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No Reino Unido, o aumento de infeções está a causar preocupação. O que explica este cenário?

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Facundo Arrizabalaga / EPA

No Reino Unido, os casos e internamentos estão a subir, sendo que alguns especialistas já apelam a um regresso de algumas restrições antes do inverno. Mas o que pode estar a causar este aumento dos números?

Numa altura em que a subida das infeções está a preocupar vários especialistas britânicos, o Governo de Boris Johnson está a ser desafiado a adotar um “plano B”, de regresso a algumas restrições para impedir contágios da covid-19 antes do inverno. A preocupação é proteger o sistema nacional de saúde que já está novamente próximo do limite.

O Reino Unido, que foi um dos países do mundo a avançar mais rapidamente para o processo de vacinação, está agora a assistir a um aumento de casos que pode ser comparável com os meses assoladores do inverno passado, refere a BBC.

O número de pessoas com teste positivo para a covid-19 tem aumentado nas últimas semanas e já houve dias em que se registaram 40.000 casos.

Embora grande parte da população já esteja vacinada, há outros fatores que podem justificar esta situação.

De acordo com a BBC, houve um relaxamento do uso de máscara por parte dos britânicos. Os habitantes de Inglaterra mostram ter uma probabilidade significativamente mais alta de não usar qualquer tipo de proteção facial, comparando com pessoas que vivem, por exemplo, na Alemanha, França, Espanha ou Itália.

Vários estudos já comprovaram que o uso de máscara é fulcral para prevenir a infeção, ainda assim, desde que o processo de vacinação começou a acelerar, muitos habitantes optaram por pôr de lado o uso desta proteção mesmo quando se encontram em zonas de grande fluxo de pessoas.

Uma outra razão que pode explicar esta nova onda de infeções é o facto do Reino Unido ter abandonado a maior parte das restrições mais cedo do que a maioria dos restantes países da Europa Ocidental.

As pessoas tiveram “autorização” para começar a frequentar bares e discotecas no início do verão, enquanto na maior parte dos outros países europeus este passo só foi dado mais tarde. Veja-se o caso de Portugal, em que os estabelecimentos de diversão noturna só reabriram no início de outubro.

Por outro lado, uma pesquisa do Imperial College também sugere que os britânicos são ligeiramente mais propensos, do que alguns dos seus vizinhos europeus, a usar transportes públicos e têm menos tendência a evitar sair de casa.

Há ainda uma outra situação que pode influenciar esta subida drástica de casos: em Inglaterra há cada vez mais pessoas a deixaram o teletrabalho e a voltarem ao trabalho presencial.

A questão da imunidade da vacina

Apesar de Inglaterra ter sido um dos primeiros países a avançar com o processo de vacinação em massa, esse avanço pode estar agora a ter consequências negativas, já que as pessoas que foram vacinadas há mais tempo podem estar a perder a tão desejada imunidade.

Um estudo sugere que a proteção da vacina contra a infeção do vírus diminui significativamente após cinco ou seis meses da toma das suas doses – o que também pode justificar o cenário de aumento de casos.

Contudo, embora o Reino Unido seja pioneiro no processo de vacinação, há um grupo populacional que foi sendo deixado para trás: as crianças.

As vacinas para crianças de 12 a 15 anos no Reino Unido só começaram a ser administradas a 20 de setembro. Até agora, apenas 15% dos jovens dos 12 aos 15 anos recebeu uma dose da vacina, o que comparado com muitos países coloca o Reino Unido no fim da lista de países com uma boa taxa de vacinação em menores.

Em declarações ao Público, Tiago Correia, professor de Saúde Internacional e investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, destaca ainda que em Inglaterra os níveis de vacinação não são suficientemente altos para evitar um aumento do número de casos.

Esta razão é corroborada pelos números, que indicam que o país só tem 66% da população totalmente vacinada e a administração da terceira dose aos mais vulneráveis não está a ser tão rápida quanto esperado, realça o The Guardian.

O especialista coloca em cima da mesa outro fator que pode contribuir para este aumento, recordando que a vacina mais usada para inocular os britânicos foi a da Oxford/AstraZeneca – que apresenta uma taxa de eficácia mais baixa do que, por exemplo, a da BioNTech/Pfizer (a vacina mais usada em Portugal).

Tiago Correia diz ainda que o aumento já era previsto pelo SAGE, o grupo de especialistas que aconselha o Governo.

Surge a dúvida de qual é o limite a atingir para que se tome a decisão política de voltar a impor algumas restrições.

Esta quarta-feira, após o Governo rejeitar adotar o chamado “Plano B” e voltar a impor algumas medidas, o organismo que junta os serviços públicos de saúde (NHS) de Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte apelou à reintrodução do uso obrigatório de máscara em locais fechados e com muitas pessoas.

Caso não o faça, os serviços de saúde vão enfrentar “uma crise no Inverno”, alertou o chefe executivo do organismo, Matthew Taylor.

A seu ver, frisa Tiago Correia, continua a ser cedo para discutir se poderá vir a ser necessário aplicar medidas mais restritivas novamente. Tudo dependerá da evolução da pandemia.

Ana Isabel Moura, ZAP //

 

5 Comments

  1. A vacinação reduz o potencial de transmissão mas não imuniza a 100%, considerando quão cíveis os ingleses são aliado ao facto de todos os anos termos diversas variantes do virus, então isto era expectável.

  2. “Vários estudos já comprovaram que o uso de máscara é fulcral para prevenir a infeção”

    Gostava imenso que mostrassem quais são esses estudos, pq desde antes do aparecimento do covid quer durante este todos os estudos RCT peer reviewed dizem que não há qq diferença entre usar ou não usar máscara para evitar virus respiratórios, como aliás o prova países como a Suécia que nunca tiveram qq politica de uso obrigatório da mesma.

    – [Are Face Masks Effective? The Evidence. – Swiss Policy Research](https:// swprs.org/face-masks-evidence/)
    – [The Face Mask Folly in Retrospect – Swiss Policy Research](https:// swprs.org/the-face-mask-folly-in-retrospect/)

    • Ovigia, os links que indicou são de um site conhecido por partilhar teorias da conspiração e cujos autores não são conhecidos. Não se tratam de estudos científicos. Existem n estudos científicos que comprovam a eficácia das máscaras, eis um recente (2020) na Nature Medicine: “Respiratory virus shedding in exhaled breath and efficacy of face masks” (Google it).

      O seu comentário realça um problema comum na população em geral: não sabem distinguir um estudo científico dum site de teorias da conspiração.

      Cumprimentos.

      • Boa…
        E é fácil de ver. A “Ovigia” se usar a máscara não vai encher de perdigotos a quem estiver junto de si. E mesmo sem querer vai estar protegida.
        Mas esta gente não pensa?

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