A jornada das contradições. A crónica do dia em que a Igreja desmentiu Marcelo — e Moedas acabou isolado

17

António Cotrim / LUSA

Marcelo Rebelo de Sousa

Em conferência de imprensa, D. Américo Aguiar revelou que o orçamento da Igreja para a Jornada Mundial da Juventude de 2023 é de 80 milhões de euros.

Desde que assumiu funções como Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa nunca escondeu o seu perfil de católico praticante, mostrando-se próximo das principais instâncias da organismo em Portugal — algo que já lhe valeu dissabores no passado. A atribuição da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) a Lisboa foi publicamente celebrada pelo chefe de Estado, que desde cedo assumiu o fato de “embaixador não oficial” do evento.

No entanto, as notícias recentes que apontam para custos avultados para a concretização das JMJ — pelo menos 4,6 milhões de euros para o altar-palco que vai receber o Papa Francisco — parecem marcar um distanciamento entre o Presidente da República e a Igreja Católica, a julgar pelas declarações contraditórias que as duas partes fizeram desde que o preço da estrutura, e o facto de a sua concretização ter sido atribuída à Mota-Engil por ajuste direto.

Depois de ter pedido mais informações à Câmara de Lisboa sobre a preparação do evento, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou ontem, em declarações aos jornalistas, que o altar-palco devia ser construído à imagem das ideias e pensamentos do Papa Francisco. Como tal, esperava um projeto que correspondesse ao “pensamento do Papa que se caracteriza por uma visão simples, pobe, não triunfalista“.

Seria muito estranho um Papa que quer dar imagem de pobreza austeridade e contra o espavento viesse a não ter um acolhimento correspondente ao que é o seu pensamento”, defendeu o Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa considerou ainda que esta solução seria o que “a sociedade espera” e confessou esperar que “a solução encontrada no final” consiga “tentar tirar proveito do que é interesse nacional e respeitar o período em que nos encontramos e a própria maneira de ser do Papa que é contrário ao que é espaventoso“.

Interrogado sobre se a Igreja Católica Portuguesa já devia ter prestado esclarecimentos sobre esta matéria, o chefe de Estado remeteu essa responsabilidade para todos os envolvidos na organização da Jornada Mundial da Juventude: autarquias, Estado e Igreja Católica. “Eu acho que os três, em tempo oportuno, darão certamente esclarecimentos“, disse.

Minutos após estas declarações, surgia o primeiro contraditório da tarde. Citando o Patriarcado de Lisboa, a SIC Notícias avançava que, ao contrário do que havia sido dito pelo Presidente da República, este havia sido informado dos custos que envolviam a construção e instalação do altar-palco, já que as decisões teriam sido tomadas por várias entidades. A Igreja defendeu-se ainda das declarações de Carlos Moedas, quando o autarca atribuiu a dimensão do palco às exigências desta entidade, dizendo que nunca impôs quaisquer condições.

A resposta de Marcelo Rebelo de Sousa não se fez esperar e, através do mesmo canal de informação, fez saber que apenas soube dos valores em causa “informalmente“, ou seja, através de jornalistas, e nunca pelo Patriarcado. O Presidente da República acrescentou ainda que só na semana passada teve conhecimento das dimensões do altar-palco e que, no seu entender,  “ainda é possível diminuir” os custos do projeto.

Esta possibilidade foi confirmada, horas mais tarde, numa conferência de imprensa que contou com a presença de D. Américo Aguiar, coordenador da JMJ 2023, e que serviu para dar resposta a muitas das questões que se levantaram nos últimos dias — e terminar com o pingue-pongue de declarações em espaço público. Segundo o responsável, o orçamento da Igreja para a jornada cifra-se nos 80 milhões.

Esta foi a primeira posição da Igreja em relação ao valor que está disposta a dispender, ao qual se juntam outros 80 milhões, divididos entre a autarquia de Lisboa, de Loures e o Governo, o que já eleva os custos do evento para 160 milhões de euros. “As coisas que puderem ser eliminadas por não serem essenciais, pediremos para serem eliminadas“, garantiu D. Américo Aguiar. “Nada é dogmático até que aconteça e esteja feito.”

Sobre o custo do altar-palco, o presidente das Jornadas disse estar “magoado“, garantindo também que só teve conhecimento do valor inerente à estrutura pela comunicação social. “É um número que magoa porque vivemos tempos em que todos sentimos as dificuldades de todos“, começou por explicar.

Tratou ainda de esclarecer a polémica em torno das alegadas exigências feitas pela Igreja. “O papel da Igreja é pedir às autoridades que respondam àquilo que temos de providenciar. Nós sabemos o que precisamos que aconteça no palco, mas se ele é retangular, quadrado, redondo, curvo, mais alto ou mais baixo, não é nossa preocupação.”

Não sou o empreiteiro e também não sou o dono da obra (…) e é nossa obrigação sentarmo-nos com o autor do projeto, com os nossos técnicos, para irmos ver porque é que custa 4,2 milhões de euros e vermos o que é que, sendo da nossa responsabilidade, pode ser eliminado para que os custos não sejam o que são.”

D. Américo Aguiar aproveitou ainda a conferência de imprensa para garantir um escrutínio público das contas “até ao cêntimo“. Comprometeu-se, ainda, a investir possíveis lucros em projetos para a juventude nos dois municípios mais envolvidos na preparação do evento.

Sobre o envolvimento do Presidente da República na preparação do evento e o pedido para que as entidades fossem contidas nos custos, o responsável da Igreja lembrou a forma como Marcelo Rebelo de Sousa “festejou no Panamá que trouxéssemos as jornadas para Portugal“.

Poucos minutos depois de terminada a conferência de imprensa, Marcelo Rebelo de Sousa entendeu que a verdade dos factos havia sido reposta por D. Américo Aguiar e que ficou claro que o Presidente da República não sabia dos custos do altar-palco. “Está esclarecido, D. Américo Aguiar acabou de dizer, desmentindo a nota do Patriarcado, que o Presidente da República não sabia o valor do altar. E, portanto, a Igreja, e bem, desmentiu aquilo que tinha vindo numa nota do Patriarcado e que tinha provocado a minha estupefação“, disse o chefe de Estado.

O Presidente da República saudou ainda a posição “sensível à compatibilização de dois objetivos: um, que a jornada seja uma projeção de Portugal no mundo; segundo, que tenha uma linha de contas as circunstâncias económicas e sociais vividas neste momento”.

Moedas, o isolado

No meio de várias contradições, uma figura surgia cada vez mais isolada, a de Carlos Moedas. O autarca, que num primeiro momento atribuiu a dimensão do altar-palco às exigências da Igreja, viu-se desmentido pela instituição, que negou as suas declarações, e desautorizado pelo Presidente da República, que defendeu a possibilidade de uma alternativa mais em conta. No entanto, em declarações aos jornalistas, reforçou a sua ideia de investir até “35 milhões de euros”  no evento — o qual espera que tenha um “retorno enorme“.

“O retorno vai ser multiplicado, tudo isto que vamos investir, vai ser multiplicado por 10 ou por 20.” O autarca justificou ainda a necessidade de recorrer a ajustes diretos com o pouco tempo que dista até ao evento e com o facto de o seu executivo ter começado “do zero” porque “nada estava feito“. “Nós tínhamos que ir para um processo que seria uma adjudicação direta, mas eu fui muito mais longe. Eu disse: eu não vou fazer uma adjudicação direta pura. Vamos consultar várias empresas” e “assim foi”, justificou o presidente da Câmara lisboeta.

Perante a polémica instalada, Moedas admitiu “rever o projeto e melhorar. Mas temos e fazer. Eventualmente ainda tentando reduzir custos. Não sei se é possível reduzir custos, o que sei é que é possível continuar a trabalhar.” De seguida, o autarca dirigiu-se às declarações de Marcelo Rebelo de Sousa e da Igreja, dando nota das preocupações levantadas, mas priorizando a imagem da cidade e do país durante o evento.

“Eu farei aquilo que entenderem tanto do lado da Igreja como do senhor Presidente da República. Respeito as opiniões. Faço o que for necessário. Aquilo que digo é que faltam 186 dias e temos de ir para a frente. Vamos ter 100 hectares em que estará um milhão e meio de pessoas. Nós vamos ter um palco em que vão estar mais de 190 países a olhar para Portugal. Naquele momento, Lisboa vai ser o centro do mundo. E isso tem um valor enorme para nós“, continuou.

Finalmente, chamou a si todas as responsabilidades das decisões, escudando-se na necessidade de mostrar obra — e um evento — feita a tempo. “Dou o corpo às balas. Tudo o que podemos fazer é melhor, mas tem de ser feito. Temos de fazer.” “É um momento tão único, tão importante para Lisboa. Estou muito bem com a minha consciência. Todos os eventos da JMJ transformaram sociedades. Eu quero que a JMJ transforme Lisboa.”

Ana Rita Moutinho //

17 Comments

  1. O Grilo Falante ( PR() meteu-se no caminho e já há M€rda da grossa .é sempre a mesma gaita fala muito e normalmente do que não sabe peva daí a gaita do costume porque é que non te CALAS Conho !!!!

    • Este Presidente é só lérias. Pouco sabe mas mete-se em tudo para encobrir a sua nulidade. Depois já se sabe; mete o pé na argola.

  2. Quando falam do retorno (financeiro) esperado, era interessante que comparassem com os lucros do turismo de Lisboa (e Portugal) antes da pandemia. Porque se há um acréscimo de gente a vir a Lisboa para este evento, também há um acréscimo de despesa/investimento. Além disso, se há os que vêm, também há os que não vêm por causa da confusão e da falta de camas. Daí ser importante comparar antes de mandar números que podem muito bem não ser realistas…

    • Vai ser mais um mamarracho como o Euro e a Expo 98.
      só em Portugal fazem Obras destas , ainda Por cima foi Portugal que se candidatou

      • A expo em Portugal foi o melhor que podia ter acontecido a Lisboa, só quem ainda era um bebé é que não sabe o que era Lisboa antes da expo e especialmente o que era aquela que hoje é uma das zonas mais caras e nobres de Lisboa.
        O parque das nações, estação oriente e interface rodoviário, Moscavide, Vasco da gama e os hotéis que aí existem e tanto contribuem para a economia foram fruto da Expo que tornaram uma das zonas mais pobres e feias de Lisboa, cheia de contentores, naquilo que hoje chamam parque das nações.

  3. Se fosse o moedas falava com o homologo de Madrid ou Barcelona sobre a possibilidade de transferir o evento para lá, voltava a por os contentores nesse terreno e deixava-o ao abandono, assim acabava com a verborreia. No entanto continue a achar que o estado não deve contribuir para uma obra que beneficie apenas Lisboa.

  4. Portugal não é apenas Lisboa! Porque tem o país inteiro de contribuir apenas para eventos em Lisboa? E o resto do país? Não merece eventos de renome? Temos tantas outras cidades em Portugal que poderiam receber um evento destes… E se é um evento católico, porque não foi organizado em Fátima? Porque é que se gastam milhões dos contribuintes em obras deste género em vez de se aproveitar o que já se tem? Há tantas áreas no país que necessitam de melhorias e gastam-se 160 milhões de euros (!!!) num evento católico! Por isso é que cada vez há menos fiéis, afinal a religião não é diferente do futebol, onde se fala só de milhões… Simplesmente vergonhoso o que se passa neste país à beira mar plantado… Depois admiram-se que muitos fogem aos impostos… para pagar este tipo de disparates, não obrigado, prefiro investir esse dinheiro num seguro de saúde!

    • Imaginemos a SIC a TVI/CNN a CMTV as RTPs se caso nao estivesse em causa o Moedas/PSD, imaginemos estas cadeias de Televisao se por acaso estivesse em causa o Medina, o Antonio Costa, o Governo o PS, já nao se calavam meia em meia hora, já tinham posto os seus profissionais Pidescos em ação a investigar as pessoas em causa até ás idades de bebés, e os organismos ligados á construçao, já havia fotografias imagens videos com as pessoas ligadas ao negocio, suspeiçoes e invençoes, se era para isto que queriamos a liberdade da informaçao, que volte rapidamente á informaçao do Estado, mas com uma nova RTP, esta que devia ser as televisoes de referencia, já que sao pagas diretamente por os impostos dos portugueses, e acavam por ser muito piorea que as cadeias de televisao privadas

  5. Dinheiro…. náaaaa…. não há. Para professores, enfermeiros, médicos, …. ná…. não há … pá. Há que “poupar” para esta pilantragem, e ainda por cima calões a vida inteira, a mamar e a pedofilar. Eles pedofilam a vida inteira; e agora recebem o prémio disso; certo … ? certo ! há que agradecer. E está certo, há que agradecer aos Dons, … afinal há que lhes beijar a mão como ao …. D. Vito. Got it ? …. Got it ! Este amedrontava a gentalha com os capos, aqueles fazem algo parecido: ameaçam com “as chamas do inferno”. Princípios idênticos, há que ajoelhar …. cambada. PS: O Moedas assume, …. assume…. parece a MNE alemã a dizer que “mesmo que os votantes dela sejam contra o apoio à UA…. ela assume”; que tal, … a Europa no seu melhor; que o Papa os abençoe…. certo ? certo !

  6. isto já parece uma “novela” cor de rosa…
    uma vez mais todas estas contradições resultam de uma má comuicação entre as entidades e o “povo”.
    A titulo de exemplo ainda não havia jornadas e já se estava a realizar as obras do passadiço junto ao rio tranção (ponte sobre o rio tranção) sob a responsabilidade da câmara de lisboa e já se avançava com o concurso do passadiço de Loures sob a responsabilidade da câmara de Loures por isso porquê juntar alhos com bogalhos!!!

    Depois acreditando nas noticias simples que vem a publico espera-se 1,5 milhões de pessoas significando cerca de 315 milhões de euros. Se as Jornadas vão custar 80 milhões ou mesmo com derrapagens 150 ou 200 milhões onde reside as duvidas sobre a mais valia do evento para o pais?

    só fica atravessado o palco que depois vai servir para outros eventos… vai servir para concertos de musica ou festivais de musica com a cruz de fundo? não me parece… quando muito para alguns comicios politicos…

    • Ainda vao descobrir um papel um email, um bilhete, um apontamento, qualquer coisa que dê para chutar para outro que nao o Moedas ou o PSD, Imaginemos a SIC a TVI/CNN a CMTV as RTPs se caso nao estivesse em causa o Moedas/PSD, imaginemos estas cadeias de Televisao se por acaso estivesse em causa o Medina, o Antonio Costa, o Governo o PS, já nao se calavam meia em meia hora, já tinham posto os seus profissionais Pidescos em ação a investigar as pessoas em causa até ás idades de bebés, e os organismos ligados á construçao, já havia fotografias imagens videos com as pessoas ligadas ao negocio, suspeiçoes e invençoes, se era para isto que queriamos a liberdade da informaçao, que volte rapidamente á informaçao do Estado, mas com uma nova RTP, esta que devia ser as televisoes de referencia, já que sao pagas diretamente por os impostos dos portugueses, e acavam por ser muito piorea que as cadeias de televisao privadas

  7. Se quiserem, o Moedas poderá mandar fazer um palco mais pequeno e em madeira. Qualquer carpinteiro poderá fazer isso. Ou então fazê-lo com conjuntos de paletes usadas, sobrepostas. Assim ficará baratucho.

  8. Imaginemos a SIC a TVI/CNN a CMTV as RTPs se caso nao estivesse em causa o Moedas/PSD, imaginemos estas cadeias de Televisao se por acaso estivesse em causa o Medina, o Antonio Costa, o Governo o PS, já nao se calavam meia em meia hora, já tinham posto os seus profissionais Pidescos em ação a investigar as pessoas em causa até ás idades de bebés, e os organismos ligados á construçao, já havia fotografias imagens videos com as pessoas ligadas ao negocio, suspeiçoes e invençoes, se era para isto que queriamos a liberdade da informaçao, que volte rapidamente á informaçao do Estado, mas com uma nova RTP, esta que devia ser as televisoes de referencia, já que sao pagas diretamente por os impostos dos portugueses, e acavam por ser muito piorea que as cadeias de televisao privadas

  9. Com tudo o que se vem a saber e descobrir acerca desta “palhaçada” , este evento deveria ser reportado ! …. Bem se nota que algo não bate certo , os principais responsáveis por esta decisão são hoje uns ” Pôncio Pilatos” que tentam lavar as mãos custe o que custe , das responsabilidades que tem , que como garotos da Escola se acusam mutuamente . Como dizem os nossos Pulhiticos , quando querem sacudir a agua do capote (à Politica o que é da Politica e à Justiça o que é da Justiça) ; pois bem , então digo Eu ( à Igreja o que é da Igreja e au Estado Laico o que compete a un Estado Laico) , no extremo dos extremos , este tipo de decisões carecem de un Referendo Publico com todas as condições claramente descritas ! …. Num Estado de Direito Democrático , o Povo deveria ser Soberano e não sô uma fonte de Impostos !

  10. Basta ouvir um politico idiota como é o do presidente da Assembleia da republica das bananas a dizer que povo está em jubilo para se perceber o que é Portugal. Um grupo de intelectuais diminuídos que só vivem da corrupção e aparência.

    Um presidente da republica que não passa de uma mera figura decorativa, cujas capacidades deixam muito a desejar.

    Um presidente da camara de Lisboa que mais parece um sacristão ou ratazana de sacristia.

    um presente das JMD (padre naturalmente) que mete os pés pelas mãos e que na minha opinião está comprometido até ao tutano.

    Um vaticano corrupto que assobia para o lado

    Um povo que se acanha e jubila como diz o santos silva

    Escutem o nosso hino, e na rua façam ouvir a voz do povo que todos os dias são vistos como estúpidos, parvos e que são facilmente enganados.

    O jubilo de um povo só pode ser visto quando este é feliz, vive em condições dignas, não passam fome, tem um ensino digno e um sistema de saúde capaz de ajudar todos.

    Tudo o resto não passa de festa e entretenimento par distrair o povo daquilo que é essencial.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.