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Sítio arqueológico raro da idade do ferro ficará submerso pela barragem do Sabor

A EDP tem em fase final de estudo um dos “mais raros” povoados da idade do ferro posto descoberto em Portugal, fruto de dois anos de escavações em Crestelos (Mogadouro) na zona do Baixo Sabor, que ficará submerso.

Contrariamente ao que é normal nos povoados deste período, construídos no topo de elevações por motivos essencialmente defensivos, este estende-se por uma zona de vale.

“A expectativa inicial era de que o sítio fosse de ocupação do período romano. À medida que fomos escavando, descobrimos uma ocupação interessante da idade do ferro, com indícios da idade do bronze, e até mesmo do calcolítico”, explicou à Lusa Sérgio Pereira, arqueólogo responsável pelos trabalhos de investigação.

Os trabalhos arqueológicos foram desenvolvidos na área adjacente aos edifícios da Quinta de Crestelos (Meirinhos), na base do monte que terá, supostamente, albergado um castro, que lhe deu o nome Crestelos.

A intervenção revelou o que terá sido um importante habitat romano, do qual uma parte importante será submerso pelas águas do empreendimento hidroeléctrico.

“Na parte mais baixa descobrimos um povoado aberto com outro tipo características de implantação mais raras, o que o torna praticamente num local único Portugal”, frisou Sérgio Pereira.

No entanto, a explicação para esta descoberta “rara” tem por base um modelo de ocupação que ainda não foi sondado em outros pontos do país.

“Por norma, escava-se os povoados que estão localizados nos cabeços e colocados em pontos estratégicos e por casualidade, foi posto a descoberto um povoado num ponto mais baixo do que o habitual neste tipo de povoamento”, acrescentou Sérgio Pereira.

Segundo os arqueólogos, o local revela vestígios de ocupação que começaram no século VII antes de Cristo e que se estende pelo período romano, idade média e idade moderna, até aos dias de hoje.

“Quando iniciámos a intervenção no sítio arqueológico de Crestelos, foram feiras oito sondagens de diagnóstico, numa área com 32 metros quadrados, e na reta final dos trabalhos temos mais de um hectare escavado (10.700 metros quadrados) “, explicou o arqueólogo.

Por seu lado, José Antonio Pereira, diretor de escavações, refere que este lugar se está a revelar ” ser único” para esta região.

“Temos encontrado sedimentos que vão desde há 4.500 anos até à atualidade, mas com uma densidade de ocupação desde a segunda idade do ferro”, destacou.

Já o espólio é composto “por milhares de peças muito variadas” como objetos em cerâmica, metais, vidro e indústria lítica, entre outros objetos que contam a história do local.

“Interessante tem sido a descoberta de zonas funcionais como cabanas com lareira central, o que lhe confere um uso doméstico ao local”, acrescentou José António Pereira.

O local foi amplamente ocupado” ao longo dos diversos pontos cronológicos” sobretudo até ao período medieval.

“Na zona do vale de Crestelos, o grande período de ocupação vai desde o século III até século I Antes de Cristo, embora haja indícios de ocupação anterior que vão até ao calcolítico “, calculam os investigadores no local.

O sítio arqueológico de Crestelos fica na freguesia de Meirinhos e começa agora ser selado, para ficar submerso com o enchimento gradual da albufeira da barragem do Baixo Sabor previsto para o final de 2013 início de 2014.

Ao contrário do que é comum no noroeste português, o povoado “ocupa essencialmente a zona de vale”.

ZAP/Lusa/ho mogadoyro

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