Potencial comprador da Tap só pode ser chinês

aero_icarus / Flickr

Avião TAP Air Portugal Airbus A319-111 no aeroporto de Dusseldorf

Avião TAP Air Portugal Airbus A319-111 no aeroporto de Dusseldorf

O ex-presidente da Portugália, João Ribeiro da Fonseca, não acredita que a nova tentativa de privatizar a TAP se concretize e defende que apenas a fusão com uma companhia aérea chinesa serve os interesses da empresa portuguesa.

“Um potencial comprador só pode ser chinês, porque a China tem capital, tem estratégia e tem mercado. A China precisa de vir para o Atlântico, precisa de uma plataforma logística que lhe faça a distribuição para o Atlântico”, afirmou em entrevista à Lusa Ribeiro da Fonseca, que liderou os destinos da Portugália durante 16 anos e continua a presidir à assembleia da Associação Portuguesa de Transporte e Trabalho Aéreo (APPTA).

Defensor da privatização da TAP, João Ribeiro da Fonseca recusou-se a fazer “avaliações individuais” aos potenciais interessados veiculados pela imprensa, estando convicto de que ainda não será nesta legislatura que a companhia vai deixar de ser pública.

Não acredito que a TAP vai ser vendida. E não vislumbro em nenhum candidato o parceiro ideal” para a companhia portuguesa, declarou.

Para o gestor, a TAP precisa de capital, mercado e estratégia, considerando que apenas “uma aliança” com uma companhia aérea chinesa pode dar isso à transportadora nacional: “A China precisa de nós e nós precisamos de um chinês”.

“Depois vêm dizer que os chineses vêm tomar conta disto e o que é que isso interessa? Nós não precisamos de dinheiro? Eles têm coisas óptimas para nós e nós muitas coisas boas para eles”, lançou.

Na entrevista à Lusa, Ribeiro da Fonseca mapeou o panorama do setor da aviação, considerando que “não há parceiros disponíveis na Europa”, porque “já todos acasalaram”, dando origem a três grandes grupos.

“Depois temos os EUA, mas estão interessados na Ásia e na América do Sul, que, por seu lado, não têm dinheiro nem força em termos de transporte aéreo”, prosseguiu, “e a América do Sul está num processo de recuperação e a sua grande prioridade é a América do Norte”.

Fica a faltar o Médio Oriente, que “tem muito capital e uma estratégia, mas não tem mercado, o que comporta um grande risco, porque compram e vendem no dia seguinte”, disse.

Na perspectiva do gestor, “resta a Ásia e, mais concretamente, a China”.

Nesse sentido, adiantou, o Governo deveria “fazer um ‘roadshow’ bem preparado, uma apresentação como deve ser, porque é preciso mostrar a importância que Portugal tem estrategicamente para China, não só pela geografia, mas também pelas infra-estruturas”, nomeando o porto de águas profundas de Sines e o Aeroporto de Lisboa.

Quando em 1991 assumiu a presidência da Portugália, Ribeiro da Fonseca foi informado – pelo então ministro dos Transportes Ferreira do Amaral – de que a TAP ia ser privatizada.

“Estive lá 16 anos. Conheci pelo menos oito ministros dos Transportes. Passados 23 anos, a TAP continua à venda”, disse o deputado pelo CDS na assembleia municipal de Cascais, realçando que o adiamento da venda pode ser fatal para a companhia liderada por Fernando Pinto.

O responsável deixa uma chamada de atenção aos “gurus que dizem que a TAP é como a caravela dos descobrimentos e que é fundamental para o turismo”: “Se a TAP morrer amanhã, no dia seguinte aparecem outras companhias para a substituir”.

“Temos que vender, mas não pode ser a qualquer um. E, se não houver nenhum comprador, não vendemos. É preciso responsabilizar toda a gente e também os senhores dos sindicatos. Porque se não acontecer a companhia morre. Não vejo outra saída”, concluiu.

Em Novembro último, o Governo decidiu relançar o processo de privatização da TAP, suspenso em Dezembro de 2012, optando pela venda direta em duas fases – a primeira de até 66% do capital para avançar de imediato, devendo estar concluída ainda no primeiro semestre.

A capitalização é o primeiro de nove critérios para a escolha do futuro dono da TAP, seguido pelo valor da oferta e o projecto estratégico, segundo o caderno de encargos, que não fixa prazos para a manutenção do centro de operações em Portugal.

/Lusa

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