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Relatório final de Camarate reafirma tese: foi atentado

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Alfredo Cunha / Lusa

Queda do avião Cessna que transportava Sá Carneiro e Amaro da Costa em Camarate, 4 de Dezembro de 1980

Queda do avião Cessna que transportava Sá Carneiro e Amaro da Costa em Camarate, 4 de Dezembro de 1980

O relatório final da X Comissão Parlamentar de Inquérito à Tragédia de Camarate reafirma a tese de atentado e aponta “lacunas” à atuação da Polícia Judiciária e da Procuradoria-Geral da República.

O documento, previsto ser votado esta terça-feira na especialidade e na sexta-feira em sessão plenária, poderá ainda incorporar algumas sugestões de alteração, já expressas pelos grupos parlamentares de CDS-PP, PCP e também pelos representantes dos familiares das vítimas.

“A queda do avião em Camarate, na noite de 4 de dezembro, deveu-se a um atentado“, lê-se nas conclusões finais do texto, cujo deputado relator foi o social-democrata Pedro do Ó Ramos.

Há 35 anos, o então primeiro-ministro e o seu ministro da Defesa, respetivamente Francisco Sá Carneiro (PPD) e Adelino Amaro da Costa (CDS), morreram, tal como a tripulação e restante comitiva, a bordo de um Cessna 421 A, despenhado pouco depois de levantar voo de Lisboa, rumo ao Porto, para um comício.

O inquérito voltou a debruçar-se sobre a noite os acontecimentos do final de 1980, em plena campanha presidencial, na qual a Aliança Democrática (PPD/PSD, CDS e PPM) apoiava Soares Carneiro, derrotado posteriormente por Ramalho Eanes.

O relatório realça também que “foi evidenciado, com elevado grau de confiança, que José Moreira e Elisabete Silva foram assassinados no início de janeiro de 1983″.

O dono do avião utilizado na campanha presidencial de 1980, José Moreira, e sua companheira foram encontrados mortos no seu apartamento, em Carnaxide, em 05 de janeiro de 1983, dias antes de aquele engenheiro ir testemunhar, também em comissão parlamentar de inquérito, sobre a queda do bimotor norte-americano, depois de ter afirmado possuir informações relevantes sobre o assunto.

A atuação da PJ na investigação à morte de José Moreira e Elisabete Silva foi deficiente e apresentou lacunas inequívocas, sendo difícil crer que se tenha devido, apenas, a eventuais descuidos”, refere o documento.

PSD / Flickr

O fundador do PPD/PSD e falecido primeiro-ministro, Francisco Sá Carneiro

O fundador do PPD/PSD e falecido primeiro-ministro, Francisco Sá Carneiro

Ainda segundo o texto, “a atuação da PGR, designadamente no inquérito disciplinar de 1992 à atuação da PJ e do Instituto de Medicina Legal, no caso da morte de José Moreira e Elisabete Silva, foi, também ela deficitária, com gritantes e evidentes lacunas, sendo igualmente difícil crer que se tenha devido, apenas, a eventuais descuidos”.

Porém, a comissão de inquérito conclui que “não foi possível estabelecer um nexo de causalidade entre a sua morte de José Moreira e o atentado que vitimou, entre outros, o Primeiro-Ministro e o Ministro da Defesa”.

Relativamente ao Fundo de Defesa Militar do Ultramar, cujas supostas irregularidades estariam a ser investigadas na altura por Amaro da Costa, o documento reconhece que o mesmo “permaneceu ativo, sob a forma de um fundo privativo até 1993, tendo sido utilizados cerca de 481 milhões de escudos neste período sem qualquer escrutínio”.

“O saldo inicial do fundo privativo, em 1981, e calculado aos dias de hoje, equivaleria a cerca de 30 milhões de euros. O saldo final, em 1993, corresponderia a cerca de 25 mil euros”, lê-se.

O relatório confirma ainda “o transbordo de armas para o Irão em 1980 e a exportação de armas para o mesmo país, pelo menos, em 1980 e 1981, mesmo após o corte de relações comerciais e com a inexistência de autorização de exportação de armamento por parte do Ministro da Defesa”.

A comissão parlamentar de inquérito recomenda ainda à Assembleia da República “a digitalização de todo o espólio documental relativo ao atentado e posterior colocação de todo o acervo no sítio oficial do Parlamento”.

/Lusa

8 Comments

  1. Cheguei a pensar que seriam necessários muitos anos para depois da morte natural de alguém ou alguns vir à luz o que aconteceu… Afinal, penso que é a primeira vez, a relevância dada à “coincidência”, dos donos do Cessna – Engº José Moreira e Elisabete Silva – que dias antes de ser ouvido teria dito que detinha informação relevante para o processo, foram eles assassinados e encontrados mortos no seu apartamento, dias antes de serem ouvidos.

  2. X comissões para repetir o mesmo “foi atentado” quanto custaram essas comissões ?
    donos do cessna assassinados hum mãozinha dos senhores da central de inteligência dos donos do mundo ?

  3. Aqui como em muitos casos similares pelo mundo fora, existe mão da Maçonaria Satânica. Eles contratam mercenários assassinos para fazer este tipo de trabalhinho….
    Democracia???!!! Onde???

    Peor que viver em Ditadura é viver numa Democracia ilusória….

    • Isto não é novidade nenhuma para quem segue o caso e anda a par das “teorias” da conspiração.
      O que é certo é que as ditas “teorias” se têm vindo a revelar FACTOS.
      Essa gente é capaz de muita atrocidade, mas hão de pagar pela justiça, quanto mais não seja pelo Karma, todo o mal que cometeram aos outros!

  4. Ano sim, ano não, vão mudando… Este ano é, pró ano já não… Gastar o nosso dinheiro atrás daquilo que já é um “mito urbano”… Para quê? Não há mais nada que investigar? Sei lá… O caso Sócrates?…

  5. Quando é que paramos de gastar dinheiro com uma PALHAÇADA que já dura há quase quarenta anos? Eu digo PALHAÇADA porque todos sabem o que aconteceu. Será que há interesses escusos e, por isso, continuar? Há alguém a ganhar dinheiro com isto? São algumas das perguntas que ficam no ar. Acho que é tempo de partir para outra, porque o País tem mais onde gastar o pouco dinheiro que temos. Estão a chegar as eleições e… Já agora, alguém se tem importado com o caso Bolama onde famílias pobres que nada receberam das companhias de seguro porque os corpos dos seus entes queridos não apareceram? Vamos parar para pensar. PORQUÊ?????

  6. Fundos de guerra “ultramar”!?!
    Bolama ou Camarate… As culpas não devem morrer solteiras. Assim como décadas depois da 2ª Grande Guerra pela memória dos “esquecidos” houve sentenciados… A memória deve ser futura… Deve prevalecer viva.

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