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Os ateus tendem a ser mais inteligentes do que as pessoas religiosas

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Uma equipa de investigadores realizou uma meta-análise de 63 estudos e notou uma correlação: os ateus tendem a ser mais inteligentes do que as pessoas religiosas.

No estudo, publicado na revista Evolutionary Psychological Science, não está claro porque é que esta tendência existe, no entanto, Edward Dutton, investigador do Ulster Institute for Social Research, no Reino Unido, e Dimitri Van der Linden, professor de psicologia na Erasmus University Rotterdam, na Holanda, têm uma teoria.

Para os investigadores, a religião é um instinto e as pessoas que conseguem superar os instintos são mais inteligentes do que as que dependem deles. A dupla começou o estudo tentando responder à questão se as pessoas não religiosas seriam mais racionais e, portanto, mais capazes de argumentar que não existe um Deus.

Com o tempo, os cientistas encontraram sinais de que a inteligência está positivamente associada a certos tipos de viés. Por exemplo, um estudo de 2012, publicado no Journal of Personality and Social Psychology, mostrou que os estudantes universitários geralmente respondem a questões de lógica de forma errada mas não percebem o porquê.

O chamado “ponto cego parcial” acontece quando as pessoas não conseguem detetar certas falhas nos seus próprios pensamentos. Um bom exemplo para explicar esta questão é o problema matemático seguinte: “Um taco e uma bola custam 1,10 euros no total. O taco custa 1 euro a mais do que a bola. Quanto custa a bola?”.

A questão não é intuitiva (a resposta não é 10 cêntimos), mas exige que se reavalie a primeira solução que surge na nossa mente. Se fizermos isso, conseguimos chegar à resposta certa: a bola custa 5 cêntimos e o taco custa 1,05 euros.

Se as pessoas inteligentes têm menos probabilidades de perceber seu próprio viés, isso significa que são menos racionais em alguns aspetos, de acordo com os investigadores. Então, porque é que a inteligência está associada ao ateísmo?

Instinto versus inteligência

A teoria de que a religião é um instinto é uma versão modificada de uma ideia desenvolvida por Satoshi Kanazawa, um psicólogo evolucionista da London School of Economics, que não esteve envolvido no novo estudo.

Chamada de Hipótese de Interação na Savana – QI, a teoria de Kanazawa tenta explicar as diferenças no comportamento e atitudes entre pessoas inteligentes e menos inteligentes.

Somos adaptados psicologicamente para resolver problemas recorrentes enfrentados pelos nossos antepassados na savana africana (hipótese da savana). A inteligência geral (que é medida pelos testes de QI) evoluiu para nos ajudar a lidar com problemas não recorrentes para os quais não tínhamos adaptações psicológicas evoluídas (hipótese do QI).

Os pressupostos implicam que as pessoas inteligentes devem ser melhores do que as pessoas não inteligentes em lidar com “novidades evolutivas” – situações que não existiam no ambiente ancestral.

Dutton e Van der Linden modificaram esta teoria, sugerindo que a novidade evolutiva é algo que se opõe aos instintos evoluídos.

Ressalvas

A abordagem é interessante, no entanto, poderia ser ainda melhor se a dupla explicasse exatamente o que entende por “instinto religioso”, explica Nathan Cofnas, doutorando em filosofia na Universidade de Oxford, no Reino Unido.

“Sem conhecer a natureza precisa desse ‘instinto religioso’, não podemos descartar a possibilidade de que o ateísmo, ou pelo menos algumas formas de ateísmo, se aproveitem do mesmo instinto”, afirma.

Por exemplo, o autor Christopher Hitchens pensava no comunismo como uma religião; da mesma forma, movimentos seculares, como o veganismo, atraem muitos dos mesmos impulsos e possivelmente “instintos” que as religiões tradicionais.

“Acho enganador usar o termo ‘religião’ como um insulto para aquilo que não gostamos”, acrescenta Cofnas.

Os investigadores também examinaram o vínculo entre instinto e stress, enfatizando que as pessoas tendem a ser assim durante momentos de nervosismo como, por exemplo, quando se “viram” para a religião durante uma experiência de quase-morte.

A dupla argumenta que a inteligência ajuda as pessoas a conseguirem elevar-se acima desses instintos em tempos de stress. “Se a religião é, de facto, um instinto, então, aumentará em momentos de stress, quando as pessoas tendem a agir de forma instintiva, e há provas claras disso”, disse Dutton.

Além da inteligência, pessoas que são capazes de superar os seus instintos provavelmente conseguem solucionar melhor os seus problemas – por exemplo, evitando partir para um ataque físico durante uma discussão.

32 Comments

    • Uma crença? Como assim? Não acreditar é simplesmente não acreditar. É zero.
      A Sr.ª acredita em elefantes azuis voadores? Também não? Não é por isso que a senhora tem a crença de “não acreditar em elefantes azuis voadores”.

      • Não confundir ateísmo com agnosticismo, o ateísmo pode ser perfeitamente considerado como uma crença.

      • Acho que a confusão esta do seu lado. Ateismo é relativo a crença em deus ou deuses, agnosticismo tem a ver com conhecimento. Simplificando, um ateu não acredita em deus ou deuses. Podem existir ou não, mas o ateu não vê razões para acreditar que existam.
        Neste contexto, um ateu pode ser agnostico, isto é, não acredita em deus ou deuses, mas não reclama saber que não existem. Ou pode ser um ateu gnostico, em que não acredita em deus ou deuses e sabe que não existem. A palavra chave aqui é SABER.
        Assim como podem haver crentes agnosticos, isto é, acreditam que pelo menos existe um deus, mas não sabem de certeza. E depois há o crente gnostico, que acredita em Deus ou deuses e sabe que existem.
        As definições Agnostico e Ateu não são mutuamente exclusivas.
        🙂

      • Isso poderá depender do dicionário, mas pelo menos em alguns ateísmo é definido como a rejeição e negação da possibilidade da existência de deus ou deuses.

        Apesar de não considerar que seja o caso, mesmo que tudo o que escreveu estivesse correcto, em nada invalidava o meu comentário anterior.

      • negativo senhor Manel
        O ateismo é simplesmente NÃO ACREDITAR na existência de deuses.
        É muito diferente de acreditar que não existem. E isso não é ateísmo.

        quando eu digo que tenho um numero par de berlindes no meu bolso e alguém disser que não acredita que tenho um número par de berlindes, isso quer dizer que acredita que eu tenho um número ímpar? NÃO. É simplesmente uma não crença. A pessoa não acredita que exista um número par de berlindes.

        o mesmo se põe em dizer que o ateísmo é uma religião ou uma crença. Falso… isso é como dizer que uma pessoa que não coleciona selos é um colecionador.
        Ou que um indivíduo que não joga futebol é futebolista.
        Isso não tem lógica nenhuma.

      • “Acreditar” e “saber” não são sinónimos: acreditar que não existem elefantes voadores, acreditar que não existe deus… Saber é outra coisa.

      • Qual é, em termos semânticos, a diferença entre “NÃO ACREDITAR QUE EXISTE” e “ACREDITAR QUE NÃO EXISTE”. ?
        Aquilo que pretendi destacar foi apenas isto: que o ser humano está quase sempre predisposto para acreditar em algo: que sim, que não…

    • O que quer dizer com Ateísmo ser uma crença?
      A definição que tenho de ateismo é a não aderencia a crença em deus ou deuses, tipicamente por falta de provas que a substanciem. Parece-me uma abordagem racional. Ou não?

    • Cara Maria Pires, eu não acredito e se calhar a senhora também não em Apolo, Rá, Thor, Zeus, Amón, Ódin, Osíris, Shiva, Alá, Ísis, Atlas, Poseidon, Pah, Arebati, Kukulcán, Tupã entre outros.
      Logo, a senhora é ateia em relação a todos estes deuses e pela sua lógica tem a crença de não acreditar nestes deuses.

      Já agora, permita-me que eu não acredite no deus da religião cristã.

      Como vê, no que diz respeito a divindades, eu só não acredito em mais um deus que a senhora.

      • Caro José,
        o ateísmo é a crença que deus ou deuses não existem. Já agora, permita-me a liberdade de acreditar nesta definição, isto é, ver o mundo assim.

        Como vê, no que se refere a crenças em deuses ou no que for,
        cada um crê no que quiser. Pode até chamar-lhe o “Inominável”.
        Uns crêem que existe, outros crêem que não existe.
        Trata-se, portanto, de argumentar em torno de conceitos e não de pessoalizar a questão. No seu caso, tomou a liberdade de acreditar que eu acredito num deus e não foi isso que afirmei.

      • Cara Maria Pires,
        começando pelo fim, peço desculpa se a ofendi quando tomei a liberdade de acreditar que a Senhora acreditava num deus.

        Relativamente à definição de que “o ateísmo é a crença que deus ou deuses não existem”, a mesma tem tanto valor como afirmar que “anoelismo” é a crença que o pai natal não existe.

      • “Não acreditar em Deus” não é o mesmo que “acreditar que Deus não existe”? Parece-me que sim.

      • Deixe-me supor que A MP tem a crença na não existência de unicórnios, que tem a crença na não existência de minotauros, que tem a crença na não existência da fada dos dentes, que tem a crença na não existência de uma alforreca dourada a orbitar Marte…

        Como estas, eu posso continuar INDEFINIDAMENTE a enumerar crenças que a MP tem na não existência de “X”.

        E o mais interessante é que, pelo seu raciocínio, a MP tem indefinidas crenças que DESCONHECE, o que é paradoxal.

        Dou-lhe o exemplo de uma:
        A MP tem a crença na não existência de um garrafão de vinho tinto no centro da Terra.

        Tendo em conta uma análise concetual e não o mero jogo das palavras, concluo que “Não acreditar em “X”” não é o mesmo que “Acreditar na não existência de “X””.

        Note que “X” representa algo extraordinário.
        Num contexto em que “X” represente algo não extraordinário o seu raciocínio estará correto.

  1. Parece-me um assunto bastante complexo, e poderá variar de pessoa para pessoa. Para certas pessoas ateus o ataismo é uma espécie de religião e tratam como isso. Mas para outras já não. Não é pelo facto de determinadas pessoas orarem todos os dias, que se poderão considerar altamente religiosos. O orar, tem que ser um orar com profundidade, com sentimento, temos que “sentir com profundidade, humildade a oração e a entidade a que se destina”. Se uma pessoa ora ao mesmo tempo que está a ver uma telenovela, não me parece que se possa chamar de muito religiosa, quando muito estará a tentar abrir uma porta, mas apenas isso.

  2. Bom, nesse caso, segundo o que a maioria dos comentadores aqui diz, afinal, como ateu, pelos vistos sou crente. Acredito piamente que 1+1 será sempre igual a 2 e se algum dos vossos deuses me aparecer à frente, serei forçado a pegar num bisturi e disseca-lo para perceber como ele funciona por dentro ou que tecnologia utiliza para fazer milagres, para eu poder experimentar, compreender e depois reproduzir.
    Por outro lado, tendo em conta que os átomos consistem a 99,9999999999% de vácuo/vazio, o ecrã no qual estão a ler esta resposta, a cadeira em que estão sentados e até vocês mesmo, praticamente não existem/são nada… Logo somos um monte de nada a discutir nada…
    Ai, como eu acredito fervorosamente e inabalavelmente na minha religião…até alguém provar o contrário 🙂

  3. Pelo menos já têm um fanatismo a menos o pior é se são fanáticos de ideologias políticas ou desportivas e aí também não ajuda nada!.

  4. Um ateu não só não acredita na existência de Deus (Deus existe), como nem sequer considera a hipótese da existência de Deus (Deus talvez exista). Ou seja, nega a existência de Deus (Deus não existe). Como não se pode provar que Deus existe, tal como não se pode provar que não existe, o assunto da existência de Deus será sempre uma questão de crença e nada mais. Assim, negar explicitamente ou rejeitar a hipótese da existência de Deus é tão desprovido de racionalidade como o inverso, é apenas e só uma crença.
    Os ateus que só agora descobrem que o ateísmo também não conhece a verdade e por isso é também ele uma crença certamente não contribuíram muito para os resultados do estudo…

    • “Um ateu não só não acredita na existência de Deus (Deus existe), como nem sequer considera a hipótese da existência de Deus (Deus talvez exista).”
      Não, um ateu apenas não acredita na existencia de deus ou deuses. É isto, sem mais nem menos.
      O que descreve nesse paragrafo é um ateu gnostico, que dá um passo mais á frente e reclama saber que não existem deuses.
      Tal como indica, pelo menos até hoje, é impossivel provar a existencia ou inexistencia de deus ou deuses, pelo que de facto um ateu gnostico tem numa primeira análise, uma posição mais extremada e dificil de substanciar. No entanto, o peso da prova não me parece estar do lado do ateu, que se limita a ter uma posicão racional perante uma afirmação extraordinaria (substitua deus ou deuses por elefantes cor-de-rosa e verá o poder racional da afirmação). O peso de prova estará no lado do crente, que está a afirmar que existe uma entidade ou entidades com poderes que desafiam as leis da fisica e lógica.

  5. Aqui, pelos vistos, tanta discussão e ninguém foi ver a definição de “ateísmo” a um dicionário de língua portuguesa.
    Do Priberam: a·te·ís·mo
    substantivo masculino

    1. Doutrina dos ateus.

    2. Descrença.

    “ateismo”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/ateismo [consultado em 09-06-2017].

    DESCRENÇA :
    des·cren·ça
    substantivo feminino

    1. Perda da crença.

    2. Estado de quem chega a descrer.

    “Descrença”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/Descren%C3%A7a [consultado em 09-06-2017].

    Ora se há perda da crença, NÃO EXISTE CRENÇA ALGUMA NUM ATEU.
    Entendido?
    Se não está, fica aqui mais uma da Wikipedia: Ateísmo, num sentido amplo, é a ausência de crença na existência de divindades.[1] O ateísmo é oposto ao teísmo,[2][3] que em sua forma mais geral é a crença de que existe ao menos uma divindade.

  6. Bom, parece que o estudo está errado, já que aqui, crentes e descrentes, gnósticos e agnósticos, “teus” e ateus são todos muito versados e capazes. Mais um “estudo” que só serve para uma boa “conversa da treta”.

  7. Para mim ser crente num deus advém de uma necessidade que a maioria dos seres humanos têm, de ter uma explicação mesmo que desprovida de possibilidade de prova que dê resposta ás questões complexas sobre existência e morte.

    • Ora aqui está o melhor comentário de todos. Em tempos de ignorância ou desconhecimento tentar encontrar explicações, mesmo que desprovidas de sentido ou ciência, para explicar o mundo. Actualmente já não há necessidade de existir, ou melhor, ter de acreditar em Deus para explicar e tolerar a nossa própria existência. Se alguns entre nós precisam disso, de ter um Deus para continuarem a viver, tudo bem por mim.

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