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“Escândalo”. FCSH acusada de abrir concurso à medida de Raquel Varela

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International Institute of Social History

A historiadora Raquel Varela.

A Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa está a ser acusada de abrir um concurso à medida da historiadora Raquel Varela.

A polémica com a historiadora começou na segunda-feira, 20 de setembro, quando o jornal Público anunciou que Raquel Varela perdeu o “apoio” do Instituto de História Contemporânea (IHC) a um concurso da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) devido a “erros” no currículo.

O jornal identificou cinco livros e sete artigos cujas entradas estão duplicadas, além de outros dois artigos que surgem três vezes no seu currículo.

Raquel Varela já veio negar qualquer manipulação e revelou, em declarações ao jornal i, que vai avançar com um processo judicial contra o IHC.

Agora, Diogo Ramada Curto, professor catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa, considera “um escândalo” o concurso público aberto pela faculdade para a contratação de um professor auxiliar na área disciplinar de Ciências Sociais.

“O concurso tem a fotografia dela, tanto do ponto de vista dos requisitos, como do ponto de vista da escolha do júri, que têm todos ligação a ela. É completamente restritivo”, disse o historiador ao Observador.

Diogo Ramada Curto argumenta que o caso dos supostos erros no currículo de Raquel Varela é de somenos importância quando comparado com o processo alegadamente em curso na FCSH.

“Escrevo-vos esta mensagem (…) depois de ter lido o edital de abertura de um concurso destinado a integrar, na carreira a Raquel Varela, na FCSH e no vosso departamento. O perfil científico do edital e as ligações dos membros do júri à única candidata possível denunciam que estamos em presença de um concurso que tem, à partida, um único resultado”, lê-se no email enviado a dois colegas a dar conta do seu “repúdio franco e frontal”.

O concurso exige “no mínimo dez” artigos publicados nas bases de dados académicas Scopus e Web of Science “nos domínios dos estudos interdisciplinares de Sociologia e de História Global do Trabalho dos séculos XX e XXI” — que só Raquel Varela tem.

“O perfil descrito corresponde a uma área que é reivindicada por ela, mas não é um nicho, conheço pessoas que poderiam concorrer mas não vão fazê-lo porque sabem que não têm hipótese”, contou o historiador.

Ramada Curto também critica a composição do júri: “Um concurso aberto não pode ter o orientador de doutoramento ou pessoas com as quais a putativa candidata já publicou coisas”.

Além disso, um professor numa outra universidade de Lisboa realçou que o próprio edital não obedece à lei, uma vez que a vaga aberta se insere numa área disciplinar que não existe na FCSH.

Daniel Costa, ZAP //

14 Comments

  1. Conversa para aparecer nas notícias! Na Universidade portuguesa quando se abre um concurso numa área específica há sempre membros do juri que trabalharam com algum dos concorrentes (Devem ser professores catedráticos e terem trabalho na área, (5 no mínimo) deve ser quase impossível encontrar em Portugal alguma área em que se possam encontrar elementos para um júri que não tenham tido alguma colaboração com todos os possíveis candidatos!). Visto do outro ângulo: Como o júri tem que ser publicado antes da abertura do concurso, ao colocar um nome estariamos a afastar do concurso todos os posíveis candidatos que colaboraram alguma vez com ele (como se devem incluir os Catedráticos mais importantes da área, estariamos a excluir possívelmente os melhores candidatos (que já foram “seriados” anteriormente pelo Catedrático para trabalharem com ele).

  2. Porquê escândalo?
    Isso é o pão nosso de cada dia em vários setores da Função Pública: ensino superior, câmaras municipais, etc.

    • Nas empresas também ocorre. Por exemplo: são promovidos aqueles que lambem os pés aos chefes e que jogam futebol ao fim de semana com o team leader.

  3. Se é verdade o que diz o incógnito(a) MM, também é verdade que neste país de demasiados espectadores e poucos actores, os pseudo concursos abertos, apenas servem para mascarar o sistema de nomeações (e não de verdadeiros e transparentes concursos) colocando os incompetentes, nulos e medíocres, no lugar dos que pelas suas capacidades aí deveriam ter assento. Note-se neste caso, que o esquema é transversal a toda a gama de tendências e partidos da cena lusitana. Continuemos a assistir passivamente…

  4. Um ataque a quem tem língua afiada para atacar o poder instituído.
    Um ataque a quem tem a ousadia de fazer o contraditório.
    Um ataque a quem a ousadia de pensar por si próprio.

    Não tem nada a ver com currículos ou concursos, tem a ver com silenciar uma voz contra o sistema.

    • Voz contra o sistema ? Ridiculo ! Faz parte do sistema !! O sistema académico portugues está fechado sobre sí próprio, cheio de armadilhas e entraves, compadrios, poderes obscuros, amizades convenientes, limitando o acesso de novos participantes, não é isto que estamos a observar ??

      • É isso que estamos a falar, é certo. Mas não vamos esconder o Sol com a peneira e fingir que a Raquel não é uma voz contra o (outro) sistema a que me referia no comentário anterior.

        Acha bem andar tudo de fralda na cara durante um ano?
        Acha bem aplicar vacinas experimentais em crianças de 5 anos?
        Acha bem ter que mostrar um passaporte para ir jantar fora, ir a um concerto ou a uma museu?

      • Ahahaaa… mais uma crente iluminada (no Facebook) pela seita da Raquel Varela, Joana Amaral Dias, Camilo Lourenço, José Gomes Ferreira, etc, etc – tudo seres com uma sabedoria extraordinária que lhes permite ter autoridade sobre todos os assuntos – mas que depois fazem as figuras que se vão vendo!…
        Ataque aqui só vi o teu; principalmente à inteligência, à ciência e ao bom senso!!

      • Amém.
        Uma voz “contra o sistema ” que vive a custa do sistema – e que agora , alegadamente, tenta burlar o sistema!!
        Estava tão bem junta com o Ventura!…
        Ou, como ela agora percebe muito de vacinas, também ficava bem com aquele ex-juiz alucinado!…
        Enfim; “treinadores de bancada” armados em “salvadores” dos tótos, perdão, dos oprimidos…

  5. Isto é norma no Estado.
    Mesmo contra a vontade todos os dirigentes fazem.. e depois também se aproveitam.
    Bastava um ligeiro inquérito aos serviços (não aos dirigentes nem aos políticos com esses pelouros – como a DGI das autarquias locais costuma fazer), onde todos sabem muito bem como se costuma fazer.
    Por isso a nossa Administração Pública tem maioritariamente incompetentes a dirigi-la.

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