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Campos de cultivo perto de Chernobyl ainda estão contaminados 34 anos depois do desastre nuclear

Eamonn Butler / Flickr

Chernobyl, reator 1 e 4

De acordo com novas pesquisas, os campos de cultivo que se situam perto de Chernobyl ainda estão contaminados devido ao acidente nuclear que ocorreu em 1986.

Os cientistas analisaram um conjunto de produtos agrícolas, onde se inserem cereais como o trigo, centeio, aveia e cevada, e descobriram elevadas concentrações de isótopos radioativos, como é o caso de estrôncio 90 e césio 137. Segundo o EurekAlert, os valores registados estão acima dos limites oficiais de segurança da Ucrânia em quase metade das amostras observadas.

O estudo foi realizado pelos Laboratórios de Pesquisa da Greenpeace na Universidade de Exeter e pelo Instituto Ucraniano de Radiologia Agrícola.

“Estivemos concentradas na análise do estrôncio 90 porque este está atualmente presente no solo e de forma biodisponível, o que significa que pode ser absorvido pelas plantas”, disse a autora principal, Iryna Labunska.

A especialista mostra-se preocupada com os resultadas da pesquisa, sobretudo numa altura em que a “monitorização do governo ucraniano terminou”, mas frisa que “o estudo mostra que o processo tem de continuar”. A cientista sublinha que “as pessoas precisam de estar cientes do risco de contaminação contínua do solo e das plantas, e precisam ser aconselhadas sobre os métodos agrícolas a serem usados”.

Uma questão que está a inquietar os autores do estudo é o facto de terem sido encontrados “níveis muito altos de estrôncio 90 nas cinzas de madeira, pois muitas pessoas ainda as usam como fertilizante para as plantações”, pode ler-se no estudo que foi publicado na Science Direct.

David Santillo, membro do Greenpeace Research Laboratories, lembra que as novas descobertas “apontam para a contaminação contínua, agravada pela falta de monitorização de rotina”. O especialista realça que o estudo “destaca o potencial da radiação oriunda de Chernobyl se espalhar mais amplamente de novo, à medida que mais madeira é usada para gerar energia na região.”

A pesquisa analisou 116 amostras de vários tipos de cereais recolhidos entre 2011 e 2019, em campos no distrito de Ivankiv, na Ucrânia. Estes locais encontram-se a cerca de 50 km da central nuclear onde ocorreu o acidente e supostamente estão fora da “zona de exclusão”.

A equipa conclui que 45% das amostras de cereais da parte nordeste do distrito de Ivankiv continha estrôncio 90 em níveis acima do permitido para o consumo humano, sendo que prevê que esta situação irá permanecer assim por pelo menos mais uma década.

No entanto, os dados apresentados no estudo mostram que a maior parte do distrito de Ivankiv poderia produzir cereais que contêm estrôncio 90 abaixo dos níveis permitidos.

Neste sentido, os especialistas recomendam restabelecer os programas de monitorização ambiental e alimentar e garantir que sejam adequadamente financiados no futuro.

Defendem também políticas agrícolas lideradas pelo governo, diminuição ou eliminação do uso de madeira contaminada em incêndios, estabelecimento de um programa para monitorizar a contaminação radioativa de cinzas e fornecimento à população de informações sobre a utilização segura das cinzas contaminadas.

Valery Kashparov, diretor do Instituto Ucraniano de Radiologia Agrícola, também se mostra preocupado com a situação e alerta que “a contaminação de cereais e madeira cultivados no distrito de Ivankiv continua a ser um problema e como tal merece uma investigação urgente”.

Num estudo anterior, publicado em 2018 na Science Direct,  os investigadores descobriram que em algumas partes da Ucrânia, o leite tinha níveis de radioatividade cinco vezes acima do limite de segurança oficial do país.

O desastre de Chernobyl ocorreu em 1986 no reator nuclear nº 4 da Central Nuclear ucraniana. O acidente deu-se durante um teste de segurança que simulava uma falta de energia da estação.

Ana Moura, ZAP //

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