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Já é possível navegar pela misteriosa Nebulosa do Caranguejo (e ver o seu “coração-colmeia”)

(dr) Thomas Martin

Novas imagens capturadas pelo instrumento SITELLE no telescópio Canadá-França-Havai (CFHT) revelam um intrincado arranjo de filamentos de gás, em forma de colmeia, no centro da Nebulosa do Caranguejo.

No ano de 1054, astrónomos chineses ficaram surpreendidos com o aparecimento de uma nova estrela, tão brilhante que era o objeto mais brilhante no céu noturno, perdendo apenas contra a Lua, que ficou visível em plena luz do dia por 23 dias. A explosão estelar também foi registada por astrónomos japoneses, árabes e nativos americanos.

Atualmente, a Nebulosa do Caranguejo é visível no local daquela estrela brilhante. Também conhecida como Messier 1, NGC 1952 e Taurus A, fica a aproximadamente 6.500 anos-luz de distância na constelação de Touro.

A nebulosa foi identificada pela primeira vez em 1731 pelo médico inglês, investigador elétrico e astrónomo John Bevis e foi redescoberta em 1758 pelo astrónomo francês Charles Messier. O seu nome deriva da sua aparência num desenho feito pelo astrónomo irlandês Lord Rosse, em 1844.

Apesar da rica história de investigação, muitas questões permanecem sobre que tipo de estrela lá estava originalmente e como é que a explosão original terá ocorrido.

Com o objetivo de responder a essas perguntas, Thomas Martin, astrónomo da Université Laval, no Canadá, e os seus colegas usaram uma nova reconstrução 3D da nebulosa. “Os astrónomos agora serão capazes de se mover dentro da Nebulosa do Caranguejo e estudar os seus filamentos um por um”, disse Martin, citado pelo SciNews.

Os investigadores usaram o poderoso espectrómetro de imagem SITELLE para comparar a forma 3D da nebulosa com dois outros remanescentes de supernova: 3C 58 e Cassiopeia A.

Surpreendentemente, a equipa descobriu que todos os três remanescentes tinham material ejetado organizado em anéis de grande escala, sugerindo uma história de mistura turbulenta e plumas radioativas a expandir-se de um núcleo de ferro colapsado.

“A fascinante morfologia da Nebulosa do Caranguejo parece ir contra a explicação mais popular da explosão original”, disse Dan Milisavljevic, astrónomo da Universidade Purdue, nos Estados Unidos.

“A Nebulosa do Caranguejo é frequentemente entendida como sendo o resultado de uma supernova de captura de eletrões, desencadeada pelo colapso de um núcleo de oxigénio-neón-magnésio, mas a estrutura de colmeia observada pode não ser consistente com este cenário”, explicou.

“SITELLE foi projetado com objetos como a Nebulosa do Caranguejo em mente, mas o seu amplo campo de visão e adaptabilidade tornam-no ideal para estudar galáxias próximas e até mesmo aglomerados de galáxias a grandes distâncias”, disse Laurent Drissen, astrónomo da Université Laval e da Université de Montréal, ambas no Canadá.

“É vital que entendamos os processos fundamentais das supernovas que tornam a vida possível. SITELLE desempenhará um papel novo e estimulante neste entendimento”, disse Milisavljevic.

Este estudo foi publicado em janeiro na revista científica Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Maria Campos, ZAP //

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