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Estabelecimentos de Santos vão encerrar mais cedo. Psicólogos alertam que fim de restrições pode levar a excessos

Manuel Fernando Araujo / EPA

Redução do horário é a solução encontrada pelos empresários para dar resposta à recente onda de criminalidade que se tem registado na zona de Santos. Especialistas em psicologia apontam o levantar das medidas de restrição, usadas nos últimos meses para conter a propagação da pandemia, como justificação possível para o fenómeno.

Os empresários da zona de Santos, em Lisboa, vão encerrar os estabelecimentos às 23:00, entre quinta-feira e domingo, de modo a controlar os ajuntamentos noturnos, informou hoje o presidente a Junta de Freguesia da Estrela. Os estabelecimentos encerrarão assim três horas mais cedo que o habitual.

Após ter-se reunido hoje à noite com os empresários, para discutir a questão da segurança na área do Largo Vitorino Damásio e envolvente do Jardim de Santos, Luís Newton (PSD) explicou que o objetivo do adiantamento do horário de encerramento dos estabelecimentos é criar condições para apoiar o trabalho da PSP e assegurar que não há “ajuntamentos a partir das 02:00”.

“A forma mais fácil de criar essas condições é assegurar o encerramento dos estabelecimentos a partir de uma hora anterior a esses ajuntamentos. [Os empresários] disponibilizaram-se a fazer um [teste] piloto, para experimentar que esta intervenção só faz sentido ocorrer se contar com o envolvimento da PSP e assim facilitar a sua ação, no âmbito da manutenção da ordem pública e evitar ajuntamentos”, disse o autarca.

De acordo com Luís Newton, as autoridades deverão criar uma área delimitada a partir das 23:00, porque, esclarece, “é uma hora que ainda não há grandes ajuntamentos” e “que facilita substancialmente a ação da polícia“.

“Nós já enviámos [a ata assinada por 14 entidades] para o Comando Metropolitano [de Lisboa], logo assim que terminou a reunião e obtivemos consenso e a assinatura de todos empresários da zona”, indicou, adiantando que polícia vai ter mais “facilidade em controlar a gestão dos acessos e vedar a possibilidade de existirem ajuntamentos”.

Luís Newton referiu ainda que a autarquia vai disponibilizar uma equipa de fiscais para controlar o encerramento dos espaços na zona.

“Esta é, sobretudo, uma medida experimental para tentar perceber se uma solução desta natureza tem eficácia. A verdade é que continuamos a assistir diariamente a ajuntamentos, situações de conflito na via pública e que tem originado inclusivamente feridos“, alertou.

Destacando o “ato de sentido cívico” dos empresários, depois de terem sofrido com quebras na faturação no último ano e meio, Luís Newton sustentou que com as pessoas mais dispersas é “mais fácil manter a ordem pública”. Segundo o presidente da Junta de Freguesia da Estrela, tem havido na zona ajuntamentos de “três ou quatro” mil pessoas.

Nas últimas semanas, Lisboa tem registado situações de criminalidade violenta em contexto de diversão noturna, nomeadamente no Bairro Alto, Cais do Sodré e Santos, com ocorrências de esfaqueamentos.

Levantar de restrições pode levar a excessos, avisam psicólogos

Tal como lembra o jornal Público, o aumento de infrações e criminalidade coincide com um momento, do ponto de vista pandémico, em que as restrições à frequência de espaços de diversão noturna foram levantadas, nomeadamente o limite de horário de encerramento até às 2h para a restauração e a reabertura de bares e outros estabelecimentos de consumo de bebidas.

Sobre a questão, o Expresso noticia hoje que a violência na noite de Lisboa tem sido um tópico discutido em várias reuniões da PSP, sendo também referido nos relatórios. Segundo o semanário, que cita fontes da divisão de investigação criminal desta força policial, há duas causas possíveis para este fenómeno: a luta de pequenos gangues pelo controlo do território do tráfico de droga e de grupos criminosos que aproveitam os ajuntamentos para realizar roubos; mas também o desconfinamento, com os jovens desejosos de retomar os momentos de diversão que a pandemia veio roubar.

Esta última justificação é atestada por Mauro Paulino, psicólogo clínico e forense, que defende que o levantar das restrições contribua para o descontrolo das situações, com outros fatores a agravarem situações que podem, já de si, ser propícias a confusões.

“Estamos a falar de fatores como o álcool em excesso, o consumo de estupefacientes e a idade dos envolvidos, que leva também a fenómenos grupais cuja linguagem para a afirmação ou compensação social é a violência. Só aqui temos várias dos fatores de risco para o comportamento criminal e violento”, explicou o especialista.

ARM, ZAP //

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