Os seis escândalos que mancham o percurso político de Sarkozy

Paul Gogo / Flickr

Nicolas Sarkozy, ex-Presidente francês

A investigação de uma suposta rede de tráfico de influência levou o ex-Presidente francês Nicolas Sarkozy a ser detido esta terça-feira, numa ação sem precedentes na História do país.

Este caso é apenas um dos processos judiciais em que está envolvido um dos homens mais poderosos de França, que é também investigado por financiamento irregular de campanha, contratação de serviços sem licitação e influência em arbitragem litigiosa a favor de empresário francês.

No entanto, numa entrevista ao canal TF1 e à rádio Europe 1 transmitida esta quarta-feira, Sarkozy diz que “a situação é muito grave, e devo dizer ao povo francês que hoje estamos diante de uma exploração política do sistema judiciário“.

“Digo a todos aqueles que estão a ouvir-me que eu nunca traí ou cometi qualquer ato contra os princípios da República e do Estado de direito.”

Sarkozy diz-se “profundamente chocado” com a investigação e acusa o sindicato dos magistrados de tentar destruí-lo. “Tudo está a ser feito para imputar-me uma reputação que não é verdadeira”, afirmou.

Eis os casos que estão a manchar a carreira política de Sarkozy e podem afetar o seu futuro político:

1. Tráfico de influências

No caso que despoletou a sua detenção esta semana, Sarkozy é suspeito de acompanhar indevidamente o andamento de investigações ligadas a processos judiciais anteriores contra si – como a acusação de financiamento ilegal de campanha – através de uma rede de informantes na polícia e na própria Justiça francesa.

Sarkozy também teria prometido ajudar um magistrado do Tribunal de Cassação (Supremo Tribunal de Justiça francês), Gilbert Azibert, a obter um cargo prestigioso no Mónaco em troca de informações sobre esses processos.

O ex-presidente foi detido na terça-feira para interrogatório – a primeira vez que a Justiça francesa prende um ex-chefe de Estado.

2. Caso Tapie

Em julho de 2008, o empresário Bernard Tapie recebeu uma indemnização multimilionária do governo francês numa decisão jurídica controversa.

No litígio entre Tapie e o banco Crédit sobre a venda da empresa Adidas, a Justiça decretou que o governo francês deveria pagar 430 milhões de euros ao empresário.

Está em investigação se o empresário foi favorecido pelos juízes do caso, com aval do executivo. Cinco pessoas foram acusadas de “fraude em grupo organizada” pelo caso. O ex-presidente rejeitou as acusações contra si.

Tapie entrou na política na década de 1980, ao lado do socialista François Mitterrand, mas acabou a apoiar o conservador Nicolas Sarkozy nas eleições de 2007.

3. Financiamento líbio

Outro caso que envolve Sarkozy é o suposto financiamento ilegal recebido da Líbia na campanha eleitoral vitoriosa de 2007, contra a socialista Ségolène Royal.

Poucos antes de sua morte, o ex-chefe de Estado líbio Muammar Kadhafi admitiu ter financiado a campanha do ex-presidente.

A imprensa francesa publicou documentos oficiais que supostamente mostram que o ex-líder líbio autorizou o pagamento de 50 milhões de euros para a campanha. O caso está em investigação desde 2013. Sarkozy nega as acusações.

4. Pesquisas de opinião

Sarkozy também está ligado ao escândalo das “pesquisas de opinião do Palácio do Eliseu”, em que a Justiça investiga a suposta irregularidade dos contratos com as empresas sem licitação pública, com suspeitas de favoritismo e de desvio de dinheiro público.

Documentos revelam que 9,4 milhões de euros foram gastos em centenas de pesquisas de opinião realizadas durante a presidência de Sarkozy.

Uma boa parte delas foi feita sem licitação e beneficiou o escritório de consultoria política de um amigo do ex-Presidente, o jornalista Patrick Buisson, ligado à extrema direita e que foi seu conselheiro durante a campanha presidencial de 2012.

Neste caso, Sarkozy ainda continua a salvo, na avaliação da Justiça, pela imunidade presidencial. No entanto, pode ser ligado ao caso se a Justiça determinar que as pesquisas tiverem sido feitas por motivos pessoais ou partidários, de acordo com advogados de uma associação anticorrupção que apresentou uma queixa sobre o caso.

5. Bettencourt e financiamento de campanha

O ex-presidente foi investigado por ter recebido dinheiro da herdeira multimilionária do grupo de cosméticos L’Oreal, Liliane Bettencourt, dona da segunda maior fortuna da França, para a campanha de 2007. Em outubro de 2013, a justiça concluiu que não existiam provas contra Sarkozy sobre o caso.

No mesmo mês, contudo, outro caso envolvendo financiamento de campanha foi aberto contra o ex-Presidente.

Sarkozy é investigado por desvio de dinheiro público sobre o financiamento de um comício no sul do país no final de 2011. O comício não está descrito nos gastos da campanha. A Justiça investiga ainda se os gastos da campanha presidencial de 2012 ultrapassam o limite legal autorizado.

6. Campanha de ex-Primeiro-ministro

Outro processo de investigação envolvendo o nome de Sarkozy é o financiamento da campanha do ex-Primeiro-ministro Edouard Balladur, em 1995.

Sarkozy era então ministro das Finanças de Balladar e assinou uma série de contratos para a venda de armas para o Paquistão e a Arábia Saudita. A Justiça investiga se esses contratos teriam sido usados para financiar a campanha presidencial de Balladur, que não chegou a passar para o segundo turno na campanha. Mais uma vez, Sarkozy rejeitou a acusação.

ZAP / BBC

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