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Sacos de plástico em arbustos dão prémio internacional a fotógrafo português

Eduardo Leal, Estação Imagem / Lusa

"Árvores de Plástico": Nas planícies da Bolívia, sacos de plástico viajam com o vento até ficarem presos em arbustos, alterado a paisagem.

“Árvores de Plástico”: Nas planícies da Bolívia, sacos de plástico viajam com o vento até ficarem presos em arbustos, alterado a paisagem.

Uma série de fotografias de sacos de plástico presos em arbustos no planalto boliviano valeram ao português Eduardo Leal o terceiro lugar nos Prémios Mundiais de Fotografia Sony, esta quinta-feira anunciados em Londres.

Intitulado “Árvores de Plástico“, este projeto valeu-lhe também um primeiro lugar na categoria Ambiente do prémio de fotografia Estação Imagem 2015 – Viana do Castelo, o que amplifica a satisfação com a distinção na competição internacional.

“Não estava nada à espera de vencer. É bom ter o reconhecimento pelo trabalho. Esta é uma profissão isolada e é bom saber que se está no caminho certo”, revelou Eduardo Leal à agência Lusa, em Londres, onde foram entregues os prémios numa cerimónia de gala.

Curiosamente, contou, a série surgiu de forma espontânea: enquanto esperava pela autorização para visitar uma unidade de processamento de lítio – que nunca chegou -, começou a fotografar em redor e reparou num arbusto com sacos de plástico.

Gostou do ângulo e considerou que seria uma forma eficaz de abordar o “problema” que é a acumulação sacos de plástico no ambiente, sobretudo em países menos desenvolvidos, onde a consciência ambiental e as infraestruturas de recolha de resíduos são reduzidas.

“Depois foi uma questão de procurar a melhor hora e boas perspetivas para fotografar e criar uma série uniforme”, explicou Eduardo Leal, produzindo assim “algo bonito, apesar de ser um problema”.

Fruto de uma consciência ambientalista pessoal, esta foi a primeira série que o português fez que não tem pessoas como protagonistas: em geral aborda temáticas sociais e políticas, em particular na América Latina, região pela qual confessa o fascínio.

Enquanto profissional independente, é Eduardo Leal que descobre os próprios temas, seja em livros, jornais, na música, pintura, cinema ou até conversas casuais.

“Ao contrário do fotojornalista, que trabalha com base nas notícias e histórias do dia a dia, o fotógrafo documental trabalha num espaço de tempo alargado e de forma mais profunda”, vincou.

Eduardo Leal saiu em 2003 do Porto, onde nasceu, em 1980, e passou pela Escócia antes de se estabelecer em Londres, onde começou por trabalhar numa fundação que trabalhava com arquivos fotográficos históricos.

Um mestrado em fotografia fê-lo “dar o salto” há três anos atrás para se dedicar a esta atividade a tempo inteiro, passando desde então a maior parte do ano na América Latina.

Trabalha para publicações impressas e digitais, sobretudo norte-americanas e do norte da Europa, como Washington Post, Al Jazeera America, Dagens Nyheter, Svenska Dagbladet, Aftonbladet, Die Press, Courrier International, Greenpeace Magazine ou Mashable.

Nunca vendeu para Portugal e fez uma única reportagem no país, sobre os forcados, mas espera que o terceiro lugar da secção para profissionais na categoria Campanhas dos prémios Sony, considerada a maior competição do género a nível internacional, lhe abra mais portas e oportunidades profissionais.

O prémio permite que o trabalho de Eduardo Leal faça parte de uma exposição em Londres, entre 24 de abril a 10 de maio, e de um livro a publicar com as melhores imagens da edição de 2015 dos Prémios Mundiais de Fotografia Sony.

Nesta edição dos Prémios foram também distinguidas a portuguesa Beatriz Rocha, de 15 anos, que venceu a categoria Cultura, e a lusodescendente Stephanie Anjo, de 14 anos, na categoria Retrato, ambas na secção juvenil.

/Lusa

 

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