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A humanidade sobreviveu a cinco apocalipses. E está preparada para mais

Nos últimos meses, a atenção mediática tem recaído sobre temas como pandemias, vulcões, sismos e outras catástrofes a que, não sendo novidades, a humanidade tem vindo a sobreviver de forma quase inexplicável.

Pandemias, vulcões, sismos, cheias ou deslizamentos de terras. Em comum têm o facto de representarem autênticas situações de catástrofe para os indivíduos que vivem nas zonas mais atingidas e de serem amplamente divulgadas pela comunicação social pelas consequências que originam.

No entanto, a verdade é que há séculos que o planeta lida com elas e há séculos que a humanidade tem conseguido sobreviver — apesar de em algumas episódios a população mundial ter sofrido quebras significativas, como aconteceu com a gripe espanhola, por exemplo.

À Discover Magazine, Jake Frederick, professor de história na Universidade de Lawrence com especial interesse em catástrofes e respetivas consequências, afirmou que este tipo de “desastres são quase uma parte da história humana“. “O planeta está adaptado para lidar com estas coisas. Apenas se tornam desastres quando começam a ter um impacto negativo na vida dos seres humanos.”

Porém, nota o especialista, o facto de tantas espécies terem sobrevivido a estes eventos tornou-as “especialistas” em lidar com eles. Segundo Frederick, os humanos, por exemplo, são incrivelmente adaptáveis. “Podemos pô-los em qualquer ambiente e eles vão simplesmente suportar as condições com que são confrontados“, apontou.

Erupção do Toba

Entre algumas das catástrofes mais temidas estão os vulcões — na ordem do dia devido à erupção do Cumbre Vieja, na ilha de La Palma. A dimensão da sua erupção não é comparável, contudo, com a do Monte Toba, um super vulcão que terá acontecido há 74 mil anos no que corresponde atualmente à Indonésia.

Aquela que se acredita ter sido a maior erupção de um vulcão na história, resultou na emissão de toneladas de poeiras para o ar, as quais cobrirem os territórios da Indonésia, Índia e Oceano Índico. A erupção atingiu  o nível 8 do Índice de Explosividade Vulcânica, com as ondas de choque a espalharem-se por todo o mundo.

A propagação das cinzas pela atmosfera teve também consequências ao nível da luz solar que era recebida e, consequentemente, nas temperaturas mundiais que terão descido entre 3 a 5 graus fahrenheit — com todo o impacto que isto teve na fauna e flora.

Alguns estudos científicos recentes sugerem que apenas 3 mil a 10 mil indivíduos sobreviveram às alterações climáticas tão extremas como as que resultaram da erupção do Monte Toba, apesar de estes números serem contestados por outras investigações científicas.

O ano que não teve verão

Na mesma linha, a erupção de um outro supervulcão, no monte Tambora, na ilha indonesa de Sumbawa, também terá deixado o mundo do avesso face à libertação de cinzas, fumo e gases tóxicos pela atmosfera e por todo o território circundante.

Os relatos que nos chegam — o evento aconteceu em abril de 1815 — indicam que este terá originado a morte de 10 mil habitantes da ilha de forma imediata, apesar de as consequências se terem expandido por geografias muito mais vastas.

À semelhança do vulcão do Monte Toba, também este esteve na origem de uma queda das temperaturas na ordem dos 5 graus e mesmo após um ano depois da erupção tanto a América do Norte como a Euroásia registavam condições climáticas extremas.

O ano de 1816 ficou mesmo conhecido como o ano que não teve verão e estima-se que entre 100 mil e 200 mil pessoas tenham morrido por motivos de fome ou doenças relacionadas com a erupção. O supervulcão Tambora continua em atividade até aos dias de hoje, apesar de esta ser muito mais controlada.

As idades do gelo

Para além dos vulcões, outra das catástrofes com graves consequências ao nível da vida humana tem que ver com as alterações atribuídas às idades do gelo, as quais eram tão severas (temperaturas extremamente baixas) que representavam um ameaça à sobrevivência das espécies. Estes períodos prolongados de tempo eram influenciados por variações na energia solar, mas também pela órbita do nosso planeta.

É aqui que podemos localizar o início de muitos dos glaciares que perduraram durante milhares ou milhões de anos — uma clara oposição ao que estamos a viver atualmente.

Os climatólogos estimam que o planeta tenha estado submetido, há cerca de 20 mil anos, a temperaturas tão baixas que resultaram camadas de gelo que se estendiam pelos dois hemisférios.

Mais uma vez, as temperaturas também foram fortemente afetadas, com descidas na ordem dos 10 graus. Tal como sugere a Discover Magazine, estas condições eram extremamente difíceis e tornavam a sobrevivência de qualquer espécie um autêntico desafios. Entre as que conseguiram resistir está o Homo sapiens.

A “Morte Negra”

No leque de doenças que já ameaçaram dizimar a humanidade, consta a peste bubónica, a qual terá tido início milhares de anos após o fim da Idade do Gelo, já que as condições mais amenas terão permitido, entre outras coisas, a conexão entre as pessoas.

Na origem da peste bubónica — com início estimado em 541 d.C —, esteve a bactéria Yersinia pestis, a qual quase dizimou toda a espécie humana, apontam os investigadores. A doença começou a espalhar-se pela Eurásia e pela África, provocando a morte a cerca de 50 milhões de pessoas num único ano.

Em 1347, a doença fez uma nova aparição. Os principais sintomas que lhe estão associados são mal-estar, alucinações, diarreia, bolhas, tosse e inchaços negros — estes últimos apareciam junto das ancas e axílas dos doentes, um sinal de que a morte estaria próxima.

Nesta fase, a doença provocou quase 200 milhões de mortes na Eurásia e em África  quase metade da população humana da altura.

Pieter Brughel des Älteren / Wikimedia

"Triunfo da Morte", quadro de Pieter Brughel des Älteren

“Triunfo da Morte”, quadro de Pieter Brughel des Älteren

Pandemias globais

No entanto, o planeta, desde que a globalização se iniciou, foi palco de outras pandemias, já que o contacto humano facilita a propagação das mesmas.

Os descobrimentos, por exemplo, permitiram a expansão de vírus europeus por territórios como a Ásia e a América onde viviam indivíduos isolados que não haviam tido contacto com estes vírus anteriormente.

Entre as doenças transmitidas constam a varíola, a cólera, o sarampo e a febre tifose — com os seus impactos a fazerem-se sentir de imediato nas populações indígenas. Estima-se que no espaço de tempo compreendido entre 100 e 150 anos cerca de 90% da população indígena do mundo tenha morrido por este motivo.

As mortes aconteceram em níveis tão altos e dramáticos que o CO2 e a temperatura da Terra decresceram de forma clara. “O massacre dos povos indígenas das Américas resultou num impacto global no sistema da Terra, impulsionado pelo ser humano, nos dois Séculos anteriores à Revolução Industrial”, concluiu um estudo publicado em 2019 na revista científica Quaternary Science Reviews

Apesar de muitas destas catástrofes ainda poderem acontecer nos dias de hoje, os especialistas acreditam que a ciência nos está a proteger de muitas das consequências possíveis.

Seja através de medicamentos, vacinas, previsões sísmicas ou eruptivas, o ser humano está mais protegido do que alguma vez esteve, não existindo, à exceção da emergência climática, motivos para receios ou pânicos relacionados com a possível extinção humana.

Mas, pelo sim pelo não, talvez não seja boa ideia viver para os lados da Indonésia.

ARM, ZAP //

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