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Catarina Martins volta a bater o pé e Jerónimo sublinha: “Ainda não há Orçamento”

Miguel A. Lopes / Lusa

O Presidente da República recebe uma delegação do Bloco de Esquerda (BE), liderada pela sua porta-voz, Catarina Martins

Marcelo Rebelo de Sousa recebeu, esta terça-feira, o Bloco de Esquerda, o PCP e o CDS, em mais uma ronda de reuniões com os partidos com assento parlamentar.

Se o objetivo do Presidente da República era obter mais detalhes sobre as negociações do Governo com a esquerda sobre o Orçamento, o tiro saiu-lhe pela culatra: tanto o Bloco de Esquerda como o PCP voltaram a sublinhar que nada se decidirá antes das eleições autárquicas, que se realizam no dia 26 de setembro.

À saída do Palácio de Belém, em Lisboa, Jerónimo de Sousa foi parco nas palavras e frisou: “Ainda não há Orçamento, está em vigor o Orçamento para 2021″.

“Aliás, o Governo teve pressa em marcar as eleições para as autarquias para 26 de setembro. Não teria grande lógica misturar uma coisa com a outra”, disse o líder comunista, citado pelo Expresso, lembrando que o OE2022 só será apresentado duas semanas depois das autárquicas.

Nos próximos dois meses, o partido vai focar as suas atenções na execução do OE atualmente em vigor, “particularmente empenhados na concretização do que lá está contido e que tem de ser aplicado”.

Marcelo insiste na estabilidade política, mas os comunistas não parecem fazer caso. “Essa estabilidade política será possível de encontrar se forem respeitados os direitos de quem trabalha, os direitos daqueles que estão ameaçados de encerrarem as suas portas, os direitos daqueles a quem se levanta o cutelo do despedimento coletivo”, vaticinou.

“É preciso estabilidade social, respeito por quem trabalha e os seus direitos, para se alcançar uma verdadeira estabilidade política”, acrescentou Jerónimo de Sousa.

Do lado do Bloco de Esquerda, Catarina Martins tem “toda a disponibilidade para negociar” com o Governo, mas mantém “exatamente as mesmas preocupações que já teve no ano passado e que, infelizmente, o Governo não acompanhou: preocupações com o emprego, preocupações com a proteção social, preocupações com o Serviço Nacional de Saúde (SNS), preocupações também com o sistema financeiro, que são conhecidas”, disse.

No último verão, os bloquistas lutaram por mais apoios sociais, pela recuperação da legislação laboral anterior à troika e defenderam “zero euros” para o Novo Banco. “A vida veio dar-nos razão, porque tantas das insuficiências do Orçamento do Estado foram precisamente nestes pontos, e o Governo acabou até por ter de fazer legislação extra para correr atrás, digamos assim, do prejuízo”, salientou Catarina Martins.

“Se há uma restrição que achamos que tem de ser levantada é a restrição à atividade dos centros de saúde, das unidades de saúde familiares (USF), dos médicos de família, dos enfermeiros de família, e para isso é necessário claramente haver contratação de equipas de saúde pública, assumir que é preciso mais gente nos processos de vacinação, nos processos de rastreio de contactos e de testagem, para libertar os cuidados primários de saúde”, disse a bloquista, após o encontro com Marcelo.

Já o centrista Francisco Rodrigues dos Santos defendeu que tem de haver uma diminuição do IRC, dos impostos sobre os combustíveis e uma redução dos escalões e taxas do IRS no OE2022.

O presidente do CDS-PP disse ter transmitido ao chefe de Estado a posição de que o Orçamento tem de “corrigir os erros de planeamento e de estratégia” do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), documento que qualificou como “um guia para a estabilização económica e uma oportunidade perdida”.

Rodrigues dos Santos adiantou também ter conversado com Marcelo sobre a proposta do CDS de criação de um “vale farmácia” para “pagar todas as despesas com medicamentos na farmácia a todos idosos com mais de 65 anos de baixos rendimentos“, que a Assembleia da República aprovou sob a forma de projeto de resolução.

“É uma medida que o Governo tem urgentemente de adotar já no quadro do próximo Orçamento do Estado”, considerou.

Esta quarta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa recebe as delegações do PSD e do PS.

Liliana Malainho, ZAP // Lusa

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