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Poderá ter sido descoberta a causa da maior erupção jamais vista pelo Homem

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R. Clucas / Wikimedia

Erupção do super-vulcão Redoubt vista de península de Kenai, no Alasca, 1990

Erupção do super-vulcão Redoubt vista de península de Kenai, no Alasca, 1990

Há 73 mil anos, o super-vulcão indonésio Toba teve uma erupção cataclísmica que devastou toda a região. A erupção foi a maior alguma vez vista na história da humanidade, e o seu impacto que poderá ter causado alterações do clima a nível planetário.

Agora, um novo estudo de uma equipa internacional de investigadores da Universidade de Uppsala, na Suécia, publicado na Scientific Reports, revela o que provoca as arrasadoras erupções dos super-vulcões, que podem produzir erupções cataclísmicas capazes de devastar grandes regiões e causar enormes alterações climáticas.

Segundo os autores do estudo, as pistas para explicar estas erupções cataclísmicas encontram-se no interior de cristais vulcânicos de quartzo.

O vulcão indonésio do Lago Toba teve uma destas erupções há cerca de 73 mil anos, emitindo 2800 km3 de cinzas para a atmosfera, que cobriram totalmente vastas áreas da Indonésia e Índia.

Há muito que os cientistas procuram descobrir qual o mecanismo que desencadeia estas super-erupções, em que quantidades extraordinárias de magma são produzidas e emitidas violentamente.

No estudo agora publicado, os investigadores analisaram informação contida em cristais  de quartzo provenientes de cinzas e rochas vulcânicas da erupção do vulcão do lago Toba.

Estes cristais de quartzo, que se formam no magma, registam as variações químicas e termodinâmicas do sistema magmático que se verificam antes das erupções – tal como os anéis de crescimento das árvores registam as alterações climáticas e a composição da atmosfera e dos solos.

Quando as condições no magma se alteram, os cristais respondem e produzem zonas de crescimento distintas, que gravam essas variações.

Na análise destes cristais os investigadores descobriram uma mudança na composição isotópica do quartzo nas margens do cristal, que contêm uma proporção relativamente mais baixa do isótopo pesado 18O em comparação com o 16O, mais leve.

Troll et al / Uppsala University

Os investigadores analisaram as diferenças de composição isotópica de cristais de quartzo recolhidos do vulcão Toba

Os investigadores analisaram as diferenças de composição isotópica de cristais de quartzo recolhidos do vulcão Toba

Segundo a geóloga e mineralogista Frances Deegan, uma das autoras do estudo, a baixa proporção de oxigénio 18O relativamente ao 16O contido nas margens dos cristais indicam que algo no sistema magmático mudou drasticamente antes da cataclísmica erupção.

“Estas assinaturas geoquímicas são explicadas pelo facto de o magma, ao fundir, poder ter assimilado um grande volume de uma rocha encaixante que se caracteriza por uma relação relativamente baixa de 18O para 16O”, explica a investigadora, citada pela Phys.org.

Estes tipos de rocha contêm, muitas vezes, uma grande quantidade de água, que pode ser libertada no magma, produzindo vapor e provocando um aumento da pressão do gás no interior da câmara magmática.

Este rápido aumento da pressão do gás acaba por permitir que o magma frature a crosta sobreposta e envie milhares de quilómetros cúbicos de magma para a atmosfera.

O professor Valentin Troll, outro dos autores do estudo, realça que os biólogos já mostraram que a erupção do Toba quase levou à extinção da humanidade. Segundo a “teoria da super-erupção catastrófica do Toba”, a massiva erupção do vulcão indonésio mudou a história da Humanidade, ao reduzir drasticamente a população há 73 mil anos.

“Felizmente, este tipo de erupções cataclísmicas não ocorre com muita frequência”, ressalva o investigador, “mas é apenas uma questão de tempo até que aconteça a próxima super-erupção. Poderá ser em Toba, na Indonésia, ou poderá ser no parque Yellowstone, nos Estados Unidos. Ou em qualquer outro lugar“.

AJB, ZAP // Phys.org / CVARG UAC

4 Comments

  1. Parabéns ao PK e ao Carlos pela sua atenção. De facto os jornalistas quando “pegam” em números dá sempre para o disparate. É vulgar com os “homens das letras”, não diferenciam 1 m3 de um carro de bois. Felizmente há alguém atento.

    • Carlos, PK e Luis TP, obrigado pelo reparo. Têm toda a razão, está corrigido.
      p.s. Por acaso, este vosso editor até é “homem das ciências” – o que só agrava o caso 😐

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