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Radovan Karadzic condenado a 40 anos de prisão por genocídio na Bósnia

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Mikhail Evstafiev / Wikimedia

Radovan Karadzic, ex-líder dos sérvios bósnios

Radovan Karadzic, ex-líder dos sérvios bósnios

Radovan Karadzic foi considerado culpado do genocídio de Srebrenica de 1995 e de outros nove crimes de guerra, tendo sido sentenciado a 40 anos de prisão pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia (TPIJ).

O ex-líder dos sérvios da Bósnia, atualmente com 70 anos, foi condenado pelo TPIJ, com sede em Haia (Holanda), tendo sido considerado culpado de 10 das 11 acusações que sobre ele pendiam por genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra cometidos durante a guerra na Bósnia, que entre abril de 1992 e novembro de 1995 provocou mais de 100 mil mortos e 2,2 milhões de deslocados.

O juiz Gon Kwon proferiu a sentença após ter rejeitado uma das duas acusações de genocídio, em sete municipalidades da Bósnia.

Mais de 20 anos após o fim da guerra civil na Bósnia-Herzegovina, Karadzic torna-se o mais alto responsável a ser condenado por genocídio durante as guerras jugoslavas por este tribunal, uma instituição judicial ad hoc da ONU.

Esta sentença poderá ter um enorme impacto para as organizações das vítimas e a opinião pública de Sarajevo, que em 2008 celebrou a sua detenção.

De acordo com a acusação, Radovan Karadzic pretendia dividir a Bósnia e “expulsar em definitivo os muçulmanos e croatas dos territórios reivindicados pelos sérvios da Bósnia”.

Do lado sérvio, muitos consideram que a sentença poderá ser explorada de forma nacionalista pelo governo de Banja Luka, capital da entidade sérvia da Bósnia.

“Limpeza étnica”

Radovan Karadžić estava acusado de genocídio pelo massacre de cerca de oito mil homens e adolescentes muçulmanos em Srebrenica em julho de 1995, e que segundo a acusação se inscrevia no plano de “limpeza étnica” planificado por Karadzic, por Ratko Mladic (o chefe militar dos sérvios bósnios, que também está a ser julgado no TPIJ) e por Milosevic após o desmembramento da Jugoslávia.

Foi ainda acusado de genocídio em outros municípios da Bósnia, mas também deve responder por perseguições, mortes, violações, tratamentos inumanos ou transferências forçadas de populações.

A acusação também lhe atribuiu a responsabilidade pelo cerco de Sarajevo, que se prolongou por 44 meses e provocou 10 mil mortos, além dos campos de detenção com “condições de vida inumanas”.

Em entrevista concedida na quarta-feira ao BIRN, uma rede digital de jornalistas da região balcânica, o ex-líder sérvio bósnio disse que esperava ser absolvido e assegurou que manteve um “combate permanente pela paz”, considerando que a “ingerência de potências estrangeiras na crise” impediu um acordo político antes do início da guerra, em abril de 1992.

Em janeiro e março de 1992, Karadzic participou na miniconferência de paz mediada pelo embaixador português José Cutileiro, em Lisboa, juntamente com os então líderes muçulmano e croata bósnios, Alija Izetbegovic e Mate Boban, que resultou na assinatura do “Acordo de Lisboa” – que nunca chegou a ser concretizado.

Após ter-se considerado “não culpado” perante a instância judicial em março de 2009, o seu processo com mais de 47.500 páginas de transcrições e 115 mil páginas de elementos de prova terminou em outubro de 2014, na sequência de 497 dias de audiências e 586 testemunhas.

Karadzic manteve sempre a sua posição no decurso do julgamento e no final de 2012 declarava aos juízes do TPIJ: “Fiz tudo o que era humanamente possível para evitar a guerra e reduzir o sofrimento humano”.

ZAP

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