Pieter Brughel des Älteren / Wikimedia

Triunfo da Morte – Peste Negra, de Pieter Brughel des Älteren
Um único gene pode ajudar a explicar a persistência da peste ao longo da história da humanidade. Alterações num único gene do genoma da bactéria da peste permitiram esclarecer um método que o germe utilizou para sobreviver e propagar-se ao longo dos tempos.
Responsável pela pandemia mais mortífera da história, a bactéria que causa a peste, a Yersinia pestis, tem existido em diferentes estirpes, desde a antiguidade até aos nossos dias.
Agora, um estudo publicado esta quinta-feira na Science revelou finalmente de que forma as adaptações num único gene ajudaram a peste a sobreviver durante milénios.
Como descreve a Live Science, a Y. pestis tem vindo a infetar os seres humanos ainda antes de haver registos históricos. A forma mais comum da doença é conhecida como “bubónica”. Na maioria das vezes, entra no corpo através de picadas de pulgas infetadas, embora as pessoas possam apanhá-la diretamente de animais infetados, incluindo ratos e gatos.
Uma vez dentro do corpo, a bactéria desloca-se para os gânglios linfáticos e replica-se. À medida que se multiplica, desencadeia a formação de “bubões” dolorosos e cheios de pus, que dão origem ao nome da “peste bubónica”.
A bactéria da peste também pode causar uma infeção sanguínea, chamada peste septicémica, e uma infeção pulmonar, chamada peste pneumónica.
As três maiores pandemias de peste – Peste de Justiniano (entre 542 e 750 d.C.), Peste Negra (século XIV) e Peste de Yunnan (de 1855 a 1960) e estão entre os surtos mais mortíferos da história da humanidade.
Além do número impressionante de mortes associadas ao agente patogénico, o que talvez seja mais notável na Y. pestis é a longevidade das suas estirpes.
Para investigar o conjunto de ferramentas genéticas que a Y. pestis utiliza para persistir durante tanto tempo, os investigadores fizeram uma análise de um gene da peste conhecido como pla em centenas de amostras recolhidas de vítimas antigas e modernas da doença.
O gene pla codifica uma enzima que ajuda a Y. pestis a mover-se através do corpo sem ser detetada pelo sistema imunitário do hospedeiro.
Estudos anteriores sugeriram que o pla é um fator-chave que modula tanto a letalidade de uma dada estirpe da peste como a sua capacidade de desencadear surtos em seres humanos.
No entanto, uma estirpe da peste pode transportar um número diferente de genes pla do que a outra; e, até então, não era claro como este número de cópias poderia afetar a sua biologia.
Nos genomas antigos da peste que analisaram – 20 dos quais datavam da primeira pandemia da peste e 94 da segunda – os investigadores observaram um padrão em que as estirpes da peste perdiam cópias de pla ao longo do tempo, nomeadamente nas fases posteriores de cada pandemia.
Entre os genomas modernos, encontraram três estirpes que sugerem que o mesmo padrão se está a desenrolar atualmente.
Os investigadores teorizaram que esta adaptação terá tornado as infeções menos virulentas, ou prejudiciais para o organismo do hospedeiro, ao longo do tempo. Isto sugere que a mudança evolutiva ajudou a doença a manter os seus hospedeiros – sejam eles ratos ou humanos – vivos durante mais tempo – permitindo, por outro lado, que se espalhasse mais amplamente.