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Já há uma calculadora que prevê o risco de se ser infetado com covid-19 (em diversos cenários)

GCIS / Fotos Públicas

Já existe uma ferramenta online que calcula o risco de se ser infetado com covid-19. Chama-se microCOVID, baseia-se em dados recentes, analisa diferentes cenários e foi desenvolvida por um grupo de amigos.

Numa altura em que o mundo procura adaptar-se a uma nova realidade, com a maioria dos países a reduzir as medidas de controlo da pandemia, existe uma inovadora ferramenta online que procura quantificar os riscos de se ser infetado com SARS-CoV-2.

O projeto microCOVID faz uma estimativa do risco de apanhar covid-19, através da avaliação de um determinado cenário: em que país se reside, se se está vacinado (e, se sim, quantas doses tomou e de qual vacina), que atividade se vai realizar, com quantas pessoas, entre outros aspetos.

A calculadora analisa uma espécie de simulação, que não inclui a carga emocional, para avaliar o risco de qualquer tipo de atividade que se queira realizar, explica Ben Shaya, que faz parte do projeto.

A ferramenta nasceu de uma ideia de um grupo de amigos, companheiros de casa, que quiseram tomar decisões sobre o que podiam, ou não, fazer durante a pandemia — tendo em conta que pertenciam à mesma “bolha” e não queriam estar nem pôr os outros em risco — com base científica.

O grupo de amigos criou, então, um modelo matemático que se baseia nas últimas investigações sobre máscaras, eficácia das vacinas, casos atuais em cada país e muito mais. Apesar de o projeto ter arrancado em maio do ano passado para uso próprio, passados uns meses foi criada uma versão para o público em geral e a iniciativa junta agora uma equipa de matemáticos, cientistas de dados e um clínico de cuidados primários.

O site inclui duas ferramentas: uma calculadora e um “medidor” de riscos. Enquanto a calculadora dá aos utilizadores uma ideia sobre o risco de um único evento ou cenário, o risk tracker atribui um valor às várias atividades de uma pessoa para criar uma pontuação de risco global que pode ser partilhada com os outros.

O risk tracker, que foi a primeira função a ser desenvolvida, funciona como um orçamento financeiro: tem de se poupar numa semana, se se quiser gastar na outra. “As pessoas podem poupar para as coisas que lhes interessam”, como por exemplo jantar fora com um amigo, explicam os criadores.

Para utilizar a calculadora, escreve a Smithsonian Magazine, os utilizadores selecionam diferentes cenários — como participar numa festa cheia de gente ou encontrar-se com um amigo para jantar — e fornecem detalhes sobre o tipo de máscara que estão a usar, se estão totalmente vacinados, se o evento acontece dentro ou fora de casa, entre outros.

O risco é medido numa unidade que os criadores denominaram microCOVIDs e a estimativa de risco corresponde a uma escala de cores, que varia entre o verde (risco muito baixo) e o vermelho (perigo).

Além disso, os utilizadores podem escolher uma de quatro opções de “orçamento de risco” semanal, que vão desde uma menor probabilidade de se ser infetado a elevada probabilidade: Alta Prudência, Prudência Normal, Pouca Prudência ou Redução de Danos.

A opção pré-definida é a Prudência Normal, que corresponde a um “orçamento de risco” de 200 microCOVIDs por semana e 1% de probabilidade de apanhar covid-19 por ano.

Uma pessoa que esteja completamente vacinada contra a covid-19 (vacina da Moderna), use máscara de proteção FFP2 e que vá ao supermercado, em Portugal, durante uma hora, por exemplo, correrá um risco de cinco microCOVIDs. Isto significa que é uma atividade de baixo risco (nível dois da escala de cores) e representa 3% do “orçamento de risco” semanal — os tais 200 microCOVIDs para cada pessoa por semana.

Por outro lado, se alguém realizasse a mesma atividade, com o mesmo tipo de máscara de proteção, mas não estivesse vacinada, já correria um risco de 30 microCOVIDs, o que equivale a 15% do “orçamento” semanal — e a uma atividade de risco moderado.

Tanto o risk tracker como a calculadora são ferramentas altamente adaptáveis para que os utilizadores possam alterar os parâmetros de acordo com as suas preocupações e com as vulnerabilidades das pessoas à sua volta.

“Ninguém pensa que está a ser perigoso [para as outras pessoas]”, disse Jenny Wong, que também faz parte da equipa que está por trás da ferramenta online.

“Ter cuidado significa coisas diferentes para pessoas diferentes”, continuou.

Nos últimos meses, o site foi atualizado para incluir novos dados sobre a variante Delta, que é mais transmissível. Segundo relata Wong, quando o modelo foi atualizado, as atividades consideradas de baixo risco passaram a ser de risco moderado ou alto.

Uma atividade que antes podia fazer uma vez por semana, com a variante Delta passa a ser de maior risco e, consequentemente, só é aconselhável realizá-la de dois em dois meses, explica o investigador.

Mas F. Perry Wilson, um epidemiologista da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, que não faz parte do projeto, deixa uma advertência: estar dentro de um certo limite no “orçamento de risco” não é segurança garantida, o risco de infeção não é zero.

Instrumentos de orçamento de risco como este também podem dar “uma falsa sensação de segurança”, explica, e “podem dar às pessoas uma espécie de permissão para se comportarem de uma forma que as pode colocar em maior perigo”.

No entanto, a ferramenta é uma ótima forma de se ter uma ideia aproximada do risco de diversas atividades e é particularmente útil para entender a redução do risco de apanhar covid-19 dependendo da máscara que se usa e do facto de se ter a vacinação completa, ou não.

Sofia Teixeira Santos, ZAP //

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