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Vírus são mais perigosos de manhã do que à noite

Sanofi Pasteur / Flickr

Infecção viral com dengue: quando um mosquito morde uma pessoa à procura da sua refeição diária de sangue, liberta saliva que contém o vírus da dengue que entra então na corrente sanguínea do atingido.

Infecção viral com dengue

Os vírus são mais perigosos quando infetam as suas vítimas pela manhã, de acordo com um estudo da Universidade de Cambridge.

Os resultados da pesquisa, publicados na Proceedings of the National Academy of Sciences, mostram que os vírus têm dez vezes mais sucesso em adoecer a sua “vítima” se a infecção tiver início pela manhã, aparentemente porque o nosso relógio biológico está mais suscetível.

A mesma pesquisa percebeu, nos seus estudos com animais, que um relógio biológico desajustado – algo provocado por jornadas de trabalho em turnos diferentes ou jet lag – sempre está mais vulnerável a infeções.

Para os investigadores da Universidade de Cambridge, as descobertas podem ajudar a reforçar o combate a surtos de doenças.

Os vírus, ao contrário de bactérias e parasitas, são completamente dependentes da sua capacidade de “sequestrar” os mecanismos dentro das células para se replicarem.

Mas as células mudam muito como parte do padrão de 24 horas conhecido como relógio biológico, que influencia, por exemplo, o funcionamento do nosso sistema imunitário e a libertação de hormonas.

No estudo, camundongos foram infetados com influenza, que causa a gripe, ou com o vírus da herpes. Os animais infetados durante a manhã apresentaram níveis virais dez vezes maior do que aqueles infetados durante a noite.

Os vírus que chegavam mais tarde falharam num processo que, metaforicamente, pode ser explicado como se estivessem a tentar tornar operários reféns dentro de uma fábrica já depois do turno dos operários tivesse terminado.

“Há uma grande diferença”, explica o investigador Akhilesh Reddy, à BBC. “Para ser eficaz o vírus precisa de todo o aparato disponível na hora certa, mas uma pequena infecção pela manhã pode-se desenvolver mais rapidamente e espalhar-se pelo corpo”.

“Em uma pandemia, ficar em casa durante o dia pode ser importante para salvar vidas. Se os testes comprovarem a hipótese, isto pode ter um grande impacto”, sublinha.

Relógio biológico

Outros testes mostraram que alterar o relógio biológico de um animal os deixa “presos” num estado que facilita o sucesso dos vírus.

“Isto sugere que quem trabalha em turnos diferentes – quem trabalha às vezes de madrugada e às vezes durante o dia e, por isso, tem um relógio biológico desajustado – está mais sujeito a doenças virais”, explica Rachel Edgar, autora principal do estudo.

“Se isto for confirmado, estes trabalhadores podem tornar-se candidatos a receber a vacina anual da gripe”, completa.

Os investigadores usaram apenas dois tipos de vírus no estudo, mas ambos eram muito diferentes: um era vírus de DNA e o outro de RNA, o que leva os investigadores a acreditar que o princípio se aplica a um grande número de vírus.

Cerca de 10% dos genes – as instruções para a gestão do corpo humano – mudam durante o dia, e isso é controlado pelo relógio biológico interno.

A pesquisa focou num gene chamado Bmal1, que tem o pico de atividade durante a tarde tanto em camundongos quanto em pessoas.

“É a ligação com o Bmal1 que é importante, já que quando seu nível está baixo, durante a manhã, ficamos muito sujeito a infecções”, diz Reddy.

Curiosamente, o Bmal1 fica menos ativo em pessoas durante os meses de inverno, sugerindo que pode ter um papel no facto de as pessoas estarem mais sujeitas a infeções nessa época do ano.

Já tinham sido encontradas outras evidências da ligação entre o relógio biológico e infeções, como o facto de as vacinas contra gripe serem mais eficazes se tomadas pela manhã e o jet lag afetar o desempenho do parasita da malária.

ZAP / BBC

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