Vestígios arqueológicos mostram comércio atlântico na era romana

Tony Hisgett / Wikimedia

Barco romano em mosaico, Bardo Museum Tunisia

Barco romano em mosaico, Bardo Museum Tunisia

Um estudo da Universidade Autónoma de Barcelona mostrou que existia comércio atlântico na época romana, comprovado por novos vestígios arqueológicos provenientes de diversos locais na Europa.

As provas que sustentam a constatação deste comércio foram descobertas em vários locais arqueológicos das costas da Península Ibérica, da Alemanha, da Holanda e do noroeste de França, no âmbito de um projeto internacional que envolveu também universidades de Lisboa e da Alemanha.

O arqueólogo da Universidade Autónoma de Barcelona (UAB) César Carreras explicou, numa entrevista à agência Efe, que a primeira surpresa foi descobrir que “mais de 70 por cento das ânforas da Grã-Bretanha descobertas em 103 explorações arqueológicas da época romana eram de origem peninsular”.

Predominavam, especificamente, ânforas de azeite de Guadalquivir, peixe da baía de Cádis e vinhos do sul e da zona da Catalunha (Espanha).

“Para alcançar as ilhas britânicas, a rota mais adequada era a atlântica, quer devido aos custos quer pelo tempo, e a única dúvida residia na dificuldade da travessia atlântica e na falta de barcos afundados, mas nos últimos anos, completámos esta visão com o estudo de cidades romanas na Holanda (Kops Plateau) e na Alemanha (Xanten, Neuss), que confirma o que havíamos visto em Inglaterra”, disse o investigador.

As novas descobertas na Holanda e na Alemanha de “uma quantidade espetacular de ânforas peninsulares”, de datas muito antigas — época de Augusto — quando os romanos tinham acabado de conquistar estes territórios.

Na opinião do arqueólogo, se até agora havia reticências para aceitar esta rota atlântica, especialmente na sua vertente ocidental (costa portuguesa, galaica e andaluza), os achados da Holanda e Alemanha reforçam esta hipótese de forma concludente.

Além disso, mostram uma cronologia muito antiga (ano 16 antes de Cristo) em uma quantidade de produtos muito importantes dentro do aprovisionamento militar das campanhas de conquista do imperador Augusto na Germania.

“Tanto a quantidade como a variedade de produtos e a cronologia parecem inéditos e ajudam a completar a informação que os nossos colegas franceses estavam a documentar na costa norte francesa, que tem o mesmo tipo de produtos, em proporções semelhantes e com datações idênticas”, afirmou Carrera.

As ânforas são vasos concebidos para o transporte marítimo ou fluvial e, portanto, a sua presença a norte do Reno faz supor que este rio era um dos acessos destes produtos.

A nível de arqueologia subaquática, o Atlântico, prosseguiu o especialista da UAP, é um lugar difícil para trabalhar devido à profundidade em que podem estar os possíveis barcos (abaixo dos 30 metros), mas más condições de visibilidade e o frio.

“A maioria dos achados são de barcos que se afundaram na costa ou em rias e a cada dia temos mais, nomeadamente em Portugal, o último em Esposende, na Galiza, nas ilhas do canal da Mancha e a costa belga”, que confirmam uma importante circulação comercial, “se bem que não tão importante como no Mediterrâneo”, referiu.

/Lusa

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