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Mulher do presidente da Câmara de Gaia foi aumentada 390% (ou 23%)

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Bruno Santos / wikimedia

Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia

Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia

Em apenas cinco anos, o salário da mulher do presidente da Câmara de Gaia aumentou mais de 390% – de 475 euros em 2010 para mais de 2300 euros no ano passado. Mas o autarca nega as acusações, e rejeita o cálculo do aumento.

A notícia é divulgada pelo Público, que adianta que o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Porto já está a investigar as ligações entre três Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) de Gaia e a autarquia, para saber se existe algum ilícito criminal.

A mulher do autarca de Gaia, Elisa Costa, é vice-presidente da assembleia geral na Sol Maior e diretora técnica desta IPSS de que o marido é co-fundador.

Na direcção desta IPSS tem assento o chefe de gabinete de Eduardo Vítor Rodrigues, António Rocha, e a sua irmã, Margarida Rocha, adjunta do presidente da autarquia.

A Sol Maior também dá emprego a Armanda Moreira, mulher do vice-presidente de Gaia e presidente da Olival Social, uma IPSS fundada em 2006 – na qual o seu pai, Manuel Azevedo, desempenha o cargo de segundo vogal da assembleia-geral.

De acordo com o Público, entre 2010 e 2015, a mulher do presidente da Câmara de Gaia viu a sua remuneração base passar de 475 para 2343,71 euros. Mas foi a partir de Outubro de 2013, que o salário base de Elisa Costa conheceu sucessivos aumentos.

Nessa altura, o vencimento era já de 800 euros e subiu para 1018 euros, em Maio de 2014. Cinco meses depois, a direção da Sol Maior voltou a aumentar a diretora técnica em 150 euros, chegando a sua remuneração aos 1168 euros.

Eduardo Vítor Rodrigues afirmou ao jornal que o “alegado duplo aumento no mesmo ano [2014] não se concretizou nesses termos, tendo constado de uma atualização anual remuneratória de acordo com a tabela das IPSS e o seu índice de atualização, cumulativamente a uma condição de isenção de horário devido ao tempo de trabalho fora de horas, nunca tendo beneficiado de remuneração de ‘trabalho extraordinário’”.

A mulher do autarca começou por negar os aumentos, mas depois considerou-os “normais”, justificando que estes “decorrem das responsabilidades” que desempenha.

393% sobre meio tempo – e no mês do subsídio de férias

O presidente da Câmara de Gaia já comentou o assunto no Facebook, numa publicação onde divulga a declaração de rendimentos que entregou no Tribunal Constitucional.

“Não se compara o vencimento de uma pessoa usando o tempo em que esteve a meio-tempo e o tempo em que passou ao quadro, com vencimento da tabela da Segurança Social. Não se compara o vencimento de uma pessoa usando o mês do subsídio de férias” afirmou o autarca.

A única riqueza que acrescentei foi a dos amigos. Estou preparado para lutar contra a mixórdia em que alguns vivem e para lhes responder em todos os lugares. E estou pronto para lutar contra aqueles que querem confundir os tempos e as estações”, acrescentou.

O chefe de gabinete de Eduardo Vítor Rodrigues, António Rocha, também já se pronunciou acerca do assunto nas redes sociais, dizendo que o facto de um jornal de referência calcular “percentagens de aumentos usando o mês em que se recebe o subsídio de férias mostra bem o estado de literacia matemática do país”.

“Que a campanha de falsas notícias já começou não restam dúvidas”, sublinhou António Rocha.

Caso o valor inicial de salário de 474 euros seja efectivamente referente a um trabalho a meio tempo, o valor base a considerar para a comparação com o salário actual a tempo inteiro deveria ter sido de 950 euros.

E caso o valor de 2343 euros referido pelo jornal Público seja referente à remuneração duplicada com o subsídio de férias, a real remuneração actual de Elisa Costa será de 1172 euros – ou seja, um aumento de 23% em cinco anos.

ZAP //

20 Comments

    • Faz falta aí,um Sérgio Moro,para limpar esse lixo de politiqueiros,de resto estou como diz”Minha casa Minha vida”mas unicamente a desses gatunos com rótulo de Partido politico “P” qualquer coisa.

  1. Como é que é possível reproduzirem o erro original?! Leem o que escrevem?! É triste tão mau jornalismo. Duplicar o ordenado era suficientemente questionável, não era necessário mentir nos números. Muito triste que o povo português em geral e os jornalistas em particular tenham tão grande falta de sentido crítico. Aliás, para a maior parte basta ler o título para começarem a criticar… Acontece que, neste caso, o título é contrariado pelo corpo da notícia! Falta de vergonha e falta de profissionalismo.

    • Cara Paula,
      As nossas desculpas, mas não estamos a conseguir identificar exactamente o “erro que reproduzimos”, em que aspecto é que estamos a “mentir nos números”, e de que forma é que “o corpo da notícia contraria o título”.
      O corpo da nossa notícia especifica que “de acordo com o Público, entre 2010 e 2015, a mulher do presidente da Câmara de Gaia viu a sua remuneração base passar de 475 para 2343,71 euros”
      Um aumento de 475€ para 2343,71€ é um aumento de 1868,71€ – ou seja, um aumento de 393% de 475€, num período de 5 anos.
      O facto de a notícia original, bem como a nossa, detalharem outros aumentos maiores ou menores, que tenham ocorrido em intervalos de tempo maiores ou menores, não invalida que “Mulher do presidente da Câmara de Gaia foi aumentada 390% em cinco anos”
      A nossa notícia é baseada na informação que o jornal Público divulgou.
      A essa informação acrescentámos, transcrevendo-os, os esclarecimentos do presidente da Câmara e do seu chefe de Gabinete.
      Não temos nenhuma vergonha do trabalho que fizemos, e rejeitamos a sua acusação de falta de profissionalismo.
      Se nos apontar concretamente o erro que cometemos, cá estaremos para o corrigir e dele nos retratarmos.

      • Caros jornalistas, explicarei por partes para que não restem dúvidas:
        – algum e vós VIU o recibo de vencimento?!
        – É que no título fazem uma afirmação. Como é que podem fazer uma afirmação se até já há um desmentido?!
        – Procuraram confirmar se o desmentido é ou não correto?!
        – Depois de já ter havido um desmentido (que podemos ou não acreditar nele, claro) acham que o título da vossa notícia é correto?!
        – Caso o desmentido seja verdade, consideram que é notícia dizer que alguém foi aumentado por passar de meio tempo para tempo inteiro?!
        – Confirmaram qual a tabela aplicável nas IPSS?!
        – Acham que a maior parte das pessoas que vos leem conseguem sequer perceber o significado do intertítulo “393% sobre meio tempo – e no mês do subsídio de férias”?!
        Dito isto, como bem sabem, a maior parte das pessoas irá registar apenas a afirmação que colocaram no título e nem sequer passará do primeiro parágrafo do texto. Mesmo que passem, dificilmente percebem as contas…
        Enfim, se ficam satisfeitos por fazer jornalismo desta forma, quem sou eu para vos questionar… Se acham que esta notícia informa… Reservo o meu direito de achar que mentem e desinformam quando a escreveram e que nem sequer quiseram procurar a verdade. É pena.

      • Já tinha escrito uma resposta mas o vosso site bloqueou e apagou o meu comentário… Dar-me-ei ao trabalho de voltar a responder na esperança de que, pelo menos, pensem sobre o que vos vou perguntar.
        – Os senhores acham que é bom jornalismo começar a notícia com uma afirmação categórica?! Vejamos o que vos faltou fazer:
        1 – com certeza não terão tido acesso ao recibo de vencimento;
        2 – não terão consultado a tabela das IPSS para confirmar se o que é dito no desmentido tem ou não correspondência na realidade;
        3 – a pessoa em causa passou ou não de meio tempo para tempo inteiro?

        – Acham que a maior parte dos vossos leitores vai ler e propagar mais do que o título?!
        – Acham que alguém compreende o intertítulo “393% sobre meio tempo – e no mês do subsídio de férias”?!
        – Acham que é notícia uma pessoa passar a ganhar mil e tal euros porque mudou de meio tempo para tempo inteiro?!
        – Quanto é que é o vencimento real mensal da pessoa em causa? Os senhores sabem? É que a vossa notícia para nos 1168 euros de 2014. E em lado nenhum se percebe muito bem (porque provavelmente os senhores jornalistas também não perceberam mas, mesmo assim, escreveram a notícia) se a senhora em causa tem agora um vencimento de 2343,71.

        – Podem explicar aos vossos leitores se esse valor de 2343,71 corresponde de facto – como foi dito no desmentido – a 1 vencimento + 1 subsídio de férias?!
        Presumo que não poderão fazer esse esclarecimento… Simplesmente porque se limitaram a reproduzir a notícia do Público e os desmentidos sem se preocuparem minimamente com a VERDADE. Sem sequer se preocuparem com perceber o que estava a ser dito.
        Notem que não sou do partido do Presidente da Câmara de Gaia. Nem sequer tenho partido e, se tivesse, não era garantidamente o dele. Mas entristece-me que os jornalistas que têm o dever ético de combater a manipulação e o dever deontológico de defender a verdade, sejam capazes de reproduzir uma suposta informação que não passa de desinformação manipulativa, servindo interesses dos quais nem sequer se apercebem…
        Se, respondidas as questões que coloquei, ainda acharem que fizeram bom jornalismo, ótimo… Quem sou eu para vos dizer que o como, quem, o quê, porquê e quando estão mal respondidos na vossa notícia…

      • Cara Paula,
        Efectivamente, se, como esclarecem o autarca e o seu chefe de Gabinete, o jornal Público calculou o aumento em 393% com base num salário inicial de meio tempo e num valor recebido a dobrar como segundo salário, então, pelas nossas contas, o aumento é de 23%.
        E nesse caso, efectivamente, mau grado termos na notícia expostas as duas versões, o nosso título inicial é enganador.
        E como acima lhe dissemos, cá estamos para nos retratar.
        Iremos ajustar o título e acrescentar o nosso cálculo na notícia.
        Obrigado pelo seu reparo.

      • Eu é que agradeço a resposta e a análise crítica. Aliás, a vossa notícia passa a ser mais correta que a do Público. Permitam-me ainda sugerir o seguinte: independentemente da fonte, questionem! Tentem acrescentar algo nas notícias que dão. Eu sei que é mais trabalhoso e mais consumidor de tempo. Também sei que muitas vezes a carga de trabalho não se coaduna com esses tempos necessários ao melhoramento de uma notícia. Mas aposto que se sentirão mais realizados e mais felizes com o trabalho que fazem.
        Agradeço o facto de não terem ignorado a minha crítica e o tempo que gastei para a fundamentar e torná-la mais construtiva. E desejo a toda a equipa (que deve ser pequena porque hoje em dia explora-se muito os trabalhadores, jornalistas incluídos) um ano novo com saúde, momentos felizes e sentido crítico!

      • Parabéns pela honestidade em assumir o erro. No entanto, este erro denota alguma falta de cuidado editorial. Apesar da notícia não ser da vossa autoria (como todas ou quase todas as que publicam), julgo ser importante uma análise da mesma antes desta ser reproduzida.
        Tal como se nota por muitos dos comentários, poucos leitores têm a inteligência de questionar o que lêem, tal como a leitora Paula fez.

  2. A minha mulher entrou por concurso a nível nacional em 1985 na função pública e ganhava à volta de 400 e poucos euros, na moeda atual e hoje passado 31 anos subiu uns míseros 200 euros. E e licenciada.

    • É curioso: já estive na função pública onde entrei por concurso nacional e, como licenciada, há 13 anos atrás entrei logo a ganhar cerca de mil euros… Estava convicta que havia uma tabela a respeitar. Se este leitor não o tivesse afirmado até me custava a acreditar que um licenciado esteja a receber 600 euros. Mas, caso seja verdade, facto que lamento, penso que há outras opções de carreira não estatal que pagam o mesmo ou mais. Aliás, em 1985, as opções eram muitas mais do que hoje e com vencimentos tão baixos não me ocorreria ter continuado a ser funcionária pública.

      • Os meus parabéns. Se quiser posso enviar lhe as cópias dos documentos. A minha esposa não é a única. Depende da função de cada um e dos serviços na função pública. A senhora faz me lembrar as pessoas que estão no privado e só dizem que os funcionários ganham muito.

      • Não disse – nem acho – que todos os funcionários públicos ganhem muito. Aliás, o que me surpreende é como é que a ganharem pouco (e a queixarem-se disso) não fazem outras opções de carreira.
        São mesmo muito estranhas para mim as opções profissionais que as pessoas fazem de se manterem como funcionários públicos quando acham que estão mal pagas. Porque não procuram/procuraram outras opções mais bem pagas?!
        Não é nenhuma crítica dirigida ou pessoal. É uma perplexidade que sempre me assalta quando ouço alguém dizer que está num emprego (público ou privado) há décadas e que sempre foi mal pago. Cada um sabe de si e das suas opções. Só tenho que respeitar as opções alheias. O que não tenho é que ter pena de ninguém pelas suas escolhas pessoais e muito menos tenho que achar que todos os funcionários públicos merecem o pouco (ou muito) que ganham. Como em qualquer empresa/serviço há muita gente na função pública para quem o pouco que paguem já é demais porque não o merecem. Haverá outros que será o contrário: pelo muito que fazem, pelo seu profissionalismo e dedicação mereciam ganhar mais. Mas enquanto o Estado pagar a muitos para fazerem pouco, os poucos que fazem muito continuarão a ser mal pagos… É pena que nunca ninguém tenha coragem para fazer a verdadeira reforma do Estado. Estou certa que a pagar melhor a menos pessoas, teríamos melhores serviços…
        Voltando ao assunto da notícia: acho estranho que considerem um ordenado de mil euros um exagero. Isso demonstra que no nosso país se paga muito mal. Mil euros parece-me normalíssimo para pagar a um licenciado (ressalvo que nem sequer sei se a pessoa visada nesta notícia é ou não licenciada mas presumo que sim porque tem um cargo de diretora técnica). Se se vier a provar que afinal são mais de dois mil euros, nesse caso poder-se-á questionar o aumento exagerado num curto espaço de tempo. Mas sem sabermos onde está a verdade não devemos condenar quem ainda nem sequer foi julgado…

      • No organismo publico onde trabalho, as pessoas que entraram na decada de 80 sem qualquer formação superior, ganham hoje entre 1200 e 1700 euros líquidos consoante a antiguidade. Técnicos superiores dessa altura, ganham entre 1800 e 3000 euros nos casos que já tiveram funções diretivas. Hoje em dia contatam-se licenciados por 800 euros que levam com o trabalho todo e com a responsabilidade. É assim que esta a função publica e por isso é que esta o pais na ruina.

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