Restos de convento islâmico encontrados em escavação de templo romano em Sintra

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Escavações arqueológicas no Santuário Romano consagrado ao Sol, à Lua e ao Oceano no Alto da Vigia – Praia das Maçãs, Sintra

Escavações arqueológicas no Santuário Romano consagrado ao Sol, à Lua e ao Oceano no Alto da Vigia – Praia das Maçãs, Sintra

Restos de um convento islâmico foram encontrados no litoral de Sintra na escavação de vestígios de um santuário romano dedicado ao sol, à lua e ao oceano, numa intervenção que, depois da atual temporada, vai prosseguir nos próximos anos.

As escavações, em curso desde 2008, revelaram para vestígios islâmicos e aras romanas com inscrições em latim e em grego, agora conservados no museu da Câmara de Sintra.

Numa vala aberta no Alto da Vigia, na arriba sobranceira à Praia das Maçãs, os arqueólogos escavam o “derrube de um muro de taipa”, explicou à agência Lusa José Cardim Ribeiro, diretor do Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas, MASMO.

“Estamos a preparar o registo para fechar o campo”, esclareceu o arqueólogo Alexandre Gonçalves, após dias sem poder escavar devido ao mau tempo.

DR Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arqueologia

O arqueólogo José Cardim Ribeiro

O arqueólogo José Cardim Ribeiro

A escavação apenas se iniciou em setembro, mas foram encontradas “algumas inscrições” romanas e recolhidos outros fragmentos em pedra, que vão agora ser estudados no MASMO.

O relato de vestígios arqueológicos no Alto da Vigia remonta a 1505, quando foram encontradas lápides romanas durante a construção de uma torre de facho.

“Esta foi a primeira descoberta arqueológica feita em Portugal, não há nenhuma anterior a esta data”, salientou Cardim Ribeiro.

O achado das lápides levou o rei D. Manuel I, que passava o verão no Paço Real de Sintra, a deslocar-se à Praia das Maçãs, então ainda sem areia, e que era “um braço de mar” navegável que entrava terra dentro para além de Colares.

A tradução das inscrições romanas revelou que serviram para “marketing político” em honra do rei e do império português, mas manteve a referência verdadeira que eram dedicadas “ao sol eterno e à lua”, contou o investigador.

Francisco d’Ollanda, discípulo de Miguel Ângelo, também desenhou o templo romano num livro que ofereceu ao rei D. Sebastião, intitulado “Da fábrica que falece à cidade de Lisboa”, com um círculo formado por cipos, dedicado ao sol e à lua.

“Encontrámos vestígios do santuário romano, mas também restos de um ‘ribat’, um convento islâmico, revelou Cardim Ribeiro, notando que se trata do segundo “ribat” encontrado no país, idêntico ao descoberto há uma década em Aljezur.

O “ribat”, com ocupação entre os séculos VIII e XII, será constituído por várias construções, uma delas com um “mirhab”, nicho virado a Meca, para orientar as preces, idêntico ao oratório nas celas dos eremitas cristãos.

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Escavações arqueológicas no Alto da Vigia - Santuário Romano consagrado ao Sol, à Lua e ao Oceano, no promontório que separa a Praia das Maçãs da Praia Pequena.

Escavações arqueológicas no Alto da Vigia – Santuário Romano consagrado ao Sol, à Lua e ao Oceano, no promontório que separa a Praia das Maçãs da Praia Pequena.

Na construção islâmica foram reutilizadas lápides romanas, algumas inteiras, outras só parcialmente partidas, mas no seu lugar foram colocadas réplicas em cor rosa, com as originais preservadas no MASMO.

Do religioso guerreiro que liderava este “ribat” nada se sabe, mas esta ocupação ocorreu durante um episódio histórico importante, quando barcos vikings saquearam a costa de Sintra, no século XII.

Os vestígios do santuário romano demonstram que a consagração ao sol e à lua também incluiu o oceano e que a sua fundação terá ocorrido um século antes do que se presumia, em inícios do império, por volta de 27 a.C.

“Não temos aqui um templo local, apesar de Olisipo ser um município importante, e Lisboa ter sido a única cidade da Lusitânia à qual foi conferido o direito romano, idêntico ao de Roma”, frisou Cardim Ribeiro.

O investigador do MASMO não tem dúvidas de que a importância desta descoberta transcende a realidade local, nacional e ibérica, sendo fundamental para “o estudo de todo o império romano”.

/Lusa

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