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Mais de 700 mil novos diagnósticos de cancro estão ligados ao consumo de álcool

Pesquisa baseou-se nos dados de consumo per capita de álcool a partir de números de vendas comerciais registados em 2010 e o número de novos casos diagnosticados em 2020.

A relação de causalidade entre o consumo de álcool e o aparecimento de doenças cancerígenas é há muito conhecida no meio científico. Um estudo científico de 2018 assinado por uma equipa da Universidade de Cambridge abordou mesmo a possibilidade de o álcool danificar o ADN, o que permitiu um olhar sobre o funcionamento do mecanismo.

Agora, um novo estudo, elaborado pela International Agency for Research on Câncer (IARC) sugere que 740 mil novos diagnósticos podem ser atribuídos diretamente ao consumo de álcool, com os seus autores a apelar por melhores estratégias de saúde pública que atraíssem mais atenção para o problema (e as suas causas).

A ligação entre o consumo de álcool e o cancro não é fácil de provar, tendo em consideração os fatores contraditórios envolvidos — que dificultam a atribuição de cada caso a uma causa.

Ainda assim, o  estudo apresenta a estimativa mais atual para o fenómeno, através da comparação dos dados de consumo de álcool por pessoa recolhidos em 2010 com os novos casos de cancro diagnosticados em 2020.

Os resultados da investigação apontam para 741, 300 novos casos resultantes destas circunstâncias, cerca de 4% do total de casos detetados mundialmente.

A pesquisa também sugere a existência de uma influência geográfica nos resultados, já que 6% dos novos casos detetados na China podem ser atribuídos ao álcool, valor que desce para os 3% nos Estados Unidos da América.

Ainda assim e tal como sugere Harriet Rumgay, da IARC, há outras variações causadas, por exemplo, por fatores geográficos ou sociais. “As tendências sugerem que, apesar do consumo de álcool estar a diminuir na Europa, o mesmo não acontece na Ásia, em países como a China e a Índia, e na África subsariana”.

Em termos demográficos, os homens representam três quatros dos casos com origem no consumo de álcool, sendo os cancros do esófago, do fígado e da mama os mais frequentemente atribuídos ao consumo de álcool.

Simultaneamente, o consumo excessivo está também na origem de um maior número de casos, já que o consumo moderado é apenas responsável por um em sete casos.

“O nosso estudo evidencia o contributo do consumo de álcool, mesmo que moderadamente, para o aparecimento de cancro, o que é preocupante mas também sugere que mudanças pequenas no comportamento dos cidadãos podem afetar positivamente o futuro dos índices de doenças cancerígenas”, esclarece Rumgay.

Mesmo assim, a equipa envolvida na investigação não hesita em realçar as limitações do seu trabalho, aponta o New Atlas. Por exemplo, o estudo não considera a relação entre o álcool e tabaco, duas substâncias cancerígenas consumidas em paralelo.

O estudo publicado este mês pelo , ainda assim, indica que as suas conclusões são “estimativas conservadoras” baseadas no consumo per capita de álcool a partir de números de vendas comerciais — pensa-se que cerca de um quatro de todo o consumo global de álcool ocorra fora deste circuito, pelo que é provável que os números presentes nas conclusões do estudo sejam ainda mais elevados.

Rumgay defende que a principal ilação a tirar da pesquisa é o aumento de sensibilização para a relação entre o álcool. A investigadora recomendou mesmo uma série de intervenções de saúde pública para ajudar a reduzir o impacto do cancro relacionado com o álcool.

ARM, ZAP //

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