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Site na Índia promove casamentos entre pessoas com VIH

BBC

foto: BBC

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O projecto, que já formou dezenas de casais, é financiado por um funcionário público com dinheiro do seu próprio bolso.

Quando Nisha viu a seringa a ser preenchida com o seu sangue, mal imaginava que a agulha na sua veia também estava a sugar a sua esperança e dignidade.

Grávida, Nisha estava num hospital em Parbhani, no Estado de Maharashtra, no oeste da Índia, a fazer um teste de rotina. Mas o seu mundo desabou quando descobriu que era seropositiva.

Os resultados do teste confirmaram a suspeita de que fora o seu marido a transmitir-lhe o vírus. Mas foi Nisha quem acabou por ser culpada pela família, e expulsa da própria casa.  O seu maior temor acabou por se tornar realidade quando o filho nasceu: ele também era seropositivo.

Depois do divórcio, Nisha conta à BBC que perdeu a vontade de viver.

“Eu queria matar o meu filho e matar-me a mim mesma”, diz ela. “Queria casar de novo, mas não sabia como encontrar um parceiro seropositivo.”

Depois de alguns anos de muito sofrimento, Nisha soube do PositiveSaathi.com, um site na internet para pessoas seropositivas que querem casar. Saathi é a palavra hindi para “parceiro” ou “amigo”.

Hoje, aos 42 anos, Nisha tem uma vida tranquila, depois de encontrar um novo marido, também seropositivo, que lhe dá apoio e ao filho de 11 anos.

“O site veio como um raio de esperança no meu momento mais escuro”, diz Nisha.

Este sentimento é partilhado por mais de 5 mil pessoas com HIV positivo que estão registadas no site.

Anil Valiv fundou o PositiveSaathi.com in 2006 (foto: BBC)

Anil Valiv fundou o PositiveSaathi.com in 2006 (foto: BBC)

Rejeição pela família

Anil Valiv, um funcionário público de 43 anos, está por trás da iniciativa. Fundou o PositiveSaathi.com em 2006.

Apesar do seu trabalho desgastante no departamento de Transportes do Estado, Valiv encontra tempo na sua vida para ajudar pessoas que sofrem com as consequências do HIV.

Valiv começou o seu activismo promovendo exames de HIV entre motoristas de camião – um grupo de alto risco na Índia. Foi assim que conheceu um homem que queria muito casar-se, mas que se sentia impedido por causa do vírus.

“Essa pessoa contou ao médico que, se não encontrasse uma pessoa com HIV em breve, casava-se com uma mulher saudável sem revelar o seu status de HIV. O médico teve um dilema. Isso me fez perceber o quão difícil é para as pessoas nesta condição encontrarem parceiros.”

Valiv também acompanhou de perto o caso de um amigo que contraiu o vírus nos anos 1990.

“Ele foi rejeitado pela própria família. Não consigo esquecer-me do seu olhar esperançoso de achar uma família e ter filhos. O estigma da infecção é tão grande que quando ele morreu, em 2006, o pai recusou-se a acender a pira no funeral, que estava praticamente vazio.”

Vavil diz que as pessoas com HIV são tratadas de forma desumana, e que quando não recebem ajuda ou apoio podem acabar por espalhar a doença, desesperadas para preencher necessidades físicas e emocionais.

Quase dois terços das pessoas registadas no site são de áreas rurais. Esse número é surpreendente, considerando-se que o acesso à internet nestas zonas é difícil.

Algumas dezenas de pessoas têm conseguido casar devido não só ao site mas também a encontros promovidos por Vavil.

Em 2010, 22 pessoas que usaram o site fizeram um casamento coletivo em Pune. Valiv conta que mais de 20 casais que ele ajudou a formar geraram filhos sem HIV.

Valiv está agora a montar um site que agregue doações para ONGs que apoiam órfãos seropositivos.

“O HIV”, diz Valiv, “não devia tirar às pessoas o direito de sonhar”.

ZAP / BBC

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