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Sócrates defende Mortágua e defende-se de críticas “repugnantes” de Ana Gomes

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António Cotrim / Lusa

O ex-primeiro-ministro José Sócrates

O ex-primeiro-ministro José Sócrates

O ex-primeiro-ministro José Sócrates considerou esta sexta-feira “absolutamente inacreditável que a sociedade e os comentaristas” televisivos “rebolem de fúria” pela criação de um novo imposto sobre património imobiliário, pondo-se ao lado da deputada bloquista Mariana Mortágua.

No primeiro dia da Universidade de Verão, promovida pelo Departamento Federativo das Mulheres Socialistas (DFMS) da FAUL, José Sócrates foi orador num painel onde, apesar do tema ser “Política Externa e Globalização”, não deixou a atualidade nacional de fora e falou até do novo imposto com incidência em património imobiliário de elevado valor, cuja polémica ganhou maior dimensão após a intervenção da deputada bloquista Mariana Mortágua numa conferência do PS, no sábado passado.

“Acho absolutamente inacreditável que a sociedade e os comentaristas nas televisões rebolem de fúria. Não posso deixar de me pôr ao lado dela quando vejo tantas críticas quando é uma proposta tão modesta e até tão insignificante quanto a dizer: vamos taxar um pouco mais aqueles?”, disse.

O ex-primeiro-ministro questionou o que é que Mariana Mortágua – “uma das vozes mais interessantes no espaço público” – “propôs de especial” dada “a berraria da direita”.

“Ela nem propôs nacionalizações, nem pôs em causa nenhum direito constitucional”, defendeu, assumindo a “alguma estupefação” com toda esta polémica.

Na opinião de Sócrates, “fazer um ajustamento na política fiscal taxando mais o património” é, “apesar de tudo, razoável” e possível de discutir, mas defendeu que “o que o país precisa é de investimento público, não de mexer aqui ou ali nos impostos”.

“O que me espanta é que veja pela primeira vez esta situação absolutamente curiosa de ver um Governo socialista atacado pela direita com a direita a dizer devíamos fazer mais investimento público“, acusou.

Critica PS e Governo por diploma relativo ao sigilo bancário

O ex-primeiro-ministro criticou PS e Governo pela aprovação do diploma relativo ao sigilo bancário, que obriga os bancos a informar a Autoridade Tributária sobre a existência de contas de cidadãos portugueses ou estrangeiros residentes em Portugal com saldo superior a 50 mil euros até ao final de julho de 2017.

Para Sócrates, por trás do discurso do combate à fraude está uma perigosa concentração de poder nos organismos de Estado.

“Mas o que me preocupa é que por trás do discurso do combate ao fisco [à evasão fiscal] está uma concentração de poder nos organismos de Estado que é perigosa para todos. Nós todos sabemos como o fisco é completamente indiferente aos direitos dos contribuintes. Queremos dar-lhe ainda mais poder”, avisou.

Dizendo fazer esta crítica com “a devida vénia”, Sócrates atirou também aos partidos da direita.

“Mas afasto-me também de todos aqueles que com uma duplicidade moral que é absolutamente impressionante, criticam agora esta medida do Governo quando assistiriam durante quatro anos no Governo à transformação da autoridade tributária numa máquina de guerra contra os cidadãos que até lhes tirava as casas. Que autoridade têm eles para falar disso”, condenou.

O ex-primeiro-ministro afirmou que “o PS no Governo acha que deve dar ao Estado, ao fisco, a possibilidade de ter acesso às contas bancárias de todos os cidadãos” e que diz que “é em nome do combate à fraude e à evasão fiscal”.

“Diz até – coisa que desconheço – que é para cumprir uma diretiva comunitária. Talvez então esta crítica deva dirigir-se mais à Europa do que ao Governo português”, admitiu.

Quando introduziu este tema, o ex-primeiro-ministro disse que tinha prometido a si próprio não falar do processo que o envolve “não porque não seja um processo político”, mas porque tem tempo para falar dele.

“Mas quero falar deste aspeto, dos poderes que cada vez mais estamos a dar ao Estado“, explicou, naquilo que qualificou como uma “ligeira crítica ao PS e ao Governo”.

O diploma aprovado em Conselho de Ministros, que ainda terá de ser apreciado pelo Presidente da República, adota um conjunto de regras relativas ao acesso e troca automática de informações financeiras no domínio da fiscalidade, que resultam da transposição de uma diretiva comunitária, mas estendem-se aos residentes em território nacional.

O anteprojeto de diploma do Governo foi alvo, em agosto, de várias recomendações da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD), por “restrição desnecessária e excessiva dos direitos fundamentais à proteção de dados pessoais e à reserva da vida privada”, tendo o Ministério das Finanças prometido acolher a generalidade das sugestões no documento final.

Críticas de Ana Gomes são “repugnantes”

À saída do evento, José Sócrates considerou “absolutamente repugnantes” as críticas da eurodeputada socialista Ana Gomes sobre a sua presença num evento partidário, acusando-a de fazer o “jogo da direita, que pretende uma condenação sem julgamento”.

“Já me habituei a ser insultado por muitos dos meus adversários políticos e por todos aqueles que pretendem fazer uma condenação sem julgamento, mas nunca pensei que dentro do PS alguém pudesse dizer coisas daquelas, insultando um camarada seu e fazendo o jogo dessa direita que pretende fazer uma condenação sem julgamento. A coisa mais horrorosa que há são esses comportamentos”, respondeu José Sócrates aos jornalistas no final da Universidade de Verão, promovida pelo Departamento Federativo das Mulheres Socialistas (DFMS) da FAUL.

Em causa estão as críticas de Ana Gomes sobre a presença de José Sócrates neste evento institucional do PS, nas quais acusou a federação de Lisboa do partido de conivência com as “efabulações” do ex-primeiro-ministro, tendo o antigo governante considerado estas declarações “absolutamente repugnantes”.

“O que eu acho que os portugueses esperam é que o Ministério Público se explique, é que o Ministério Público não abuse dos seus poderes. O Ministério Público não tem o direito de fazer o que está a fazer, portanto, neste momento quem está sob suspeição é o Ministério Público”, respondeu ainda aos jornalistas quando questionado sobre o processo Operação Marquês, no qual foi constituído arguido em 2014 e chegou a estar preso preventivamente.

Rentrée inesperada levanta burburinho no PS

O ex-primeiro-ministro respondeu aos críticos e foi perentório: “eu nunca abandonei a vida política e só abandono a política quando eu quiser e não quando outros pretenderem uma espécie de ostracismo cívico”.

“Devem ter estado distraídos, porque participei em imensos eventos do PS por todo o país nos últimos dois anos”, atirou.

No entanto, a começar logo pelo facto de Sócrates ter sido inicialmente anunciado como “primeiro-ministro”, de acordo com o Público, o evento desta sexta-feira teve ares de rentrée.

De acordo com o jornal, “ninguém sabe exactamente” o que o súbito protagonismo político do antigo primeiro-ministro pode significar. Um socialista explica ao jornal que, “de uma candidatura presidencial a uma candidatura autárquica, tudo é possível”.

Naquilo que alguns designaram ao Público como “a rentrée política do animal feroz“, Sócrates terá começado já no seu jantar de aniversário, a 6 de setembro, na LX Factory. Só na última semana, Sócrates esteve num jantar restrito, num evento do PS de Lisboa e num almoço de homenagem – e estará ainda em aberto a possibilidade de o político fazer uma volta pelo país.

De acordo com fontes do Público, Sócrates tem-se feito acompanha de “alguns dos amigos de sempre”, nomeadamente Renato Sampaio (deputado do PS), Paulo Campos (ex-secretário de Estado), Mário Lino (antigo ministro de Sócrates) e Carlos Martins (ex-número dois da Câmara da Covilhã).

André Figueiredo, ex-dirigente do PS, estará mesmo a tratar da organização dos eventos e da agenda do ex-secretário-geral do PS. Ou, como afirma um socialista ao jornal, do “processo de reabilitação do ex-primeiro-ministro”.

ZAP / Lusa

8 Comments

  1. O animal feroz está de volta.
    Só que as circunstâncias mudaram. E ele é cego por não querer ver… ou por estar cego pelo ódio.
    Não vai a lado nenhum. Só vai enterrar-se mais. E pode escaqueirar o PS, se o PS não se demarcar dele imediatamente.

  2. Vai, vai!
    Daqui por alguns anos, quando as pessoas perceberem qual o projecto que Socrates tinha para o País, este homem candidata-se e ganha.
    Recordo o que aconteceu nos seus dois primeiros anos de governo. Corrigiu o defice para menos de 2% do pib (depois do herdar de Durão/ Santana 4,5% do defice). A seguir, o plano escolhido era dotar o País das infra-estruturas necessárias a um crescimento do pib sustentado e de longo prazo, de que são exemplos o plano energético, com uma fortissima aposta nas energias renováveis (já eramos uma referência na Europa) a modernização e desenvolvimento da rede escolar publica, dotação de infra-estruturas ao nível da Justiça, etc. Apareceu a crise e,como governo de esquerda, adoptou medidas para minorar o sofrimento e angustia das pessoas, entre elas os subsidios para ajudar casais que tivessem ficado desempregados, por forma a não perderem a sua casa ( se calhar muitos dos que o criticam foram ajudados nessa altura, o que a mim me repugna ), entre outras. Claro que as despesas sociais aumentaram. Internamente, começaram a “minar-lhe” o caminho, do mesmo passo que iam lá fora “meter veneno” para o “queimar”, até que conseguiram.
    Sabendo hoje a fantochada que toda esta crise foi, cuja génese esteve no Goldman Sachs, um polvo mafioso que controla governos, politicos, outros Bancos, agências de rating, a própria UE dominada pelos neoliberais, cujo presidente da comissão era Durão Barroso ( foi o responsável maximo da UE entre 2004/2014) e que hoje foi parar precisamente ao Goldman Sachs ( coincidencias curiosas) nem precisa de meter explicador,a não ser para gente muito, mas mesmo muito tótó. A somar a isto, o triste episódio do encontro nas Lajes entre Blair, Bush, Aznar e Barroso, para “decidirem” o ataque ao Iraque. Só mesmo um vendido como Barroso para se prestar a este papel.
    Para mim, este homem, mexeu com interesses instalados vários e cavou “a sua sepultura politica”, porque estes interesses instalados (alguns empresários, Juizes, etc) e alguns meios de comunicação, como esse jornaleco ordinário chamado “Correio da Manhã”, trataram de fazer uma autentica cruzada de intoxicação publica para o eliminar politicamente. Claro que estas coisas têm uma certa durabilidade temporal. Quando passar e as pessoas perceberem o engodo em que cairam, talvez entendam o projecto que ele tinha para Portugal e aí teremos de esperar uns bons anos até aparecer outro homem com a visão dele no governo, pois aí, ele irá candidatar-se a presidente e não a primeiro ministro.

    • Estou pavo para a vida ! Como é que alguém ainda pode achar este homem sincero. Será que não percebem a cada palavra, a cada gesto, o bicho aldrabão que ele é ? Como é possível. Quem apoia socrates só pode ser uma de 3 coisas: Da covilha ou guarda,mamao do PS ou completamente BURRO.

      • Quanto a si, nem sei o que será. Deve ser ” inteligente ” e por isso deve apoiar Durão Barroso e outros do género, da direita de preferencia, tudo gente “honesta” que quando saca é logo em grande.
        Ganhe juiizo homem e seja correcto nas suas análises.

  3. Este Sócrates parece estar candidato agora aos palpites do Marocas que de tanto falar em que já os próprios socialistas não aguentavam tanta baboseira acabou por se remeter ao silêncio, este agora parece estar a reabilitar o sistema dando ordens e opiniões de fora para dentro e entretanto matreiro vai reabilitando a sua própria imagem tão ao gosto de muitos portugueses tão apreciadores que são de vendedores de banha da cobra boa para todos os males.

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