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Os livros escolares mais baratos estão ali no restaurante

Mário Cruz / Lusa

Uma jovem acompanhada pela mãe observa um livro que recebeu num banco de partilha gratuita de livros

Uma jovem acompanhada pela mãe observa um livro que recebeu num banco de partilha gratuita de livros

Vasco correu três bancos de manuais escolares em apenas um dia e chegou a casa de mãos a abanar enquanto José, novo nestas andanças, encontrou dois livros logo no primeiro banco e poupou 70 euros.

O preço dos manuais escolares voltou a subir e para muitas famílias, especialmente as que têm filhos no 3.º ciclo ou no secundário, o início do ano letivo pode representar um custo superior a 300 euros.

Por isso, a menos de um mês do início do ano escolar em todo o país, há cada vez mais famílias a recorrer aos Bancos de Manuais Escolares, que recebem e entregam gratuitamente livros em segunda mão.

Por volta das três da tarde, do lado de fora do restaurante lisboeta Bem-Me-Quer, na Almirante Reis, há uma fila de pessoas.

Ninguém quer almoçar. Estão ali na esperança de encontrar os livros para os seus filhos.

Todos têm uma lista com os nomes dos manuais. Alguns ainda têm a folha imaculada, outros têm alguns títulos riscados, sinal que já encontraram alguns livros noutros bancos.

Vasco Marques está no fim da fila, já tem a folha escrita, mas é com os preços de cada livro. Estima que se fosse a uma papelaria gastaria mais de 300 euros.

“No ano passado, os livros também iam custar cerca de 300 euros mas consegui arranjá-los praticamente todos”, conta à Lusa, explicando que teve de comprar apenas dois e pagar cerca de 70 euros.

Mário Cruz / Lusa

Jovens voluntários entregam livros a um estudante num banco de partilha gratuita de livros escolares

Jovens voluntários entregam livros a um estudante num banco de partilha gratuita de livros escolares

Este é também o valor que José Almeida acabou de poupar com a visita ao banco da Almirante Reis, onde encontrou precisamente dois manuais. É a primeira vez que recorre a este serviço e diz que os manuais da filha, que vai agora entrar no 10.º ano, custam 390 euros.

“Vamos a outros bancos ver se encontramos o resto dos livros. Este foi o primeiro sítio a que viemos e está a correr bem”, conta José Almeida, enquanto os voluntários tentam dar resposta a outros pedidos.

É que neste banco, o mais antigo de Lisboa, a procura dos manuais é feita por dois estudantes num armazém improvisado no 1.º andar do restaurante, onde os livros estão arrumados por anos letivos e disciplinas.

Os encarregados de educação entregam a folha com os manuais que procuram e aguardam, ansiosos, à entrada do restaurante pelo regresso de João Alves ou Ruben Henriques.

“Quando as pessoas vêm cá e a gente procura e depois chega lá abaixo e diz não temos ou temos poucos, é um bocado triste”, lamenta Ruben Henriques, aluno de 15 anos da Escola Gago Coutinho.

O outro voluntário, João Alves, também fica desconsolado quando não tem boas notícias, mas critica especialmente as constantes alterações aos manuais: “Há escolas que pedem livros não muito antigos, de 2013 ou 2014, e nós depois não temos e as pessoas saem daqui um bocado tristes”, desabafa.

A maioria dos pais correm todos os bancos até encontrar o que procuram. “Há sempre livros a entrar e a sair” e por isso há pais que aparecem mais do que uma vez, explica Paula Gamito, dona do restaurante e responsável pelo banco da Almirante Reis, um dos cerca de 200 espaços existentes no país.

“Há famílias que conseguem encontrar os livros todos, outras vem todos os dias e nunca encontram e depois, de repente, no último dia encontram e ficamos todos muito felizes”, acrescenta.

O banco de Paula Gamito vai estar a funcionar até outubro e, no final, os manuais desatualizados, que se revelem inúteis para os estudantes, voltam a ser úteis. Serão entregues ao Banco Alimentar, que os troca por alimentos.

/Lusa

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