E depois de Merkel? Alemanha já sente falta da Chanceler que saiu da sombra para salvar o seu “delfim”

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Felipe Trueba / EPA

A chanceler alemã Angela Merkel em campanha durante as legislativas 2017 na Alemanha

Angela Merkel tinha prometido ficar afastada das eleições legislativas deste domingo, na Alemanha, mas saiu da sombra para apoiar o seu “delfim”, o candidato da CDU, Armin Laschet, que deverá disputar a vitória com o social-democrata Olaf Scholz.

Nas vésperas das eleições de domingo, Merkel multiplicou as suas presenças na campanha eleitoral ao lado de Laschet (CDU/CSU), o governador do Estado alemão mais populado, a Renânia do Norte-Vestfália.

As sondagens não têm sido amigáveis com Laschet, mas o “delfim” de Merkel é um dos candidatos mais fortes a Chanceler.

A eleição de Laschet será uma continuidade da linha traçada por Merkel, com a aposta numa política de consensos e com foco na União Europeia.

Mas as últimas sondagens têm dado alguma vantagem ao social-democrata Olaf Scholz, o ministro das Finanças e vice-chanceler do Governo de coligação de Merkel.

O instituto de estudos de opinião Allensbach atribui a Scholz (SPD) 26% das intenções de voto, seguido de Laschet (CDU/CSU) com 25%, numa sondagem encomendada pelo diário Frankfurter Allgemeine Zeitung.

A mesma sondagem dá aos Verdes 16% das intenções de voto, aos liberais do FDP 10,5% e ao partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) 10%.

A Esquerda obterá, de acordo com esta sondagem, 5%, que é o mínimo necessário para ter assento parlamentar no Bundestag (a Câmara Baixa do Parlamento Federal alemão).

Outra sondagem realizada por encomenda da estação privada RTL, coloca o SPD de Scholz na liderança da corrida eleitoral, com 25% das intenções de voto, à frente dos 22% do bloco CDU/CSU que tem Laschet à cabeça.

Os Verdes podem manter o terceiro lugar, com 17%, seguidos do Partido Liberal (FDP), com 12%, da formação de extrema-direita AfD, com 10%, e de A Esquerda, com 6%, segundo esta última sondagem.

O legado de Merkel

Portanto, vai ser uma eleição renhida, o que justifica o empenho especial que Merkel colocou na campanha, nos últimos dias, aparecendo em várias ações ao lado de Laschet.

O presidente da União Democrata-Cristã (CDU) encerrou mesmo a campanha ao lado da primeira Chanceler da Alemanha.

“É necessário assumir a importância de Angela Merkel para não deitar a perder o que se conseguiu em 16 anos”, apontou Laschet no seu discurso, expressando igualmente o desejo de que o presidente do partido irmão da CDU, a União Social-Cristã (CSU) da Baviera, Söder, faça parte do seu futuro Governo.

Söder também tem sido uma sombra para Laschet, depois de com ele ter disputado, sem êxito, o lugar de candidato conjunto dos dois partidos. Mas há quem continue a pensar que o bloco conservador teria tido mais força nestas eleições se Söder fosse o candidato.

Mas Merkel tem tratado de pôr de lado divergências, reforçando que “a CDU e a CSU têm sido sempre os partidos da moderação e do centro e aqueles que conseguem criar pontes quando surgem novos problemas”.

Merkel também vincou algumas das conquistas que estes dois partidos conseguiram na história recente da Alemanha, como a introdução do euro, a reunificação do país e aposta na política europeia.

A primeira mulher à frente de um partido na Alemanha, e também a primeira Chanceler do país, também teve vários desafios pela frente e foi obrigada a lidar com várias crises, culminando na actual crise pandémica. Mas a sua política de consensos beneficiou a Alemanha e a Europa.

Ao fim de 16 anos, Merkel deixa o cargo com uma Alemanha estável e próspera, mas também com vários dilemas por resolver, tanto internamente como ao nível da Europa. Caberá ao seu sucessor lidar com eles.

Para a história fica o feito de apenas Otto von Bismarck e Helmut Kohl terem estado mais tempo no poder do que Merkel. E os alemães (e até os europeus) já têm saudades da Chanceler.

ZAP // Lusa

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