicado.

A mesa do parlamento reuniu-se esta segunda-feira pela primeira vez após a dissolução de Assembleia e definiu a iniciativa de Said de “odioso golpe de Estado”, exortando o Exército e as forças de segurança a “respeitar o seu juramento e proteger a Constituição e preservar o Estado e as instituições”.

Rached Ghannouchi, presidente do hemiciclo e líder do partido islamita conservador Ennahda, desmentiu ter sido consultado e fornecido a sua aprovação à dissolução, como referiu Said, que assegura ter recorrido ao artigo 80.º da Constituição que lhe concede o poder de adotar “medidas excecionais” perante um “perigo iminente” após consultas ao chefe de Governo e presidente do parlamento.

No domingo, Said anunciou que assumirá a chefia do executivo com a ajuda de um novo primeiro-ministro que deverá designar em breve, a par da retirada imediata da imunidade parlamentar a todos os deputados.

Diversas sedes do partido Ennahda foram assaltadas e incendiadas no domingo no decurso de manifestações que decorreram no país magrebino para exigir a demissão do Governo e a dissolução do parlamento devido à sua gestão da crise sanitária provocada pela pandemia do coronavírus e a deterioração das condições de vida.

A Tunísia iniciou a sua transição democrática em 2011 com a designada “Revolução do jasmim” que derrubou a ditadura de de Zine El Abidine Ben Ali, no poder há duas décadas, e que originou um total de dez governos, incapazes de solucionar a grave crise económica e social do país.

ZAP // Lusa

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