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Produto de Guterres, promovido por Sampaio, Costa arrebatou o PS

TD luismiguelmartins / Flickr

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António Costa, eleito este domingo candidato a primeiro-ministro pelo PS nas próximas legislativas, foi na juventude formado politicamente por Guterres e ascendeu à direção dos socialistas pela mão de Sampaio logo em 1986, durante a liderança de Constâncio.

Presidente da Câmara Municipal de Lisboa desde 2007, António Costa venceu nas eleições primárias do PS – as primeiras abertas a simpatizantes deste partido -, o seu mais antigo rival, António José Seguro, com quem entrou em rutura logo em 1984, altura em que ambos fizeram parte de um Secretariado Nacional da Juventude Socialista (JS), então liderado por José Apolinário.

Após se ter recusado a suceder a José Sócrates em junho de 2011 na sequência da derrota dos socialistas nas últimas eleições legislativas e de ter estado à beira de se candidatar à liderança do seu partido no início de 2013, António Costa prepara-se agora para suceder a Seguro no cargo de secretário-geral do PS.

Apontado com frequência ao longo dos últimos 12 anos como potencial líder do PS, o presidente da Câmara de Lisboa decidiu entrar na corrida pela liderança depois das eleições europeias de maio deste ano, argumentando que “à derrota histórica da coligação PSD/CDS não correspondeu uma vitória do PS com idêntica dimensão”.

Apesar de ter sido apoiado pelas principais figuras históricas socialistas, caso dos ex-presidentes da República Mário Soares e Jorge Sampaio, Costa teve de suportar três meses e meio de intenso conflito aberto com os apoiantes de Seguro, período em relação ao qual confessou publicamente ter aprendido “uma grande lição“, designadamente sobre manobras estatutárias e violência de debate.

C.M. Lisboa

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa

Filho da jornalista Maria Antónia Palla e do escritor e técnico de publicidade Orlando Costa, goês e militante do PCP, António Luís Santos da Costa nasceu em Lisboa, a 17 de julho de 1961.

Aos dez anos, com o pseudónimo “Babuch” (menino, em dialeto concani, de Goa), já escrevia críticas de televisão para Século Ilustrado e conta que decidiu ser socialista aos 12 anos. Foi também com essa idade que a personagem de policiais Perry Mason o “convenceu” a tornar-se advogado.

Aos 14 anos inscreveu-se na JS, estrutura em que iniciou uma atividade política sempre acompanhada de perto pelo atual alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), António Guterres, ganhando especial notoriedade no movimento académico e ao dinamizar a Convenção da Esquerda Democrática em 1985.

Licenciado em Ciências Jurídico-Políticas pela Faculdade de Direito de Lisboa e com uma pós-graduação em Estudos Europeus pela Universidade Católica, o político com quem Mário Soares disse mais se identificar “enquanto jovem” esteve a partir de meados da década de 80 ligado ao sampaísmo, do qual se distanciou apenas nos governos de Guterres.

António Costa estagiou no escritório de advogados de Jorge Sampaio, chegou à direção nacional do PS em 1986 pela sua mão, integrando uma equipa chefiada por Vítor Constâncio, apoiou sempre Sampaio para a liderança do partido, e foi o seu diretor de campanha nas presidenciais de 1996.

Ministro dos Assuntos Parlamentares e da Justiça nos dois governos liderados por Guterres, Costa continuou a ser um dos principais rostos dos socialistas a partir de 2002, ficando à frente da bancada socialista no parlamento, durante a liderança de Ferro Rodrigues.

Em 2004 candidatou-se ao Parlamento Europeu em segundo lugar da lista do PS, numa eleição em que os socialistas conseguiram maioria absoluta em mandatos, mas em que o cabeça de lista, o antigo ministro das Finanças Sousa Franco, faleceu em plena campanha, após incidentes entre socialistas na lota de Matosinhos.

Com José Sócrates como líder do primeiro Governo socialista de maioria absoluta, Costa foi o “número dois” desse executivo, desempenhando as funções de ministro de Estado e da Administração Interna.

Benfiquista, agnóstico, casado e com dois filhos, António Costa é definido como um político seguro de si, irrequieto, persistente e temperamental.

Dá murros na mesa e eleva a voz nas discussões mais acesas e é elogiado pela habilidade política e capacidade de negociação.

Outros chamam-lhe “manobrador e maquiavélico” e chegam a compará-lo ao russo Rasputine, pelo prazer que lhe dão os jogos de bastidores, imagem que se acentua quando confessa a sua admiração pelo ex-presidente do PSD Marcelo Rebelo de Sousa, de quem foi aluno.

António Costa aponta como modelos os antigos governantes Churchill e Gorbatchov, “por terem introduzido grandes e importantes mudanças no século XX”, bem como o antigo-primeiro-ministro francês Michel Rocard, este último “pela capacidade de renovação das ideias socialistas”.

A 28 de setembro de 2014, nas primeiras eleições primárias para escolha de um candidato a primeiro-ministro em Portugal, António Costa arrebatou o PS, vencendo com 68% dos votos.

ZAP / Lusa

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